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Chegamos as nove horas. A estrada estava realmente quase intrafegável. Por isso o atrasso. Mas, ao chegarmos  os alunos já tinham chegado, de modo que precisamos explicar o motivo de nosso pequeno atrasso, quero dizer, o atraso do nosso amado professor de Química. Mas aquela ruidosa manhã já estava perdida, o tempo não estava ajudando em nada, então os alunos foram despensados para os seus devidos dormitórios, e nós para os nossos.

Na quarta série, eu acampei. Com Gisele, é claro. Mas aquela foi a primeira vez, nunca fui escoteira por esse motivo, mas na quarta série eu fui obrigada. Meu pai estava viajando por isso não pude ficar sozinha em casa, e na casa de Gisele não tinha sentido pois a mesma ia nesse acampamento. Por isso fui abrigada a ir. Lá nos obrigaram a dormir em barracas com outras meninas, de modo que eu fiquei espremida e mal conseguir dormir. E as tarefas matinais eram uma verdadeira tortura. E lá as crianças eram separadas em meninas e meninos, aqui não é diferente, mas eu não tinha a miníma ideia de que os tutores ficavam num mesmo dormitório! Só podem estar de brincadeira!
Estou parada em frente a minha cama, quero dizer, camas, mas claro, só uma será minha. Trata-se de um beliche de ferro que range quando você se quer trisca um dedo, por isso só falto morrer de vergonha quando escolho a cama de cima e subo e me sento. Rinquin! Jesus! Todos olham para mim, e eu sorrio timidamente em resposta. Legal, só a minha faz isso! Pois quando outros professores se sentam ou deitam ou até mesmo se escoram ela reage naturalmente sem nenhum ruído estranho. Eu, como sempre, fazendo as escolhas erradas. Quando resolvo descer, abaixando primeiro um pé para depois descer o outro, e ocupar a cama de baixo, sou surpreendida por um par de mãos gigantes segurando minha cintura.
- Vai com calma aí! Quase acertou minha cabeça! - arregalo os olhos quando ouço sua voz grave ecoar no expresso dormitório, e só piora quando giro meu rosto para ver o infeliz de incríveis olhos azuis me encarando com uma tremenda diversão no olhar, eu rapidamente me retiro de sua pegada apoiando os dois pés no chão de uma vez só. Isso me faz perder levemente o equilíbrio, por isso Jhack tenta em vão me ajudar, pois antes que suas mãos cheguem até mim eu as intercepto no meio do caminho. Já recuperada do susto, o encargo com a melhor cara de brava que consigo. Ele suspira.
- Mas qual é o seu problema em? - gritei - você por acaso é doente ou algo assim? Não, por que aonde quer que eu vá você está! Parece um carma! - o olhei furiosa, mas me arrependi, ele parecia uma mistura de pavor, decepção e vergonha. Ele olhou em volta e abaixou os olhos, eu repeti o movimento, todos estavam chocados com o que acabaram de ver e ouvir, e minha raiva foi se desfazendo e eu senti as bochechas arderem. - Olha, me desculpe eu não...
- Não, tudo bem. Eu só não tive opção de escolher outra cama - falou ele seco. Eu mais uma vez olhei ao redor e percebi que ele estava certo. Todos os outros beliches estavam ocupados, com exceção do meu. Senti mais uma vez as bochechas arderem, mas qual é o meu problema? E por que ele está tão calmo? Me irrita mais ainda a sua falta de reação. A essa hora todos os curiosos já voltaram aos seus afazeres, e Jhack parece incrivelmente calmo. Mesmo depois de eu te -lo envergonhdo na frente de todos, não posso deixar de me sentir mais culpada ainda.
- Eu não devia ter me exaltado, eu não sabia...e também, bom, acho que não cabe a mim decidir aonde alguém deve ou não dormir e... - sorri constrangida - acho que pode ficar aí - apontei com a cabeça - se quiser. - ele rio. ELE RIO!
- Bom, acho que não tenho muita escolha, se você olhar em volta. - e mais uma vez eu olhei ao redor, e ao voltar o olhar, meus olhos pousaram nos seus. E agora não eram mais seus lábios que sorriam, e sim seus olhos. Não pude deixar de sorrir.
- É...então, acho que, eu....é... vou ali... - tentei sair dali, eu precisava sair dali, mas quando dei dois passos para trás algum troço idiota bloqueou minha passagem, me fazendo tropeçar e quase cair. Mas me reequilibrei bem a tempo de não cair. Ai Deus. Eu preciso sair imediatamente daqui antes de cometer outra besteira que me faça mais idiota ainda. Saí quase correndo, inrrompendo entre as pesadas portas. O ar frio era cortante. Abracei os braços e fechei os olhos, inspirei fundo. Eu não posso ceder. Preciso manter o controle, sempre manter o controle. Não possibilidade de eu me deixar abalar. Abri os olhos e olhei muito além do horizonte, para um céu cinzento e sem nuvens. Imaginando como seria poder voar. Voar para longe de tudo e de todos, sem preocupações, sem problemas, sem pais viciados, sem pares de olhos azuis... Mas o que é isso? Não , lugar em meus pensamentos pra olhos azuis! Balanço a cabeça e foco em outro lugar, no campo que se encontra a minha frente, à esquerda, fica os dormitórios femininos, e à direita os masculinos, pelo visto não teremos barracas como eu havia imaginado. E ao meio só um imenso espaço vazio, e mais adiante árvores, e não são poucas, na verdade são centenas, até onde a vista não pode alcançar, um imenso borrão verde escuro. E de repente vejo ao longe dois borrões pretos. Estão correndo em direção às árvores, olho ao redor mas não vejo mais ninguém. Mas do que se trata? Eu os sigo.
Um nebuloso nevoeiro se formou, dificultando meu progresso, tento identificar de quem se trata mas não consigo ver. Atravesso o campo e me aproximo das grotescas árvores, exito ao chegar perto da floresta, ela parece sinistra demais para o meu gosto. Mas preciso saber quem são! Por isso prossigo, mas só há um inquietante silêncio. Começo a ficar um pouco claustrofóbica ao olhar para cima e não conseguir ver a copa das árvores que agora me parecem estranhamente monstruosas. Quando estou prestes a surtar, ouço um barulho. Sussurros, risos abafados, e galhos se quebrando, sigo sorrateiramente a fonte do barulho. E fico completamente perplexa ao ver dois alunos praticamente nus se agarrando ao pé de uma imensa árvore.

Como Não se ApaixonarOnde histórias criam vida. Descubra agora