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'Cause they got the cages, they got the boxes and guns


O dia amanheceu e Jack acompanhou a luz do dia entrar pela janelinha quadrada e minúscula no alto de sua cela. Pela primeira vez, não agradeceu pelo sol nascendo; aquele seria seu último.

De acordo com o Príncipe, ela ainda tinha salvação. Não seria morta. Mas não conseguia acreditar nele, já que lembrava perfeitamente da expressão no rosto do Rei quando decretara sua morte em praça pública. Ele pensara que Jack havia passado por cima de toda a segurança do Palácio sozinha - já que ela jamais denunciaria seus amigos - e ficara furioso; pior ainda, o Rei havia se sentido um tolo, humilhado. Isso fora o bastante para se convencer de que Jack merecia a morte.

É, a vida não era nada justa.

Mas então, ela estava tentando ignorar seus demônios dentro de uma cela suja e mal cheirosa quando o Príncipe apareceu, com todo seu jeito pomposo e o rosto bonito. Ao mesmo tempo em que sentira repulsa pelo homem, sentira-se atraída por ele. O rosto dele parecia ter sido esculpido por anjos e os olhos brilhantes tinham a cor certa de um tom que Jack não estava acostumada a ver nas redondezas de onde morava. O corpo parecia ser forte por baixo do tecido caro da roupa que ele vestia. Apesar de não ser o terno de sempre, ele continuava incrivelmente bonito na roupa casual. Jack ficou imaginando como Harry era quando acordava e como era o som de sua risada sincera.
Coisas que nunca veria.

Mesmo com sua morte programada para algumas horas, Jack se permitiu fantasiar. Permitiu-se sonhar em acordar ao lado do Príncipe, vê-lo em suas roupas íntimas - isso se os príncipes dormissem só de roupas íntimas - e com o cabelo bagunçado; a voz sonolenta e rouca também era outra coisa que ela queria ouvir. Sentiu os lábios dele sobre sua testa outra vez e imaginou que gosto teria a boca dele quando entrasse em contato com a dela.

E, sem perceber, Jack estava rindo.

Rindo porque aquilo era ridículo. Ela apenas vira o Príncipe durante alguns minutos na noite anterior e conhecia seu rosto dos jornais e dos comunicados públicos da família real. O pior era que Jack nunca havia sentido a mínima atração pelo Príncipe quando o via sentado no trono ao lado do pai ou nos jornais que Rose e Mary compravam quase nunca, apenas quando sobrava uma moeda no fim do mês, ou quando Jack roubava algum jornal que estava no lixo para saber as notícias do Reino.

Desde quando Harry ficara tão atraente aos olhos de Jack?

Talvez no momento em que prometera que iria salvá-la da morte que parecia inevitável.

Enquanto a hora não chegava, Jack não se concentrou apenas na fantasia de Harry acordando na cama ao seu lado; o pensamento de vê-lo entrar na cela como fizera na noite anterior também era constante. Evitou pensar nas crianças ou em Mary e Rose. Permitiu que Alex, James e Evan tomassem seus pensamentos por alguns minutos, mas assim que imaginava os três vendo-a morrer na frente de todos, seus olhos ficavam marejados e ela mudava a direção dos pensamentos.

A morte era a última coisa que passava por sua cabeça.

Passaram-se minutos até que sua cela foi aberta. Na verdade, Jack sabia que fora bem mais que apenas minutos, mas em sua cabeça o tempo não havia passado. Quando se está próximo da morte, o tempo passa mais rápido.

Enquanto era algemada e levada para a praça onde morreria, Jack lembrou-se de como o tempo passava mais lentamente quando estava com fome e sabia que demoraria a comer. Daquela vez também estava com fome, mas a ideia de morrer não lhe era tão agradável quanto a próxima refeição, então não havia motivo para apressar as coisas.

I Know Places [Projeto 1989]Onde histórias criam vida. Descubra agora