Caça as Bruxas

Cores do inferno

   Abóboras com faces assustadoras são espalhadas pela vila. O chão tem ratos de  brinquedo e as casas estão decoradíssimas  com fantoches e bonecos estranhos. Lizzie, George e Chris devem estar andando por aí, acho que vou procura-los. Escutam-se risadinhas macabras, gritos e sons bizarros, mas é tudo brincadeira. A pouco tempo, Chris invadiu meu quarto querendo saber se eu já estava saindo para pedir doces ao seu lado. Sorte que eu estava vestida. Seu jeito extrovertido e atrapalhado é estranho, ele é idiota, infantil, estúpido, mas é importante para mim. Não assustou-se com as bizarras marcas em minha pele asquerosa, pois achou que aquilo tudo em meu rosto pálido era apenas algumas tintas compradas em lojas distantes. Sua fantasia, pela primeira vez encontra-se desajeitada. E sobre a minha, eu odeio roupas carregadas e muito chamativas, odeio.

   Todo Halloween é sempre uma festança. Contendo concursos, lutas entre caras fortões fantasiados (lenhadores comuns), contadores de histórias, e o mais popular é o suposto baile entre uma dama eleita (da aldeia) e seu suposto cavaleiro também eleito, em uma longa valsa com músicas bizarras. Eles tem tanto medo de bruxas, que acabam rindo delas, festejando e brincado sem autoria. Mas, dizem que a festança toda é para agradá-las e afasta-las, o que é ridicularmente estranho.

  Lizzie está pedindo doces na casa dos Hopkins. A casa está extremamente arrumada a caráter, provavelmente a pedido de Chris. O tempo está nublado e com um pouco de névoa. A floresta hoje está mais sinistra do que o normal. Algo me chama para lá dentro, outra vez.

-BUUUU! -Chris chega pelas minhas costas assustando-me.

-Chris! Você é realmente estúpido! -Reclamo.

-Um cônjuge zumbi deveria se manter em harmonia, certo? -Diz ele com um sorriso no rosto.

-Concordo... -Lizzie diz aparecendo do nada em nossa frente.

-Ei, por que seu cabelo tá castanho? Você não era loira? -Perguntou George, aparecendo por trás.

-Não interessa. Onde você estava? -perguntei

-Lá na sua casa, ia te buscar.

-Por que ia buscar ela? -Perguntaram Chris e Lizzie em coro, patético.

-Pra eu te acompanhar, até o Chris aparecer, né...

Ele olhou bobo pro meu rosto, acho que estou muito séria. Sei lá.

  Eles começaram a se animar e fomos buscar doces juntos. Este Halloween não está sendo igual aos outros. Este está estranho. Aconteceu algo estranho. Eu tenho a prova. Em minhas lembranças e em meu rosto. Eu, mesmo ouvindo as risadas dos meus amigos, quero ir embora. Não para minha casa. Para fora da vila.

-SOCORRO! SOCORRO! SOCORRO! -Uma mulher grita desesperada ao ver seu filho em chamas.

Ele está em chamas. O pequeno Eliot está gritando também. Vai morrer, já está claro. Os moradores correm e o jogam no pequeno lago da minha casa. Mas, seu corpo já havia virado cinzas. Todos se assustam. O clima ficou pesado agora. A atenção é completa para o pequenino, até a nossa vizinha entrar em chamar de repente. Ela grita pedindo socorro. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? QUE DROGA ESTÁ ACONTECENDO AQUI? Todos correm desesperados para as suas casas. O Halloween acabou. A festa acabou. Entro em minha casa em silêncio ao lado de Chris, que se acomoda na poltrona com o joelho junto ao queixo. Ele está com medo de ser a próxima vítima, todos estão. Começamos a rezar loucamente enquanto a família Hopkins sai para a caçada. Eu não estou tão atingida por essa onda enorme de acontecimentos bizarros. Estou bem, um pouco. Escondida, coloco minha capa pluvial negra e saio de casa. Completo silêncio, só se ouve as pegadas dos cavalos caçadores lá no meio da floresta. Atrás de um arbusto. Lá está ela. A mesma bruxa que me enfeitiçou.

-Ei...Vem cá, vamos lá em casa. -Diz ela com suas unhas, ou melhor, garras pretas me chamando.

-Onde?

      Estou completamente interessada.

                                              Eu sigo meus passos, seguindo para a escuridão do abismo.