Capítulo 7 - Palavras Poderosas

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Eu sempre gostei de palavras. Elas me impressionam. Inspiram-me. Intrigam-me.

Exemplo: quando li a série de J.K. Rowling e percebi que o Avada Kedrava era diferente das outras palavras (latinas ou gregas) das outras usadas para executar os encantamentos, fiquei impressionada em saber que é a única que vem do aramaico "abhadda kedhabra" que quer dizer "desapareça com esta palavra" .

Vejo também como escamoteamos nossos sentimentos, trocando apenas o nome como os chamamos e achando que, assim, mudamos a realidade. Como quando dizemos que não estamos com medo, só com "nervoso"... Já vi cada marmanjo dizer que tem 'nervoso' de barata! Fico rindo... Ah... as palavras! Como se mudando um verbo ou um substantivo pudéssemos alterar a situação e nos refugiar em outra realidade.

Os nomes também são palavras, e poderosas! Emocionei-me no filme Austrália quando a mãe do menino morreu. É que ao invés de dizer "Ela está morta", se dizia "Não podemos mais dizer seu nome!" O nome carrega a vida e a essência da pessoa que o pertence... uma única e singular palavra. O mesmo nome na boca de quem o ama pode ser um mel... e na boca de quem odeia, um chicote. A mesmíssima palavra. Não é fantástico? Agora, não troque um nome: as pessoas odeiam isso! Apesar de desconfiar que as avós façam um curso em Haward para treinar a nos chamar pelos nomes de nossos irmãos. Fora aquelas que chamam todos de uma vez prá depois falar o seu nome. Lá em casa, era sempre quem ela falasse por último: "Judith-Nica-Valéria-Gerson-Djalma-Leca-Berico-Elizeu-Carla!" Aí eu ia...

Ouvi um caso uma vez de um noivo, na hora dos votos na cerimônia de casamento, que disse, com lágrimas nos olhos: "Te recebo, Tereza..." E recebeu um buquê na cara, porque o nome da noiva era Ana Luiza! Ah... uma única palavra em devaneio... Viu como são perigosas?

Existem nomes que se transformam de substantivos próprios em adjetivos. Entre meus amigos, por exemplo, se você chamar uma pessoa de Michelona enquanto ela está comendo, isso pode ter sérias consequências... Só quem conheceu certa criança chamada Michele entende como é que este substantivo próprio virou adjetivo na região norte de Belo Horizonte. Mas não posso explicar aqui, pessoal! Tenho que manter minhas amizades... Você já entendeu onde quero chegar!

Um único verbo conta uma história, como o corajoso "Nego" na bandeira da Paraíba.

Elas derrubam e constroem. Tiram-nos a coragem ou provocam nossos brios, Nos livros de Bernard Cornwell então... os discursos antes das batalhas são tão envolventes que, seu tivesse uma espada, meu marido estaria correndo um sério perigo (já que eu tenho o hábito de ler de madrugada, e ele, dormindo inocente ao meu lado!)...

Todo mundo tem suas palavras favoritas. Eu amo Esperança, Alfarrábio, Saudade, Resiliência, Adoração. Já torço o nariz prá Plástico, Eclético, Lírico. Não adianta perguntar. Não sei por quê. Só sei que foi assim.

E num pais onde o que se valoriza é a cultura musical, chamada pop, invento eu de viver da palavra! Puxa... alguém poderia me dar um bom conselho com algumas palavrinhas...

Quando eu era criança, meu sonho era ter o dom da Emília, Marquesa de Rabicó, que usava o infalível Faz-de-conta para resolver qualquer aperto! Apenas com as palavras, a boneca de pano do Sítio do Pica Pau Amarelo era a heroína perfeita! E convenhamos, inconveniente às vezes.

Mas o que eu espero mesmo é que você tenha dado um único sorriso enquanto leu estas palavras! 


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