Caça as Bruxas

Sumiço

          

        Já um pouco longe, piso nas folhas verdes um pouco amareladas e úmidas da forte chuva que havia caído há poucos minutos, naquele frio que me deixa arrepiada, a típica névoa londrina rodeando cada extensão do grande e medonho Bosque das Bruxas. Mais relatos inacreditáveis de aldeões me vem na cabeça: Fadas. Fala sério, não já bastam bruxas? Não entendem que isso é só uma floresta comum? Bem, não tão comum. De todas as flores e frutos que colhi em outros bosques nunca tive esta sensação de terror e curiosidade juntas tão fortemente como agora. Várias flores lindas, presas em vários espinhos. Isso é assustador. Mas, estamos se tratando de minha irmã. Resgatá-la depois de um ano inteiro é muito mais importante. Ficar presa pelos pais, sendo pega fugindo a procura dela sempre. Como é Dia das Bruxas, papai e mamãe saíram para comprar doces na cidade grande, e vovó está dormindo com suas agulhas de crochê douradíssimas. Apenas meu cachorro está acordado. Torço para que não lata. O sol escaldante na minha cabeça, e o frio pavoroso me dando calafrios em quase todas as partes do corpo, sem falar do sinistro som de pegadas atrás de mim. Mas que droga acontece aqui?! Mãos geladas e pegajosas encostam-se a meus ombros repentinamente. Uma velha senhora com o rosto completamente enrugado e com uma expressão fria que até dói. É a coisa mais assustadora que já vi. Suas roupas negras e sua bengala com umas pedras azuis (e que azuis intensos) pendurados numa pedra púrpura brilhante. É a perfeita réplica de uma bruxa.

-Olá, menininha de cabelos cor de mel, o que fazes aqui?

-Desculpe-me, mas estou gravemente ocupada agora, e talvez, nas próximas semanas... -Digo olhando aos arredores.

-Oh, Fiquei curiosa... Diga-me que talvez posso ajuda-la.

-Desculpe-me outra vez, mas isso só interessa a mim. Por que a senhora não volta para a aldeia?

-Aqui é o meu lar.

-Pft... Que graça... É sério, volte, pode começar a chover.

-Aqui é o meu lar.

              Quando ela diz isso pela segunda vez... Diz de uma forma fria, odiosa, sinistra.

-Senhora... Volte...

-Essa frase é minha... Senhora.

         O meu rosto começa a enrugar, minhas mãos ficam com longas e negras unhas, eu estou com uma aparência bem mais velha, quase... Mortífera.

-O QUE FEZ COMIGO?

-Se não posso tirá-la de meu lar, posso tirá-la a juventude. Velhinha de cabelos acinzentados.