Capítulo Dez - Hannah

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Respirar é uma tarefa difícil, mas, de algum modo, Frank consegue me acalmar segurando a minha mão. Porém, no momento em que ele soltou para que pudesse dirigir, senti todo o nervosismo e o medo me preencherem novamente. O que está acontecendo comigo?

Sinto lágrimas rolarem pelos meus olhos. Segurá-las já não é mais uma opção. O ar está me faltando e escuto a voz de Frank tentando me acalmar. Mas o medo de perder uma das pessoas que amo é mais sufocante do que qualquer coisa.

Não sei como consigo arrumar ar para falar, mas peço para Frank ligar para Beth assim que chegássemos ao hospital.

Preciso da minha melhor amiga agora, mais do que nunca precisei. Minha mãe nunca tinha dado indícios de ser uma pessoa com uma saúde ruim, muito pelo contrário, e é por isso que está sendo tão chocante.

♥♥♥

Frank para o carro no estacionamento do hospital, em uma vaga preferencial para médicos, e, por um minuto, percebo que havia esquecido que ele é um médico.

Ele sai do carro e eu ainda fico sentada. E se minha mãe não conseguir? Quero dizer, eu imagino que ela vá porque Frank está chamando um dos melhores cardiologistas que ele conhece, mas, mesmo assim, o pavor está me dominando. Sinto como se eu não conseguisse respirar, e que todo o ar está preso dentro de minha garganta. Estou tão distraída comigo mesma que me assusto quando Frank bate na janela e abre a porta em seguida.

— Está tudo bem – ele diz. Sua voz macia e rouca consegue me acalmar por uns instantes, mas por poucos. Ele me leva pela mão para dentro do hospital e descubro que minha mãe já está sendo levada para o atendimento.

Até que o médico vem falar comigo... e uma sensação de familiaridade me abate. Já acostumada com o reencontro com Frank, não ligo muito ao ver que o cardiologista é extremamente parecido com o velho Caleb.

É engraçado pensar que essas pessoas que fizeram tanta questão de me rebaixar há anos, estão salvando vidas agora. Caleb parece ter um leve choque quando me vê, mas não deixa seu profissionalismo de lado quando me reconhece. Não posso deixar de admirar isso nele e sei que ele, definitivamente, é um bom candidato para cuidar da minha mãe.

Caleb já não está mais por perto, apenas Frank, que espera na recepção comigo.

— Você vai ter um treco se continuar balançando as pernas desse jeito — ele diz, me tirando de meus devaneios. É a segunda vez que ele me assusta hoje!

— Eu estou bem.

Ele junta as sobrancelhas e morde os lábios. É claro que ele não acreditou no que eu disse.

— Aham, sei. Muito bem. Importa-se de ir comigo até um lugar? — ele estende sua mão para mim e já não está mais sentado ao meu lado, e sim em pé, esperando que eu o acompanhe.

— Eu quero esperar notícias da minha mãe – retruco.

— Caleb ainda está com ela. Eles não vão demorar muito mais e você precisa se distrair.

Eu não quero sair, não quero parecer rude ao recusar, mas eu quero saber da minha mãe. Respiro fundo. Frank se ajoelha para que possa ficar da minha altura já que estou sentada em uma cadeira da sala de espera. Ele não toca em mim, mas a troca de olhar tão intensa me faz mudar de ideia, mesmo que receosa.

A razão me fazia ficar ali, esperando por notícias, mas ele queria fazer uma boa ação para que eu pudesse me distrair. Não seria nada mal da minha parte aceitar, ou seria? Deixei meu coração me guiar dessa vez. Respiro fundo e aceito a mão que Frank estendeu. Ele sabe que mudei de ideia e se levanta-. Eu o acompanho.

Pegamos o caminho que eu já conhecia até a parte externa; a cafeteria, mas dessa vez não vamos comprar um café, e sim para um jardim. Não havia percebido aquele lugar, talvez por ter ficado tão pouco tempo.

— Temos esse jardim no fundo do hospital porque, na teoria, nem os próprios médicos aguentam ficar muito tempo lá dentro – Frank explica. — mas, na prática, ninguém vem até aqui, exceto... eu.

— Porque ninguém vem? – pergunto curiosa, enquanto nos sentamos em um banco.

— Porque quando os médicos saem do hospital, eles vão para suas próprias casas. Isso aqui costuma ser mais para os pacientes que estão internados por muito tempo – revela.

— E você não tem ninguém te esperando em casa? – pergunto, mas logo penso que posso ter passado um pouco dos limites com essa pergunta.Frank não parece se abalar.

— Eu costumava ter – ele diz, mas não voltamos mais ao assunto. Acabamos a conversa assim e ficamos observando o belo jardim à nossa frente.

Sinto a mão de Frank sobre meu ombro, mas não faço nada para tirá-la dali, aproveito a sensação de conforto e coloco minha cabeça apoiada em seu ombro. E definitivamente, se Frank não tivesse tomado a iniciativa, eu não iria nem pensar em fazer isso.

Alguns minutos depois, sinto um carinho gostoso em minha cabeça... Ele está mexendo nos meus cabelos e sorrio. Mesmo nosso passado tendo sido desastroso, reconheço as sensações que o menor toque dele causa em mim.

Engulo em seco quando as recordo, mas não forço nosso afastamento. Está tão bom, e eu preciso tanto de paz agora, que quase esqueço que havia ligado para Beth.

— Beth já deve estar aqui – falo. Enem isso faz com que ele pare de acariciar meus cabelos.

— Vamos voltar para dentro. Está um pouco frio – ele responde. — Vamos nos aquecer lá. Caleb já deve ter alguma resposta sobre tua mãe.

— Eu espero que tenha.

— Caleb é um dos melhores na área aqui da região. Ela vai ficar bem, ok? — Espero que ele esteja certo.

— Espero que você esteja certo.

Ele se afasta de mim, mas isso é só para levantarmos. Porque, no instante seguinte, ele entrega a sua mão para que eu a segure novamente, e não consigo recusar porque sei que aquele toque me acalma e calma é tudo de que eu preciso.

Caminhamos até a porta da cafeteria assim, mas logo lembro de Beth e retiro a mão de Frank da minha. Não quero que ela veja isso e comece a fazer perguntas.

Quero que ela me dê suas palavras de conforto e não suas perguntas histéricas. 


Para Sempre ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora