escola

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Acordar com uma rajada de água fria... Há coisa pior? Se tiver não duvido. Afinal, cada dia que passa eu me surpreendo mais em como as coisas podem piorar.

Alice conteve a sua gargalhada ainda me olhando com ar divertido. Recolheu o copo - um copo enorme, vale ressaltar - e abriu sua boca com naturalidade.

- Foi mal. Me descuidei e a água caiu - seus olhos castanhos claros brilharam e ela se inclinou em minha direção, proferindo em tom mais baixo - Estava muito fria?

Gruni. Estava cheia de fúria e indignação. Qual o problema dela?

- Porque você não me deixa em paz? - Tive a intensão de gritar com ela, mas o máximo que consegui foi uma leve imitação de uma criança amuada.

- Desculpa - Foi só o que falou. Já estava a ponto de rir.

- Qual o seu problema comigo?

- Só não gosto de você - Ela me fuzilou com olhares altivos e, então, corri para fora do quarto. Como um tornado, adentrei no banheiro conseguindo assim a atenção de Eric, Mario, Madalena, Madu e Lola que tomavam café na sala.

Ignorei-os somente. E tentei ignorar o fato de que, naquele momento, eu era alvo de curiosidade deles.

Doce vício, escape doentio. Era sempre assim: nunca permitia que alguém me visse chorar.

Em meio aos choros, soluços contidos que travavam a minha garganta, relembrei os meus quatorze anos. O clima úmido da minha cidade, as chuvas que molhavam a terra e exalava um cheiro único e nostálgico. Da minha mãe chegando em casa em todos os crepúsculos.  

Dias que não eram perfeitos, mas eram mais preferíveis que o meu presente. Minha casa era um lugar conhecido, confortável. Eu sonhava, eu cantava e me iludia, pelo menos.

Agora eu estava morando em uma pensão, em uma escola nova e em outra cidade. Mesmo que a ideia de ter vindo pra cá tenha partido de mim, isso não deixava de me causar um certo arrependimento as vezes.

Quando eu conheci Alice, me arrependi de ter vindo. Ela era uma pessoa aparentemente auto suficiente, que não tem medo de dizer o que lhe vem a cabeça e ainda disposta por fazer da minha vida mais infernal do que ela já é.

Derramar suco em mim, me enganar quanto aos vestiários e me acordar com água gelada talvez sejam somente uma amostra gratuita do que ela é capaz de fazer.

Quando eu tive que entrar no refeitório hoje de novo, foi um imenso desafio. Estava apreensiva quanto Alice aparecer de repente e por em prática mais uma de suas brincadeiras de mau gosto.

Mas, acabou sendo legal tendo a companhia de Mario, Eric e Lívia juntos comigo. Acabou sendo divertido ver o quanto um garoto pequeno como o Mario consegue comer. É impressionante!

E Eric... Eric como sempre...

- Alba! Você está prestando atenção?! - Lívia me tirou das minhas lembranças - Não acredito que não está prestando atenção. Você tem as cabeças nas nuvens, garota?

Nos duas estávamos sentadas em uma das mesas da área aberta da escola. O lugar ficava perto do estacionamento. Era tranquilo e extremamente verde, belo. Cheio de árvores colossais e com a grama cobrindo todo chão visível. Lá os alunos se reuniam e conversavam nas horas vagas. E, como a nossa turma estava em horário vago devido a falta de um professor, eu e Lívia nos recolhemos lá.

- Desculpa. Estava pensando em casa - Respondi enquanto o vento balançava os meus negros e curtos cabelos.

- Ah. Você deve está com saudade mesmo... Se fosse eu em outra cidade e longe da minha família, minha mãe e eu ligaríamos uma pra outra a cada cinco minutos.

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