In the dead of night, your eyes so green
- Você deverá comandar a execução, Harry. Não discuta comigo.
- Mas, pai! - o garoto continuou, não se dando por vencido - Não quero fazer isso! Ela estava roubando comida! Devia estar com fome.- Não me importa se ela estava roubando por fome ou se estava somente dando um passeio pelo Palácio! Ela invadiu! E vai ser punida!
- Pai...
- Não me interrompa, Harry! - o Rei gritou, fazendo o filho tremer, assim como o quarto inteiro - Já pensou o que aconteceria se todos esses pobres resolvessem que podem invadir nossa casa se ficassem com fome? Se deixarmos uma passar, logo vários mais virão. Eu não vou permitir.
- Concordo com o senhor, pai. Não podemos permitir que qualquer um invada nossa casa. Só não consigo entender por que preciso comandar a execução do crime. O senhor poderia fazer isso.
- Não é óbvio? Você será rei em pouquíssimo tempo e mal sabe como administrar o Reino. Essa será sua primeira execução, mas você já me viu fazendo várias vezes. A diferença será que, agora, quem irá mandar matar a garota será você e não eu.
- Matar? - Harry se engasgou com a palavra - Ela só roubou! O certo são as chicotadas. Não a morte!
- Ela é mulher, Harry. - o Rei lembrou - Ela não deveria nem estar fazendo algo além de cuidar de crianças. Se fosse um homem, eu apenas o puniria com chicotadas. Mas, uma mulher?! É o fim dos tempos. Estamos próximos do apocalipse.
E falando sobre como as coisas estavam evoluindo para o caminho errado, o Rei deixou a sala de reuniões que estava sendo usada apenas pelo próprio e pelo filho, que se recusava a comandar uma execução. O Príncipe Harry não se considerava bom o bastante para isso e sempre odiara a dor no olhar do executado e a frieza dos homens que executavam a pena.
E agora ele iria mandar matar uma garota.
Harry havia visto a hora que ela fora presa. A garota estava ajudando uma das cozinheiras que estava grávida. A mulher estava passando mal, já que estava muito próxima de dar a luz. Ele viu como ela fora cuidadosa com a cozinheira - que o servia todo dia e Harry não fazia nem noção do nome da mulher - e como ela tentara ajudá-la, mesmo correndo o risco de ser presa. Os guardas perceberam que a intrusa tentava ajudar a cozinheira grávida e não tentaram impedi-la. Foi mais ou menos naquela hora que o Rei e a Rainha chegaram e começou a grande confusão.
Encurtando a história, ela tentara fugir, não conseguiu.
E agora estava prestes a morrer em uma execução em praça pública. E Harry seria o responsável por comandar a execução.
O sol já se havia se posto há varias horas e o toque de recolher também havia passado quando Harry resolveu sair de sua cama. Ele não podia simplesmente mandar matar uma garota como aquela.
Primeiramente, ele desceu até a parte do castelo que nunca frequentava: o calabouço. Os guardas não impediram sua passagem, mas ele podia ver o olhar questionador dos homens, que nem sempre eram muito mais velhos que ele. Quando os homens completavam 20 anos eram obrigados a se alistar para o exército de Cleverland e a maioria deles acabava na guerra que o país vivia enfrentando com Reinos vizinhos ou então servindo no Palácio. Ele não sabia dizer qual destino era o mais difícil; os que iam para a guerra tinham a grande chance de não voltar mais, enquanto os que iam para o Palácio eram obrigados a servir por 10 anos.
Harry suspirou, pensando na quantidade de coisas que haviam erradas no Reino que seria seu em breve, o quanto queria poder mudar toda aquela política. Principalmente por causa das manifestações.
