Um dos livros mais impressionantes que tive o prazer de ler foi O Nome do Vento. Quem busca originalidade e uma boa história, certamente precisa conhecer a obra de Patrick Rufus. Foi da boca do personagem Kote que aprendi sobre as quatro portas, e prá variar, discordei!
Ele diz que o ser humano passa por quatro portas quando está enfrentando algum problema extremamente sério. A primeira porta é o sono. A porta mais deliciosa... acho que aqueles que já tomaram uma boa surra dos pais sabem o que acontece depois: dormimos! É uma porta fácil por onde fugir, porque no sono não precisamos nos preocupar com absolutamente nada! É como ficar livre, naquelas horas de alienação, de tudo o que nos inquieta. Totalmente compreensível quando vimos Dumbledore respondendo ao Snape que não acordaria Harry, em Harry Poter e o Prisioneiro de Askaban, porque no sono ele estaria protegido. Frequentemente usamos esta porta, mesmo que seja fingindo! As mulheres casadas agregam o sono fingido à dor de cabeça e por aí vai...É uma porta fácil.
A segunda porta é o esquecimento. Quem nunca usou essa fuga: "Esqueci!" acompanhada daquela cara de abajur apagado, ao se ver em alguma situação com a qual não quer lidar? Esquecemos o aniversário da sogra, de tomar o remédio, de ir àquela entrevista de emprego... Agora, se for alguma coisa boa, não esquecemos jamais, né? O legal desta porta é que todo mundo a aceita como resposta: ao "Por que não fez?" tascamos logo um "esqueci!" bem arranjado e pronto! Sem mais! Sem complicações! Sem acusações. Esta porta nos permite adiar tanta coisa que vale a pena passar por ela e incorrer na alcunha de procrastinadores! É uma porta conveniente.
A terceira porta é a da loucura. Quantas vezes alguém nos pergunta: "Você ficou louco?" e a resposta sincera é um estrondoso SIM! Existem problemas que exigem tanto de nós, ou que acumulam pitadas de injustiça, desespero ou impotência, que não é raro tomamos medidas insanas, que em tempos de tranquilidade, jamais admitiríamos. Já viu a solidão empurrar alguém através da porta da loucura para relacionamentos horríveis, que só podem fazer mal? Pedidos de demissão precipitados, rompimentos de sociedade, até cortes de cabelos... tudo loucuras que lançamos mão na hora do desespero. Eu acho que esta é a porta mais perigosa, porque frequentemente é seguida de arrependimento! Essa é uma porta desesperada.
A quarta e última porta de Rufus é a morte. Essa é a porta definitiva, porque todos os problemas realmente cessam aí. É a porta que os covardes atravessam, porque não resolve absolutamente nada, ao contrário: transfere aos que ficaram a responsabilidade de lidar com aquilo que foi a justificativa para uma medida tão extrema! Kote termina por aí suas portas e é exatamente aí que eu discordo.
Existe uma Porta Maravilhosa, que podemos atravessar antes mesmo do sono, do esquecimento, loucura e definitivamente, antes da morte! Essa porta é Deus! Jesus disse no evangelho: "Eu sou a porta! Quem passar por mim, encontrará alimento!" Todos os que estão em situações difíceis demais para si, e além de suas forças e recursos, sempre a encontram aberta. Essa Porta pode até se abrir como um escape, um livramento, mas certamente se torna um lugar seguro prá ficar prá sempre, basta recorrer a ela uma única vez! As leis que regem esse mundo são muito complexas mesmo... até mesmo num romance fantástico como As Crônicas do Matador do Rei – Primeiro Dia, mas na vida real, precisamos saber sempre que existe uma Porta aberta quando as forças nos faltam. O dia que você estiver cansado e sobrecarregado, experimente esta antes das outras. Escrevo isso baseado no que tenho visto.
Um abraço!
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Poucas Letras - Crônicas e outros papos
ContoColeção de crônicas e pensamentos de uma autora inciante, compartilhados com quem gosta de ler!