Capítulo 11 - Os heróis Celtas

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A BATALHA DAS RESES DE COOLEY

O poema épico "Tain Bó Cúalge"nos conta a história do guerreiro Cú-Chulainn defendendo com uma mão toda a Província do Norte contra os Homens de Irlanda. Numa ocasião desta batalha, quando o guerreiro encontrava-se gravemente ferido e necessitando de repouso, o Deus Lugh aparece caminhando por entre os cadáveres.

- "Quem és?" pergunta Cú-Chulainn ao guerreiro fantasma.

- "Sou Lugh teu pai do Mundo Exterior, filho de Ethliu. Dorme um pouco, Cú-Chulainn", responde o radiante soldado "e eu, enquanto isso desafiarei a todos".

Ser o melhor dos guerreiros era o ideal dos celtas, mas morrer na batalha rodeado de amigos e centenas de inimigos era a consumação suprema. Este tipo de pensamento para nós é um tanto fanático e paranóico, mas para o povo celta a morte é a causa da vida. A preparação para este momento supremo proporcionava ao soldado celta, desde a sua iniciação, valor e orgulho. Na história de Cú-Chulainn, o Deus Sol se materializa para assumir as funções de guerreiro que, após morrer durante três dias, continua mortal. Neste estado de bardo, pode ascender em direção a três mundos místicos celtas: ao corpo terrestre, ao espírito físico e ao da radiante luz da alma, no qual o próprio Sol se manifesta.

Esta mutação entre o soldado humano e seu arquétipo do outro mundo é algo comum nos relatos celtas. É também a chave dos mistérios celtas: a fusão do espiritual, do físico e do imaginário.

O mais fascinante e romântico destes heróis do Sol, foi o rei Artur. É bem provável que seu personagem histórico tenha sido um líder militar do século VI. A evocação de Artur em topônimos de toda a Grã-Bretanha é uma amostra da admiração européia por Lugh e outros heróis celtas. Conta-se, que aos sete anos, Merlin deixou os druidas impressionados ao destruir dois dragões que minavam as fundações de um forte real. A transformação deste menino prodígio no profeta e conselheiro do novo arquétipo solar é um tema muito comum.

Já Artur tem relação mítica com São Miguel, como Senhor da Luz, ao destruir os poderes da obscuridade de dragão. São Miguel, por sua vez, que é apresentado segurando uma balança e pesando as almas nas encruzilhadas da Irlanda, transforma-se em reencarnação de Tot, deus egípcio do mundo e dos mortos. Na tradição islâmica, Miguel era o anjo a quem Deus deu o poder de cumprir sua vontade no universo do vento e da chuva. No contexto celta, Miguel, como entidade solar, é a força primária que mantém nivelados os elementos angelicais e terrenos de sua própria natureza.

Os mistérios celtas tomavam forma nos estados intermediários como o crepúsculo, entre a luz e a obscuridade, ou o dia ou a noite, ou o orvalho, que não é nem chuva nem água do mar ou rio, nem água de poço e utilizavam o visco sagrado, que não era planta, nem árvore. A área de fluxo, plena de presságios e de acontecimentos extraordinários, era indeterminada, e o guerreiro podia lutar contra ela pondo em jogo sua vida. Esta maneira de estar vivo, se caracteriza por quatro qualidades. Para ser soldado há que se ter respeito, ter consciência do medo, estar sempre atento e ter confiança em si mesmo. A partir disso, o perigo resumia-se em uma consciência do que se pretende.


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