BLIND || J.B ||

The Friend

"Não corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros."
-Desconhecido-

Avalon

Entrei pelos portões com a mochila pendurada de meneira desleixada em meus ombros e a cabeça baixa. Não queria chamar atenção.

Sempre levei a "fama" em um colégio de forma ruim, como algo constrangedor de que nós não costumamos nos orgulhar. Já tive alguns títulos no colégio durante minha pré adolescência como "soneca" ou "Shut Up". Havia os ganhado devido ao meu problema com sono extremo no momento em que entrava na minha antiga escola, e a minha boca que aparentemente não foi criada com o intuito de comunicação, eu era e sou bastante calada. Mas se há um título que eu nunca imaginei que me pertenceria um dia (ou nunca quis) é o de "valentão" ou "Bully" e com certeza, muito menos o de alguém que apronta ou é rude com deficientes físicos!

Sentia-me culpada por ter sido tão rude com o garoto. Claro, ele foi rude também mas poxa, ele é cego! Se ele quiser por fogo no colégio, terá o meu apoio! Ok, talvez não seja para tanto... Mas havia mesmo passado boa parte do meu tempo remoendo sobre aquilo.

Entrei nas instalações da Cypher e respirei fundo sentindo as panquecas que havia comido minutos antes se revirando em meu estômago, mas segurei as pontas e simplesmente andei ate meu armário.
Droga. A combinação simplesmente não funcionava. 35....65.... Qual era mesmo?

- Precisa de ajuda? - Fui interrompida de minha discussão interna por uma voz feminina e um tanto jovem. Virei-me e pude ver a dona da voz, uma garota que devia ter seus 17 anos. Cabelo roxo e um sorriso no rosto. Guardava suas mãos dentro de um blusão preto que dizia "sleep, Eat, sing, repeat".

- Ah , eu... Acho que é essa droga de armário! - Tentava novamente colocar a combinação correta no cadeado, não havia tido êxito - Não quer abrir.

- Pode me deixar tentar? - A garota perguntou e eu bufei me dando por vencida e lhe oferecendo espaço para que tentasse.

A garota simplesmente sorriu e se aproximou. Não demorou. Apenas algumas batidas na tranca e um click. Destrancada, pensei.
A garota sorriu novamente e eu lhe dirigi meu melhor sorriso forçado deixando de lado meu ego machucado.

- Essas trancas sempre travam. É perfeitamente normal mas já vi que você é novata. - Me estendeu a mão esquerda em um comprimento - Meu nome é Violet.

Olhei para sua mão. Então é assim? Fazer amizades facilmente? É rápido... E eu gostei disso.
Apertei sua mão e assenti.

- Sou a Avalon e - Olhei para o cabelo roxo e pouco bagunçado da Violet - gostei do cabelo.

- Obrigado, gostaria que minha mãe tivesse a mesma opinião sobre ele. - Ela soltou uma risada nervosa e eu não posso deixar de analisa-la.

Adolescente problematica incompreendida ou adolescente problemática porque é incompreendida? Sem dúvida, isso é no mínimo interessante. Eu nunca tive muita oportunidade para agir como rebelde em minha adolescência. Era isso e o fato de que eu simplesmente não queria. Achava que meu pai já tinha problemas suficientes na vida dele para que eu fosse mais um.

- Hey, não deixe que o assunto acabe! São 49 minutos até que minha primeira aula comece! - Ela disse em tom chateado e eu simplesmente ri fracamente.

- Desculpe, mas não sou muito boa em socialização com seres humanos. - Disse e tirei um de meus livros de dentro do armário arrombado. Violet se ofereceu para fechar o armário novamente e eu não me opus.