Criança

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Estou assustada. Nunca acreditei em tal façanha. Feitiçaria existe de verdade? Minha pele está derretida, escaldante. Bolhas, incontáveis bolhas cobrem todo o meu corpo. Até meus olhos. Um breu infeliz toma conta de meu corpo. Ela vai me levar e me transformar em doce? Medo. Essa palavra é inexplicavelmente horrível nestas horas. Passos. Eu ouço passos. Passos saltitantes que dão um alívio. Por quê?

-Ei... Libere-a.

A voz de Chloe. A doce e rouca voz de Chloe. Eu tenho certeza.

-Maggie, ela está tentando destruir nosso esconderijo.

Maggie?

-Ela não está. Libere-a.

-Maggie, eu...

-Libere-a.

O meu corpo gela. Meus cabelos arrepiam. E pouco a pouco as bolhas somem. Mas as rugas não. Eu vou continuar com isso em meu rosto? Eu vou continuar com essa lembrança pavorosa? Quero que isto seja um pesadelo e que eu possa acordar dessa dor diabólica. Um líquido gelado cobre meu rosto. Eu não quero ser um simples objeto de mandinga. Eu não sou isso. Eu ainda não consigo enxergar. Quero ver os rostos, mesmo embaçados, dessas incríveis bruxas. De todas as histórias que ouvi, nunca escutei nenhum rumor sobre uma pequena Maggie.

-Ela vai enxergar? -Pergunta a senhora alisando meu cabelo.

-Não sei.

Não sabe? Por uma fútil brincadeirinha dessas eu não vou poder mais enxergar? Eu odeio esta floresta. Esse breu é tenebroso. Essa sensação é tenebrosa. Como eu estou? Onde eu estou? Estou REALMENTE bem? A única coisa que quero é: Voltar para casa a salvo e nunca mais nem pensar em voltar aqui.

-Pare com isso. Eu cuido dela. -A infantil e ingênua voz repetiu.

As quentes mãos de Chloe. No natal antepassado, fiquei com crises asmáticas diariamente. Ficava deitada no tapete próximo a lareira da sala. Cheia de agasalhos e meias. Sete meias no total. Era quentinho, confortável, mas o que me aquecia de verdade eram as quentes e aconchegantes mãos de Chloe. "Hilary, está esquentando, esquentando, esquentado, Hilary está esquentando, com suas sete meias de natal!" Era maravilhoso. Um ritmo natalino perfeito. Os corais de natal que ela fazia realmente a ajudaram. Foram estas mãos, estas milagrosas mãos, que sinto em minha testa neste momento.

-Hillary está curando, está curando, está curando, Hillary está curando, deste feitiço!

É Chloe. Não tenho dúvida alguma que esta é minha irmã adotiva.

-Chloe...

Eu senti seu espanto quando pronunciei isso. Aquelas mãos saíram correndo em disparada, de volta ao grandioso Bosque das Bruxas. Eu me sinto livre, mas ao mesmo tempo presa a aquela garota.

Caça as BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora