Capítulo 3 - Contos de Fadas? Quais?

24 4 2
                                    

Quando criança eu sempre me encantei com as histórias de princesas e heróis que me foram apresentadas. Recordo ainda um livro com ilustrações, onde vi pela primeira vez a Branca de Neve e os sete anões. Uau! Outro mundo, onde as pessoas viviam em castelos margeados por florestas encantadas, cheias de magia, seres fantásticos e animais que interagiam e se tornavam amigos... Era maravilhoso! A delicadeza das princesas, coragem dos príncipes, a honra dos amigos... tudo se abria diante dos meus olhos quando eu começava um livro novo!

Acho que é por isso que não me espanto que atualmente séries de TV como Once Opon a Time, Grimm e outras, baseadas nestes contos, façam tanto sucesso. Claro que fariam. Nos contos de fadas, recontados ou nas versões originais, podemos fugir para uma realidade que é bem mais fácil de lidar do que nosso cotidiano de trabalho, contas a pagar, trânsito, e tantas responsabilidades de adultos que abraçamos com alegria a chance de fugir para os reinos tão distantes... Sempre temos nossos preferidos, com os quais nos identificamos por alguma razão.

Sempre aceitei de bom grado as histórias e seus desfechos, mas agora que a idade já carregou a forma infantil e inocente de ler e aceitar tudo o que está no papel, tenho outras perspectivas do que vejo nessas histórias! Não há conto de fadas: é nossa própria história! Explico:

A primeira vez que me perguntei como a mãe da Chapeuzinho Vermelho podia deixar sua própria mãe (a Vovó da Chapeuzinho) morar no meio da floresta, onde vivia também um lobo mau, percebi que a história não era tão simples assim. E o pior, essa mãe ainda sabendo que "o lobo mau passeia lá por perto", manda sua filhinha levar o lanche prá sua mãe. Por que não foi ela mesma, que era adulta? Aliás, por que não trouxe a vovó prá morar com elas, tirando daquela floresta perigosa e alimentando a velhinha, não com bolinhos, mas com comida de verdade? E ainda por cima, veste a menina com uma capinha bem discreta VERMELHA! Só faltou desenhar um alvo nas costas da coitada da menina prá garantir que o lobo a encontrasse ali! Que mãe é essa, meu Deus? Depois disso, foi um passo prá ficar questionando os comportamentos bizarros em cada historinha de carochinha:

Você também já se perguntou como é que o Príncipe encontra uma completa desconhecida desmaiada no meio de uma floresta e se apaixona imediatamente, ao ponto de beijar um cadáver, sem nem se perguntar do que foi que ela morreu? E se fosse uma peste? Se fosse em nosso tempo, a manchete no jornal seria assim: homem encontra cadáver na floresta e apaixona-se perdidamente por desconhecida morta. Não seria estranhíssimo? Mas nós aceitamos como a coisa mais natural do mundo!

Agora, meu conto mais questionado é o da Bela Adormecida! Veja... será que não era mais fácil ter contado prá menina que ela não podia chegar perto de um fuso de roca e ensinado a Bela a reconhecer o perigo? Eliminar todas as rocas do reino e deixar a menina à mercê da curiosidade foi ajudar demais a bruxa que não foi convidada pro baile! Com pais assim, ela precisava mesmo de sete fadas madrinhas prá compensar o azar, né?

Questionando essas histórias, vi que elas não eram perfeitas, justamente por não serem histórias de fadas: são histórias humanas. Podem até se passar em lugares fantásticos, mas retratam comportamentos típicos de cada família que conhecemos.

Quem não conhece uma mãe que exige cuidados da filha que ela mesma não tem com sua própria mãe? Quem não conhece um rapaz que se apaixonou por nada mais que uma estampa? Quem não conhece pais que proíbem isso ou aquilo aos filhos sem sequer explicar o por quê? Estamos todos refletidos nesses contos, com nossos dramas e decisões erradas, mas principalmente em nossa capacidade de, apesar de colocados em situações terríveis, conseguirmos ser vencedores no final. Toda criança precisa ouvir isso na infância e nós adultos também somos carentes que alguém nos lembre: o bem vence o mal! O bem triunfa no final! Isso nos ajuda, no século que vivemos, a continuar lutando por um amanhã melhor. Encoraja-nos a fazer a escolha certa quando estamos diante do que é fácil e do que é certo. Desafia-nos a escrever nossas histórias, crendo que no final, por mais monstros, lobos e bruxas que tenham nos assustado, machucado ou prejudicado, seremos felizes para sempre!

Um grande abraço!



Poucas Letras - Crônicas e outros paposOnde histórias criam vida. Descubra agora