Capítulo 2: O Sonho

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Deitada na cama, olhando para o teto, pensando em todas as coisas que havia vivido no dia de hoje. Escuto barulhos diferentes, pode ser a Amy tentando pegar alguma coisa na cozinha. Passo pelo quarto dela, e a vejo dormindo tranquilamente, e o quarto da mamãe com a porta fechada, como sempre.
Vou para o corredor e desço as escadas, e o barulho parece um...choro de bebê? Oh, meu Deus será que deixaram um bebê na nossa porta? Vou até a porta e quando a abro, vejo o Dean. Sinto meus pés saírem do chão, e após um segundo estou olhando para o teto novamente.

Minhas mãos estão suadas e sinto um vento frio invadir o quarto, percebo que a janela está aberta, vou até lá e a fecho. Me deito, e tento dormir de novo, mas aquele sonho me intrigou a noite inteira.

Será que foi um sonho? Ou tive uma visão? Ah, besteira minha! Devo ter cochilado...

Pela manhã me levanto e vou falar com mamãe. Explico que estavam faltando documentos para que eu pudesse começar a estudar e que não poderia entrar na sala sem eles, mas eu entrei porque estava muito ansiosa.
Ela me escutou, e não gostou muito de eu ter entrado sem permissão. Tinha receio que isso pudesse lhe causar problemas, mas disse-me que resolveria tudo.
Enquanto tomava um banho, estava tão distraída e pensativa, que quando saio, vejo que perdi a hora. Minha mãe e Amy já estavam ansiosas esperando por mim na sala, então mamãe diz:
- Vocês precisam parar de me atrasar! Já estou ficando com vergonha das pessoas dessa cidade. Nossa, eles são tão pontuais!
Mamãe é professora e escritora nas horas vagas (talento que está tentando aprimorar inspirada nos livros de minha avó paterna), mas para acompanhar meu pai nunca tem um emprego fixo. No momento parece-me que ela pegou uma vaga no jornal da cidade e vai começar a escrever uma coluna. Às vezes chego a sentir pena, por vê-la trabalhar a noite toda. Não é todas as noites, mas acontece com frequência.
Avisto Julia atravessando a rua.
- Por favor mamãe, pare o carro! Quero entrar com a minha amiga.
- Nossa que bom, já está fazendo amizades!
Dou um sorriso e saio do carro.
- Julia! Julia! Me espere!

- Ora, você? Pensei que não viesse hoje, afinal você disse que tinha problemas para entrar na escola.

- Mamãe já está indo à secretaria resolver. Mas parece que preciso ir com ela.

- Tudo bem, estarei te esperando na sala.

Eu e mamãe vamos até a secretaria. Entregaram-me o cartão de autorização para entrar, visto que a aula já tinha começado. Me despeço e vou para a sala.

Enquanto ando pelo corredor, penso na vergonha que vai ser quando chegar na sala e todos olharem para mim, mas respiro fundo e chego na porta, e parece que estavam tendo aula de ciências, e eu ainda não tinha conhecido a professora...
- Oh, você deve ser a senhorita Parks! Por favor, entre! Sou sua professora de ciências, me chamo Susana.
- Ah, é um prazer conhecer a senhora!
Sento-me ao lado da Julia, mas quando olho ao meu redor, percebo que Dean não veio hoje.
Resolvo perguntar para a Julia.
- Você sabe porque o Dean não veio hoje?
- Eu percebi que ele não veio, mas às vezes isso acontece. Ele já faltou muitas vezes, mas não comenta nada com ninguém sobre o assunto.

- Hum... Mas a escola não fala com os pais dele?

- Não sei, nunca vi os pais dele.

E todas as aulas seguem tranquilamente, menos a aula de história, que também ia bem, até eu perceber que o Sr. Martin não tira os olhos de mim. Sinto um arrepio estranho, afinal ainda não consegui entender o jeito que ele falou comigo na aula anterior e este olhar então... Este homem parece misterioso, mas pode ser que seja só uma cisma minha, devido ao que a Julia falou sobre ele ser um dos professores mais cruéis da escola.

No final da aula, saio conversando com a Julia e percebo que mamãe ainda não chegou, Julia fala que vai até a esquina tentar avistar o carro de sua mãe, enquanto eu fico esperando.

Sento-me aos pés de uma árvore, começo a remexer no celular procurando uma música, precisava relaxar, pois aquele sonho da noite passada ainda rondava minha mente. Quando olho para a porta da escola, vejo Julia conversando com um homem em um carro preto. Tenho que ir até ela e saber o que estaria fazendo debruçada na janela do carro. Corro até lá.

- Julia! Tudo bem aí?

Quando ela se vira, fico surpresa ... Não é ela, mas os cabelos meio longos e a mesma cor de calça me fizeram pensar que fosse.

- Você só pode ser o Matthew! Seus cabelos e agora seu rosto, você é quase a Julia.

- Ah, amiga dela. E ela não te disse que tinha um irmão?

- Bem ela disse, só não disse que eram...

- Gêmeos?

- Eh... - Dou um sorriso - Idênticos!

- Muito prazer então, qual é mesmo seu nome? Amiga da minha irmã...

Respondo que é Alyce ao mesmo tempo em que o homem desce do carro e vem em minha direção.

Matthew o apresenta como seu pai, o Sr. Edgar Turner. O rosto dele também é parecido com os dos gêmeos, percebo logo a quem eles puxaram. Ele me pergunta por Julia e eu disse que ela foi procurar a mãe. Quando ainda estou respondendo Julia chega e pula no pai, vejo que eles têm muito carinho um pelo outro, então penso que trata-se de uma família muito unida. Mudo logo meus pensamentos, quando vejo sua mãe se aproximar e com um tom ríspido dizer ao senhor Turner que ele precisava visitar a filha mais vezes.

Matthew percebe meu constrangimento e puxa-me pelo braço como se fôssemos amigos há muito tempo.

- Você não vai querer ouvir essa conversa, não é mesmo? Venha vamos ali tomar um sorvete.

- Ei vocês, não vão me convidar?

- Relaxa maninha... Achei que gostaria de matar a saudade do papai enquanto troco ideias com essa nossa amiga aqui.

- Nossa amiga? Não começa Matthew!

- Espera! Preciso avisar minha mãe, ela já deve estar chegando. Falo com eles, e saio procurando o telefone pela mochila.

- Pronto! Podemos ir, minha mãe disse que vai demorar mais uns 40 minutos ainda. Saímos os três abraçados.

Vai ser legal conhecer o irmão gêmeo da minha nova amiga. Além de parecer divertido, ele é um gatinho também...





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