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A semana passou voando! Quando dei por mim já era sexta-feira. Mal me aguento de ansiedade, a cada hora que passa sinto uma corrente de novas emoções invadirem meu interior. E as pessoas já começam a notar meu estado de espírito, inclusive uma desagradável criatura.
- Parece especialmente nervosa hoje srta. Cassandra. - Diz Cleo, ou seria Srta. Gelatina? interceptando-me no corredor.
- Oh não! Impressão sua. - Falei já andando, querendo fugir de suas perguntas. Mas infelizmente, ela não desiste e acompanha-me.
- Na verdade, notei isso a algum tempo... A exatas duas semanas e meia?
Isso é uma pergunta? ! Sei do ponto de interrogação e tudo isso, mas não quero acreditar no que Cleo está insinuando.
- Como?
- Não fui clara? Ah peço perdão. Estou me referindo à ocasião em que Jhack viajara. - Mesmo com todo esse sarcasmo, não pude deixar de notar o que foi dito ao final da frase. Parei de andar, fiquei imóvel. Piscando sem ação. Então eu não era a única a saber que Jhack viajara? Mas como?
Busquei palavras para expressar as perguntas que se formavam em minha cabeça:
- O que você disse? - Falei enfim.
- Sobre Jhack viajar?
- Sim! - quase gritei. - Por que foi? E por que não avisou?
- Bem, ficamos sabendo a pouco tempo, à mais ou menos uma semana e meia. - Ãh? Isso quer dizer que foi antes de ter subido numa árvore e invadido a casa do referido? Eu não acredito! - E nos disse ( ela enfatizou o nos ), que precisava de uma licença, pois estava com problemas pessoais.
Mas que problemas? Quais são eles?
- Mas é bastante tempo para mim! E que problemas são esses? - Só depois de desferir essas palavras foi que percebi o erro que cometi.
- Mas por que tamanha indignação? - Suas palavras carregadas de ceticismo.
- Bem...fico preocupada com seus alunos... por ficarem sem o professor...
Não sei se ela engoliu muito bem minha desculpa esfarrapada.
- Nada lhe foi informado porque não cabe a srta. assuntus do conselho estudantil. - Dentro de mim eu revirei os olhos, e sim isso é possível. - E quanto aos alunos, já encontramos um professor substituto.
E como se por destino, surge na porta de entrada da escola um homem alto de óculos escuros. Com longas pernas, camisa social e gravata. Meus olhos sobem por seu corpo para parar bem no seu rosto, que para minha surpresa é muito bonito. Tem os cabelos cobreados levemente grisalhos, o que lhe dá um certo charme. O que é isso? Uma competição de professores bonitões? Srta. Gelatina parece concordar comigo, uma vez que perdeu a capacidade de falar. Deixou a caneta cair e um filete de baba escorre por sua boca entreaberta.
Ele caminha em nossa direção.
- Bom dia. Eu sou David. O professor substituto. - Ah percebi caro David. Por mais bonito que ele seja, não chega nem a se comparar com a beleza singular do meu Jhack, quero dizer, Jhack, apenas Jhack.
Como Cleo ainda não consegue falar, falo por ela:
- Oh, sim. O estávamos esperando - Menti, nem sabia que ele viria, mas ele não precisa saber. Mas sinto o olhar fumegante de Cleo em mim. - Essa é Cleo, professora de gramática - Falei apontando para Cleo. - E eu sou Cassandra, professora de matemática. - Ele ergueu uma sombrancelha demonstrando surpresa, isso não é novidade, no mínimo esperava que eu fosse aluna. Tive a estranha impressão de que algo nos seus olhos se acedeu.
- É um imenso prazer. - Falou David pegando minha mão, curvando-se e depositando nela o mais leve dos beijos. Seus olhos buscaram os meus. Mas o que? Desviei os meus quase que imediatamente. Ele percebeu e então recobrou a postura e fez o mesmo com Cleo. Acho que foi só impressão minha mesmo. Certo?
- O sentimento é recíproco. - Disse Srta. Gelatina, ainda mais gelatina ainda! Que mulher! Revirei os olhos, não resistir.
Ele sorriu mostrando dentes perfeitos. Retira os óculos escuros e pude notar que ele já está no final da casa dos trinta, eu diria que tem 39 anos. Mas diferente de Jhack, David não ostenta aquele ar de bad boy, se trata de um homem conservador, com roupas finas, claro, mas nada exagerado. Eu diria que ele é um legítimo acadêmico. Como os professores de universidade. E há algo de peculiar em seu sotaque. Mas ainda não identifiquei de onde.
- Bem...e onde...
- Ah por favor, siga-me Sr. David. - Interrompe Cleo, entusiasmada demais.
- O.k. - David exclamou. Então virou-se para mim: - Até mais Srta. - Sorriu e saiu seguindo Srta. Gelatina. Já chamando atenção das alunas que por ali passavam. Adolescentes. Segui para a sala de aula, até a noite ( meu vôo sai as sete) eu ainda teria muito chão pela frente.

Como Não se ApaixonarOnde histórias criam vida. Descubra agora