Capitulo 4

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Quando cheguei não havia ninguém em casa, larguei minha bolsa no sofá e fui até a cozinha ver se havia algo pra comer, abri a dispensa e peguei uma bolacha. Passei pela sala e vi os porta retratos em cima da estante.

Lembrei da época em que eramos realmente uma familia feliz daquelas dos comerciais de margarina.
Mas tudo mudou quando meu irmão morreu.

Estávamos indo passar o fim de semana num campo de férias, ele era dois anos mais novo do que eu, todas as crianças tinham entre 10 e 15 anos, meu irmão era bem baixo, aparentava ter meno idade do que realmente tinha. Seus cabelos eram negros, pele tão clara quanto a minha e era bem magricelo, tinha um daqueles sorrisos contagiantes, que faziam todos se encantarem.
Meus pais achavam que precisávamos nos socializar mais com pessoas da nossa idade, Lucas achou um folheto no chão enquanto ia pra escola e meus pais acharam que era uma ótima ideia.

Bom, não era.

Eram três dias, em cada um faríamos uma atividade diferente. No primeiro fizemos canoagem no rio que passava por lá, no segundo dia andamos de cavalo e no terceiro...Não houve um terceiro. O cavalo do meu irmão foi picado por uma abelha e começou a correr em alta velocidade, meu irmão não aguentou se segurar por muito tempo, ele caiu e bateu de cabeça no chão. Traumatismo craniano. Meus pais nunca conseguiram superar a perda, nem eu.

Subi aquelas escadas com a maior paciência do mundo, a passos de tartaruga.
Porque há tantos degraus nessa maldita escada? - indaguei.

Minha casa é minuscula, um sobrado verde de esquina, com uma longa escada atravessando a sala, que da acesso aos quartos. O melhor comodo da casa com toda certeza é o meu quarto. Três das paredes são de um cinza claro e a outra, no fundo, é branca. Durmo numa beliche onde só a cama de baixo é utilizada, há vários posters das minhas bandas favoritas na parede branca, do lado da cama fica meu abajur e uma bancada onde fica meu computador e uma gaveta onde guardo minha flauta.

Abri a porta do meu quarto que sempre está fechado, peguei um cigarro e liguei o pc. Me conectei no qeepbook para ver se o Greg estava online. Não estava (para minha profunda felicidade). Acho que terei que passar o resto da minha tarde no Tumblr, uma das únicas redes sociais que eu realmente utilizo sempre e gosto.

Mais tarde minha mãe chegou. Uma mulher baixa com o cabelo preto, longo e enrolado, uma peruca, claro. Minha mãe ama perucas, tem uma coleção com vários modelos diferentes, ela tem muito mais perucas do que eu tenho sapatos, só tenho dois, mas não vem ao caso.

Sempre brigando.

Meus pais sempre estão brigando, por nada. Nunca entendi o porque dos dois ainda estarem juntos, são totalmente diferentes não no sentido de os opostos se completam, no sentido restrito de antagonismo mesmo e eu devo ter uma boa parcela de culpa nisso.

Chequei de novo o qeepbook. Offline. Mas que diabos esse garoto está fazendo que não fica online?

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Estava arrumando minha cama quando a mensagem chegou.

Como não socar a cara do Rodolfo? - Olha só quem resolveu aparecer.
-Oii pra você também. Tu sabe que não vale a pena. - Foi o melhor que eu pude falar no momento, precisava acalma lo.
-Sei...Mas não sei o que fazer cara. Ver ela com outro.

"Cara" eu já disse a ele para não me chamar assim.

- Tu já é bem grandinho, já sabia que a fila anda, ela traiu, tu terminou e ela arrumou outro. Ela não vale a pena.
-Eu sei....Mas ainda amo ela.
-Onde tu tá? -Só faltava estar na frente da casa dela, implorando por atenção.
-Na festa do Rafa, amigo do meu amigo.

Que ótimo. Estar numa festa já melhora as coisas.

-Tu tá numa festa, festeje. Foda-se essa mina.
-Vou tentar.
-Nada que uma faca não resolva, só chamar. - Uma faca ou uns tapas, claro.
-Sim, com toda certeza. Boa noite Yang.

Yang. Começamos com essa brincadeira na semana que nos conhecemos. Depois dele aceitar meu pedido de amizade no qeepbook não paramos mais de conversar, conversavamos sobre tudo, a qualquer momento. Em uma dessas centenas de conversas eu disse algo do tipo "Você poderia ser o Sol que iluminaria minha vida, quer mesmo ir pro lado negro da força?". Ele achou engraçado e me chamou de Yang.
Somos melhores amigos desde então, desda primeira mensagem.

-Boa noite, Yin.

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Parece que hoje a noite dele vai ser longa, espero que nada de errado.

Desisti de ir dormir e liguei o computador. Tenho que escrever uma redação pra entregar segunda, o melhor tema que a minha professora poderia pensar "Desigualdade social".

Desigualdade socia...

Nossa, que saco, não havia um tema melhor não?
Comecei a digitar qualquer merda que vinha na minha cabeça. Consegui preencher meia folha, melhor do que nada. Enrolei mais algumas linhas utilizando meu vasto conhecimento de palavras de difícil compressão, algumas achei e procurei o significado na internet, claro.

Joguei a bituca do segundo cigarro do dia fora e desliguei o computador. Escolhi um livro na prateleira e terminei de arrumar minha cama, olhei no relógio, 21:30, ainda tenho algumas horas pra ler. Ouvi o barulho da porta se abrindo.

Minha mãe estava na cozinha terminando de jantar. Meu pai chegou bêbado e os dois começaram a discutir, os dois gritavam muito, minha mãe estava cansado de ter que aturar meu pai e ele estava bêbado de mais para pensar em como se defender.
Os dois gritavam cada vez mais alto até que ouvi um barulho e a gritaria cessou. Desci as escadas correndo para ver o que estava acontecendo.
Do fim das escadas consegui ver algo no chão.
Era o braço de alguém....

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Olá pessoal, o que estão achando? Comente ai <3 se quiser, que tal dar um votinho? Agradeço muitíssimo.

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