escola

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Erick e Mario têm sido bondosos comigo em me acompanhar no meu primeiro dia de aula em todo lugar que eu vá. Exceto dentro da sala de aula, até porque eles são de outra turma. Lívia, uma garota morena de cabelos cor de mel com um jeito legal de ser e descolado, se senta ao meu lado e fez questão de explicar tudo para mim. Quem é quem, quais são os professores "tiranos" - segundo ela -, os bonzinhos, como funcionava o esquema das provas, trabalhos...

Resumindo, até que hoje foi um dia acima do esperado. Tive a sorte de não encontrar o tal do Jaques hoje cedo. Quando eu acordei, só Madalena, Erick e Mario estavam na pensão. Os dois últimos me esperando. O resto já haviam ido para seus respectivos compromissos.

Jaques despertava em mim um tipo de autopreservação. Ele me intimidava. Um bad boy que ama quebrar corações de pobres donzelas, que não se importa com sentimentos alheios, muito menos românticos.

- Alba?

O amigo dele também deve compartilhar desse mesmo modo de vida - se assim posso chamar. Com certeza, o Jaques flertou com todas as garotas recém chegadas na pensão. Seria típico.

Aliás, como eles teriam ido parar ali. Eles aparentam ter dinheiro suficiente para pagar uma pensão em bons estados. Eles são bonitos demais e usam roupas que devem ter custado uma boa nota.

- Alba?

Diferente de mim, que sempre tive que me contentar com o pouco. Minha tia só concordou em me mandar pra cá pagando o preço mais baixo, o mínimo possível. Nem me importei para onde eu iria. Só queria sair daquele inferno de vida. Queria fugir, estar sozinha no meu mundo. Agora ninguém mais poderia penetrar nesse meu mundo, seria uma estranha, uma desconhecida...

- Alba?!

Tirei os meus olhos do prato que eu encarava e remexia sem vontade. Erick havia me chamado. O encarei, e ele parecia intrigado com algo. Percebi que eu não havia comido quase nada e que eu devia estar balançando a colher pra lá e pra cá por muito tempo.

Erick estava preocupado. Suas linhas faciais devido a extrema magreza acentuadas na pele bronzeada. Sorri timidamente e pus uma colher na boa cheia da sopa.

Meu apetite é assim: tem dias que eu como toda hora só por distração; outros dias eu não quero comer nada pois já estou suficientemente distraida. Mesmo quando minha fome é grande, em dias de pouco apatite, eu costumo pular refeições. As vezes, só não tenho ânimo de colocar a comida na boca. Outras vezes, me consumo de culpa por ter comido. Como se passar fome fosse mais tranquilizador.

Estou em um dia que eu não sei bem a motivação por não querer comer. Eu não sei o que há comigo. Na verdade, nunca sei...

- Sem fome? - Mario falou, de forma brincalhona. Era inevitável olhar para ele e não pensar o quão estranho ele parecia naquele refeitório cheio de jovens no auge da puberdade. Ele parecia uma criança nos seus 1,55 cm de altura.

- Sim - Levantei os cantos da minha boca, o que foi suficiente para aliviar a expressão de estranhamento do Erick.

Depois, veio um longo silêncio. Na verdade, não o silêncio em si. Mas o barulho das conversas das outras pessoas no refeitório, sem mais conversas no nosso trio.

As vezes, eu pegava o Erick me observando. Mario permanecia com sua expressão como se algo ali o divertisse. Ora ele se virava e falava com um garoto do lado, caçoando. Ora ele fitava seu prato e enfiava em sua boca colheradas enormes da sopa.

- Gostou da escola? - Erick por fim proferiu.

- Sim, gostei.

- É uma pena a gente não ter ficado na mesma sala. Seria ótimo, assim eu poderia te ajudar... - Ele parou e pensou - Se você precisar, claro. E querer.

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