No way, no

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Uma vez eu li em algum lugar que o impulso é o instinto sem barreiras. Depois que aquela sensação de loucura – baseada em impulso – deixa seu corpo, você simplesmente começa a pensar no que fez e o que aconteceu, então quando seu cérebro começa a raciocinar, você se dá conta que se não tivesse agido por impulso, a maioria das coisas não teriam acontecido. Pelo menos comigo.

Nunca fui muito de ficar pensando depois de fazer, isso só envelhece e ocupa a cabeça com um monte de coisas inúteis na hora de dormir e eu poderia dizer que a vida é curta demais para arrependimentos, mas não teria uma forma correta de falar isso sem parecer o mais absoluto clichê. A vida não é curta demais na minha opinião. A maioria das pessoas tem uma vidinha aconchegante, com uma pessoa que ama, com uma faculdade concluída, com seus diplomas empoeirados na estante gritando para cada visita que chega em sua casa "ei, olha, eu completei essa fase", ou com prêmios pregados na parede, prêmios, muitas vezes que só conseguiram para agradar seus pais ou para tentarem descobrir quem realmente são. Eu não julgo isso, afinal, não sou ninguém para fazer tal coisa. Não julgo quem prefere passar a vida inteira preso a algo que outras pessoas lhe impõem ou simplesmente acham correto de acordo com a sociedade em que nós vivemos. Somos tantas pessoas no mundo, tantas vidas diferentes, tantas culturas diferentes e é lamentável que algumas pessoas prefiram ficar presas em suas zonas de conforto, recheadas de almofadas, palavras seguras e futuros alinhados, mas mesmo assim, não posso julgar o que não conheço ou o que não quero. Posso ter o instinto para saber o que é melhor para mim, mas de forma alguma posso dizer o que é melhor para outra pessoa, já que cada um é dono do seu próprio caminho, seja ele qual for.

E é por isso que agora estou em pé, enrolada em meu roupão úmido do banho, com minha xícara de café quase morna presa entre as mãos, olhando para o homem deitado em minha cama.

Theodore parece o tipo de cara que nasceu com o futuro traçado, que seguirá à risca os passos do pai e que num futuro não muito distante, assumirá toda a responsabilidade que lhe foi imposta desde criança. É lógico que se eu perguntar algo relacionado a isso, ele vai dizer que é algo que ama. Algo que sente prazer em fazer, ficar sentado o dia inteiro em um escritório analisando relatórios, entrando em reuniões monótonas, almoçando com gente que não lhe interessa nenhum pouco – além de suas contas bancárias. Eu sei, eu sei. Parece hipocrisia de minha parte dizer que não julgo ninguém, mas pensar isso de Teddy. Eu sou humana, posso não julgar verbalmente, mas não posso impedir minha cabeça de pensar esses tipos de coisas.

Então voltamos a questão do impulso, ontem, quando nós nos beijamos, minha cabeça simplesmente parou de funcionar e eu só queria aquilo. Só queria sentir seu gosto, senti-lo dentro de mim, sentir seus braços ao meu redor e seu cheiro embriagando meus sentidos.

Mas agora? Agora eu estou com medo. Tenho medo de como será quando ele acordar e ver a incerteza em meus olhos. Ontem nós nos abrimos, tivemos quase uma sensação extracorpórea, senti toda a minha vontade deixar o meu corpo e se recriar em nosso ato, no movimento dos corpos, nas batidas do meu coração e na sensação única de prazer. Hoje é outro dia. Meu corpo se aquietou e minha cabeça entrou em ação, o que deu em mim? Ele é irmão da minha amiga que está em coma no hospital nesse exato momento, mora há quilômetros e mais quilômetros de mim, tem uma vida estável nessa cidade e só Deus sabe se esse homem não tem uma namorada por aí.

Eu nunca fui de me importar com isso antes, afinal, não sou uma pessoa puritana e nem sempre saio mais de uma vez com uma pessoa, mas isso é diferente. É diferente que sei que Theodore Grey seria capaz de partir meu coração.

Bebo um gole do meu café quase frio e estremeço enojada. Teddy se mexe na cama a minha frente.

Olho aquele monte de músculos dormindo em minha cama improvisada durante minha estadia em Seattle e pela primeira vez na vida, simplesmente não sei o que fazer. Sinto meu estômago doer pela intensidade dos pensamentos que circundam minha cabeça. Seguro minha xícara de café com mais força, a fim de entender que aquele sentimento é real.

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