29 de março de 2013
Seria muito ridículo se no auge dos meus 18 anos eu começasse com "meu querido diário"? Posso até imaginar quem quer que lesse isso rindo a bersa e se perguntando qual era o meu problema. Mas isso não importa, não agora. Ninguém mais terá acesso à ele além de mim. Bom, por onde posso começar? Pelo início obviamente. Mas e quando não se sabe onde tudo começa? Minha vida é cheia de pontas soltas.
Talvez eu comece relatando o que mais anda me incomodando no momento. Nunca achei que isso fosse virar um problema que merecesse uma atenção especial, mas virou. Infelizmente. De início pode parecer algo comum entre amizades de longa data, momentos passageiros e triviais. Afinal, os relacionamentos estão sujeitos a altos e baixos. Mas até posso arriscar dizer que no caso de Kate, minha melhor amiga (será que ainda posso chamá-la assim?), a situação se apresenta um tanto peculiar.
Digamos que é a mesma Kate de sempre, divertida, companheira, sarcástica, mas um tanto mais fria, distante, com atitudes encenadas. Como se ela tivesse sido substituída por uma versão mais mecânica de si mesma.
Sei que a vida que levo, desperta a inveja de muitas pessoas, principalmente das meninas. Tenho tudo que uma garota da minha idade deseja, menos um lar. As pessoas costumam achar que onde habita dinheiro, nada falta. Materialmente falando não falta. Mas dinheiro não te garante tudo. Não sinta inveja, por favor. Apenas valorize o que você já tem. E se tem um lar, valorize infinitamente mais! Kate e inveja não cabem na mesma frase. Isso não tem coerência. Pelo menos é isso que uso para me tranquilizar.
Talvez seja impressão minha. Talvez eu durma agora e acorde em uma manhã ensolarada com os pássaros cantando la fora a anunciar alegremente o início de mais um dia, onde verei meus pais à mesa me esperando ansiosamente para um delicioso café da manhã com sorrisos calorosos antes de iniciar a rotina exaustiva e estressante. A rotina que acaba nos transformando em estranhos que vivem sob o mesmo teto. Que transforma nosso lar em labirinto, onde estamos perdidos em extremidades opostas. Onde dificilmente nos encontramos. Submersos em nossos próprios interesses. Quero acordar numa manhã onde vou reler essa passagem e rir da minha tolice ao questionar a recente conduta de Kate. Talvez seja pedir demais. Mas não custa nada sonhar. É a melhor (talvez umas das últimas) opção que tenho agora.
Coloco o diário embaixo do travesseiro, e me dou conta de que pensei mais do que escrevi. O notebook está ligado em cima da minha mesa de estudos. Em meio à playlist cuidadosamente selecionada, a música "Fight Song" de Rachel Platten, embala meu sono. Não muito alta. Quase como um sussurro. E adormeço com o verso "... wrecking balls inside my brain" pairando na dimensão vazia e escura dos meus pensamentos.
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Virtual: O mal à um clique de distância
RandomVocê conhece bem os seus amigos? Até que ponto? Ela também achava que conhecia o bastante. Num tedioso fim de tarde, alguns cliques foram suficientes para colocar a vida de Megan Lauren na lama. Mal sabia ela que tamanho feito, tivesse partido de su...