- Vou perguntar mais uma vez, Kate - disse o policial Frederick respirando fundo. Parecia buscar a todo custo, manter o pouco de paciência que ainda lhe restava - Você tem certeza que não teve nenhuma participação na morte de Megan ou pelo menos não tem um conhecimento, por menor que seja, do que a tenha motivado a isso? - ele me olha fixamente, como se pudesse enxergar toda a verdade que eu me recusava a dizer. A situação toda era bizarra demais, nunca pude imaginar que uma simples brincadeira, poderia levar a rumos tão inesperados. Tragicamente inesperados.
Foi uma brincadeira não tão simples, confesso, mas é a forma que encontro de pensar para encontrar melhor refúgio da culpa que paira sobre mim como uma nuvem negra. Parece que uma eternidade se passou, realmente me perdi em devaneios. Quando volto a superfície, o policial Frederick me olha ainda aguardando uma resposta.
Permaneço rígida como se qualquer movimento brusco fosse capaz de expor todos os meus podres. Tenho medo de falar e minha voz soar vacilante, me entregando. Arrisco um tom frio, despreocupado:
- Por que eu teria que saber exatamente o que levou Megan a essa loucura? - eu disse, parecendo mais desesperada do que pretendia - Ela era minha melhor amiga, droga! Estou tão chocada quanto todo mundo - começo a chorar. O rosto enterrado entre as mãos. Todas as lágrimas que não chorei friamente há dias, agora inundam meus olhos como uma represa rompida. Me sinto patética chorando diante do homem que me interroga e parece ter certeza da minha culpa. Por fim, o encaro de volta. Percebo seu rosto inexpressivo, avaliando minhas atuais condições. Mas seus olhos sugerem mais que isso. Posso até quase ver seu cérebro maquinando sem parar. E então, ele quebra o silêncio:
- Olha, Kate... - ele parece pensar numa forma menos dolorosa de me falar o que quer que esteja enrolando para dizer - encontramos esse bilhete ao lado de Megan, mas achamos melhor torná-lo de acesso restrito. Apenas aos envolvidos na investigação - ele me entrega o bilhete, um tanto hesitante. Tenho a impressão de estar recebendo meu passaporte para o inferno. Começo a abri-lo cautelosamente. Posso quase sentir aos mãos de Megan agora. Seus olhos fixos na folha enquanto escrevia suas últimas palavras. Eu reduzi sua vida. Eu. Quando finalmente abro o bilhete, as letras de Megan evidenciavam seu estado final. As palavras trêmulas, que mais pareciam os fantasmas que me assombrariam de vez daqui pra frente, pareciam ter sido escritas rapidamente, como se ela estivesse apressada para setenciar sua própria morte antes que pudesse voltar atrás. O bilhete, composto apenas por cinco dolorosas frases, dizia o seguinte:
Quem pode me salvar agora?
O sentido da vida escorreu como areia entre meus dedos.
Desculpem pelo meu ato egoísta, não é a melhor maneira de partir, não tenho duvida.
Mas não tive escolha, não que eu soubesse.
Não queria que as pessoas tivessem essa última lembrança de mim, mas repito: não tive escolha.Minhas mãos agora trêmulas, mal conseguiam sustentar o pedaço de papel. A testemunha do último momento de Megan. Entrego o bilhete de volta a Frederick, e sinto que vou chorar novamente mas ele se apressa em dizer:
- Precisamos que você colabore, Kate. Vocês eram melhores amigas. Ela era mais próxima de você até mais do que era dos pais - ele fez uma pausa, como se me desse espaço para falar, mas como viu que eu me mantinha quieta, prosseguiu - Lamento dizer isso, mas... o último acesso ao Facebook de Megan veio da sua casa.
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Virtual: O mal à um clique de distância
AléatoireVocê conhece bem os seus amigos? Até que ponto? Ela também achava que conhecia o bastante. Num tedioso fim de tarde, alguns cliques foram suficientes para colocar a vida de Megan Lauren na lama. Mal sabia ela que tamanho feito, tivesse partido de su...