Lembranças

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       Macio. As mãos que sinto são macias. Estão apalpando meu rosto. Estão abrindo meu olhos, que já estão abertos, estão  colocando algum casaco em mim. Estão me cuidando. São as  mãos de meu pai? Impossível. Eles chegariam aqui horas depois. Mas, estas são as mãos dele. Só não consigo enxergar. Que droga.

-Hillary! Hillary! Quem a trouxe aqui? Acorde filha! Foi a CandyWitch? Foi a bruxa Clhoantsa?

         A voz dessa pessoa é grossa.

-Filha! Acorde de uma vez! Vamos para casa!

      Uma segunda voz. É bem fina. Quero dormir. Quero descansar. Quero esquecer tudo. Quero morrer. Mas, estão me levantando. Estou balançando. Eu quero ver meu corpo. Quero ver quem é que está me levando. Quero sentir alívio. Água. A doce água do lago ao lado. Estes movimentos entre minhas pernas. São peixes? Esta pegajosa e gosmenta sensação em meus pés são algas? Sinto meu cabelo molhando. Ouço gritos de terror. Ei, eu estou bem, um pouco. Que duro. Está desconfortável. Isso parece ser uma pedra. Ah, a pedra que eu sempre coloco minha cabeça e começo a ler um livro verídico. Parece ela. Estes pingos é chuva? Não. É muito fraco. Esta outra mão.  É bem mais fria. É estranha, mas é boa. As bolhas. Não sinto mais elas. Nem o formigar e o escaldante calor que estava em minhas bochechas. É muito... Bom.

-Duas Bertold! Duas!

        A fina voz cochicha em meu ouvido e bate com toda força em meu peito. Ela me odeia?

-Não! NÃO!

      Eles dois estão gritando. É engraçado.

-Stella... Ela está sorrindo? É uma brincadeira?

-Sim... Mas...

     Eu consigo mexer minhas mãos. Estou levantando aos poucos não estou? É bem desconfortável. A embaçada luz do sol me cega. Tento cobri-la com os braços. Mas não consigo. Meus braços não funcionam. Eu quero vomitar. Eu engoli muita água hoje... Eu... Eu odeio isso!

Eu durmo.

      Só vejo o teto de madeira da minha casa. Eu acordei daquela escuridão repentina? É maravilhoso. Mas ainda me sinto fraca. A minha voz... Está tremendo. Meus lábios inchados. E esse gosto de sapo na boca. Preciso daquela torta de maçã da vovó. Preciso. Eu bato cinco vezes na parede. Minha mãe, chorosa grita chamando meu pai. Mas não é de felicidade. Eu quero ver minha aparência. Eu... Estou um pouco bem.

-Mãe... -Sussuro.

    Seu abraço aconchegante me envolve. Estou de volta, mamãe.

Caça as BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora