Avalon
As ondas faziam um barulho abafado e me faziam respirar com a mesma calma que elas se moviam, isso enquanto estava sentada na varanda da casa dos meus pais e as observava.
Era uma manhã de domingo e as coisas estavam extremamente pacatas naquela parte da praia. Me perguntava se o dia terminaria sem nenhuma novidade por que, veja bem, eu já não tinha seriados bons pra assistir na Netflix. Mas, para minha felicidade, isso não aconteceu.
Quando me peguei lembrando o quanto a noite de ontem foi memorável (e cheia de choques, tipo admitir pra mim mesma que tenho uma paixãozinha por um garoto insuportável) eu ouvi o chamado do meu avô vindo da cozinha.
– Avalon! Temos companhia para o almoço!
Quando cheguei a cozinha quase coloquei o jantar de ontem para fora, levando em conta que não havia comido nada naquele dia. Era apenas Justin Bieber, sentado na minha cozinha com uma expressão calma e serena enquanto meu avô cortava o pão para nossos hambúrgueres. Mas quem chamou ele ali? Eu não havia chamado! E então eu agradeci pelo loiro não poder ver meu estado deplorável e ridículo usando meu pijama de sapinhos com meu cabelo bagunçado, que mais parecia um ninho de passaros.
Sumi subindo correndo as escadas por puro impulso, sem nem dizer um "oi", e pude ouvir um "ué" vindo do meu avô. Tomei o que eu julgava ser o banho mais rápido e bem tomado da história dos banhos e arrumei meu cabelo como podia. Droga Justin! Por que sempre nas horas mais inconvenientes?
Enquanto lutava com a vontade de passar a maquina zero na minha cabeça, ouvi batidas na porta e virei para ver quem era. Justin estava parado na porta e segurava seu bastão.
– Ué, como você... – Comecei.
– Subiu aqui? Bom, Avalon – um sorriso apareceu em seus lábios – eu sou deficiente visual, não aleijado.
Revirei meus olhos.
– As vezes acho que sua única deficiência é a falta de gentileza. Me referi as escadas, seu idiota. – Eu levantei e fui calçar meus all stars mais velhos.
Ouvi a risada de Justin e acabei sorrindo de lado. Ouvir aquilo era bom demais. Soava como uma melodia calma e serena, a melhor risada.
– Eu não queria ter chegado e invadindo – O olhei enquanto ele falava. "Ah ta", eu pensei – É só que, bom, eu estava perto da praia e pensei "Thomas ia gostar de me ver".
Eu levantei minhas sobrancelhas quase que automaticamente e andei até o loiro.
– Então, você se quer lembrou que eu também moro aqui. É isso? – falei em tom de indignação e ele sorriu.
– Desde quando você é ciumenta, Garcia?
Eu corei violentamente quando percebi o mole que eu estava dando. Avalon! Se controla, pelo amor de deus!
– Não é isso que eu quis dizer, é só que achei que eramos amigos, seu cabeça de vento! E você nem me chama desse jeito.
– Eu só pensei que devia começar, seu sobrenome é bem... forte. – Ele sorria.
"Forte? Ok. Mas eu acho que Bieber é melhor... Jogando no ar... Vou aproveitar e jogar o resto da minha vergonha na cara no lixo, para que ficar com migalhas né?"
– Avalon? – Justin me chamou e me tirou do meu transe de adolecente apaixonada, humilhante. – Seu avô disse que o churrasco está pronto. Ta me ouvindo? Avalon?
– Churrasco? Ótimo, vamos indo. – me apressei em sair do quarto e fui andando. Segundos depois pude ouvir os passos lentos de Justin bem atrás de mim.
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BLIND || J.B ||
FanfictionNão eram só os olhos que o impediam de ver, mas a cegueira de não querer enxergar. A realidade o açoitava a alma e ignorá-la o apaziguava a vida. Passou a cultivar o que o aprazia e descartar tudo o que amordaçava a voz da alma. Esquivar-se das dore...