Quando escrevemos um livro, temos duas expectativas pelas quais esperamos ansiosamente. A primeira é pelo livro em si. Esperamos para ver se a capa ficou realmente do jeito que imaginamos. O papel é bom? O acabamento, impecável? Há erros de impressão? O cheiro é tão delicioso quanto de um bebezinho recém-nascido? Ah... receber o primeiro livro nas mãos é uma experiência única! Será que os outros autores também ficaram lendo os capítulos preferidos? Ficaram imaginando a reação das pessoas a quem agradecemos no final, ou da pessoa a quem o dedicamos?
Quando o livro chega às nossas mãos, é como se o sonho passasse para o plano real. Finalmente, concretizei o que comecei. Aquele tanto de ideias soltas se torna quase um 'indivíduo', agora com vida própria, e nós, escritores, jamais sabemos onde ele poderá parar. Eu li essa semana que 'quem toca o tambor não sabe onde o som pode chegar' e é mais ou menos assim que me senti quando vi O Vale de Elah publicado. Pensei: 'em que mãos chegará? Como as pessoas se sentirão ao lê-lo?'. Fiquei imaginando uma menina na biblioteca da escola, se identificando com Adaliah ao não aceitar que outros tomem as decisões importantes de sua vida por ela, ou o rapaz no ponto de ônibus, pensando que a vida dele é como a de Samah, que precisava ser marido e pai quando tudo o que ele queria era ser filho...
A segunda expectativa é quanto às impressões que as pessoas terão do seu livro! Eu decidi que seria um livro propositalmente fino, para incentivar as pessoas que não estão acostumadas a ler. Era uma meta pessoal isso e fiquei imensamente feliz quando ouvi de minha irmã que uma senhora já idosa, que serve na cantina da escola, estava toda orgulhosa por ter conseguido ler um livro inteiro pela primeira vez na vida! Uau! Sabe lá o que é isso, ser o primeiro livro lido por uma pessoa? Eu quase não me cabia...
Eu não sei você, mas eu tenho amigos muito críticos e a opinião deles também foi avidamente esperada... Queria saber o que diriam da forma que escrevo, se a história era boa, e também, como todo autor iniciante, fiquei esperando uma enxurrada de elogios.
Vou confessar: queria que os editores que não responderam quando enviei meu manuscrito se revirassem na catacumba ao ver o que perderam!!! Que roessem as unhas pensando que furo literário havia passado debaixo dos seus narizes e imaginei que meu telefone jamais pararia de tocar, tamanha a ansiedade das livrarias em conseguir exemplares. Mentalmente, até fiquei treinando: 'desculpe, mas a tiragem foi somente essa. Vocês vão realmente precisar esperar pela quarta edição!'. Ô gente! O sonho é livre, né? (risos)
Claro que os elogios vieram, já que quem tem amigo não morre pagão! Existem pessoas cuja profissão deveria ser 'encorajadora de sonhos', tamanha ajuda me deram! Mas então, veio a primeira crítica. (som de freada de ônibus! – Ônibus grande)
Bom, vou explicar meu ponto de vista: eu não acredito naquilo que as pessoas chamam de 'crítica negativa, ou positiva'. Acho que crítica é sempre CRÍTICA. É uma coisa ruim. É chato. É desmotivador. Positiva ou negativa é a atitude de quem a recebe, que pode rasgar seu manuscrito em mil pedaços e excluir o arquivo .docx ou fazer mais cinquenta revisões, reescrevendo tudo até conseguir ficar satisfeita.
Mas você pode estar se perguntando por que então mandar os livros pros blogs e pedir resenha se não quer crítica. Gente, crítica é diferente de opinião. E a diferença básica é quando se pede ou não. Se eu pedi, é opinião. Se não pedi, é crítica. Pura e simplesmente. E nem todo blogueiro sabe expressar sua opinião de uma forma a não abalar nossos sonhos... Eu tive resenhas tão diferentes que nem sabia o que pensar! Afinal, o livro é bom ou é ruim?? E alguém já disse que o mundo não quer saber as tempestades que enfrentamos: ele quer saber se trouxemos o navio. Outra diferença entre crítica e opinião é que a pessoa que sabe colocar sua opinião, ao pontuar os pontos frágeis ou que precisam ser melhorados na sua obra (viu como fica bonito colocado assim, ao invés de falar 'ao dizer o que ficou horrível'?) dá também sugestões para que essa melhora aconteça. Essas sugestões representam também a fé que no futuro nós vamos escrever melhor, e que continuaremos a ser lidos por elas! Isso sim, é positivo.
Ao final de tudo, acredito que pessoas coléricas e perfeccionistas ao se meter a escritoras devem saber onde estão amarrando seu jegue! A expectativa faz parte da experiência. Ninguém escreve e não quer saber como o livro ficará ou o que as pessoas pensarão dele. Quem escreve, quer ser lido. Quer contribuir de alguma forma para a vida das pessoas. Quer deixar para posteridade um pouco do universo que traz dentro de sua imaginação... As insatisfações são resultado da realidade, porque não conseguimos que as coisas sejam do modo exato que imaginamos, mas... fazem parte.
Acredito que manter o bom humor diante das críticas e das opiniões, (até mesmo porque não podemos nos levar tão a sério, não é?) e continuar fazendo nosso melhor é a chave para ficar satisfeito com nosso trabalho. Afinal, podemos manter um bom sorriso no rosto pensando que o livro pode não ter sido perfeito, mas nas circunstâncias que me cercaram naquela época, foi o meu melhor!
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Poucas Letras - Crônicas e outros papos
Historia CortaColeção de crônicas e pensamentos de uma autora inciante, compartilhados com quem gosta de ler!