Nada une tão fortemente como o ódio - nem o amor,
nem a amizade, nem a admiração.
Anton TchekhovNarração: Petrus
Se você estiver interessado em conquistar uma garota, eu o aconselho fortemente a não deixá-la encontrar a própria irmã em sua cama. Mesmo que você não esteja romanticamente envolvido com a garota em questão.
Ou com sua irmã.
Para falar a verdade, tudo ocorreu tão rápido que eu ainda estou em processo de absorção dos últimos acontecimentos. E antes que vocês saiam por aí denegrindo a minha imagem, eu estou me referindo à como Bianca acabou passando a noite em meu quarto e não à minha performance na cama. Não há nada de rápido neste último quesito.
E já que estamos falando sobre esclarecimentos, eu não estou tentando conquistar Carina, esta foi apenas uma observação acadêmica de um fato. O que eu quis dizer foi que, caso esta fosse a minha intenção, eu estaria com sérios problemas agora.
Tudo começou com o que eu tive certeza ser uma alucinação proporcionada pela cerveja de origem duvidosa que enchia o meu copo. Eu estava no meio de uma acalorada discussão com uma estudante de sociologia sobre o mito da caverna - e, eu confesso, torcia para que aquilo evoluísse para outras atividades calorosas -, quando minha visão periférica identificou uma cena que só poderia ser classificada como impossível.
Para começar, Henrique, meu colega de quarto, estava longe de ser o que comumente classificamos como um ser social. Na realidade, este foi o tema de uma das primeiras conversas que tivemos, quando Henrique apontou que ele era a contradição viva da tese de Aristóteles sobre o homem como animal social.
Não fiquem constrangidos caso nunca tenham ouvido falar sobre esta tese, vocês não são os únicos. Viver com Henrique é meio como morar com uma ferramente de pesquisa ambulante.
De volta a cena que se seguia, a participação de Henrique em uma rodada de beer pong já foi o suficiente para me fazer engasgar com a minha bebida. No entanto, o que realmente fez com que eu duvidasse da minha sanidade foi reconhecer a menina contra quem meu colega disputava.
- Sabia que o beer pong teve origem na universidade de Dartmouth em 1950? - ouvi Henrique perguntar quando, após pedir licença para a garota com quem eu conversava, me aproximei da mesa.
Ouvir tal observação, ainda que em um tom arrastado, fez com que a cena se tornasse um pouco mais crível. Aparentemente, mesmo embriagado, Henrique continuava recitando fatos aleatórios.
- Ainda bem que você é inteligente. - Bianca, a irmã caçula de Carina, falou debochada - Porque é péssimo nesse jogo. - ela riu, acertando um dos últimos copos restantes na mesa de Henrique.
Meu colega de quarto olhou nauseado para a bebida, antes de levá-la aos lábios. Como uma forma de apoio, Bianca também virou um dos copos estacionados em sua bancada. Seu olhar já estava ligeiramente desfocado e devolver o copo vazio à mesa pareceu uma tarefa difícil para o seu controle motor prejudicado.
- Ei, crianças, que tal deixarem um pouco de cerveja para o resto da humanidade? - falei, após algum tempo os observando, recostado contra uma pilastra.
Ao ouvir minhas palavras, Henrique sorriu para mim de maneira agradecida, mas Bianca pareceu inconformada com a interrupção, até o momento em que virou para ver quem tentava destruir sua festa e sua expressão se iluminou diante do reconhecimento.
- Petrus! - ela veio ao meu encontro, me tomando em um abraço apertado - Eu ia falar com você mais cedo, mas a Carina estava por perto... - explicou ela, assim que se afastou.
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100 Coisas Que Eu Odeio Em Você
Teen FictionCarina realmente não gosta de Petrus. Deixando o eufemismo de lado, ela o odeia. Odeia seu sorriso e a sua voz. Odeia a jaqueta de couro que ele usa frequentemente. Odeia seu toque. E a forma com que se sente com ele. Mas, principalmente, ao descobr...