1. Cavaleiros do apocalipse

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UM

If you don't love me now, you'll never love me again

E então o inevitável acontecia novamente bem diante dos meus olhos.

A essa altura eu já deveria ter criado alguma resistência, algum tipo de anticorpos emocional, algum calo que me fizesse sentir menos o que quer que fosse que Noah sempre me fazia sentir. No bom e no mau sentido.

Entretanto eu sempre acabava dançando a mesma dança em passos tortos. E pior que isso, dançando sozinha.

Lá estava Noah, encostado no balcão da cozinha de Ziggy, um copo de ponche esquecido numa mão e a outra enroscada na cintura da ruiva que o beijava como se ninguém mais estivesse por ali.

E talvez ninguém devesse estar mesmo. Principalmente eu, mas meus pés haviam sido chumbados no lugar após a mensagem que meu cérebro mandou ao decretar pane: "Ninguém se mexe até eu achar uma solução". E eu esperei até a solução vir, mas nada aconteceu a não ser as lágrimas que desceram quando eles saíram de mãos dadas para algum outro cômodo longe de mim.

Donna, minha melhor amiga, estalou os dedos na minha frente tentando chamar minha atenção, a expressão de pena em seu rosto dizia tudo que eu não queria ouvir. Não agora, nem nunca. Já havia me humilhado muito sozinha, não precisava chorar bêbada na frente de Donna mais uma vez.

— Está tudo bem, Tessa?

Não, não mesmo. Foi o que eu quis dizer.

— Eu só preciso fazer xixi. — foi o que realmente resmunguei no lugar enquanto eu me afastava trôpega em direção ao banheiro.

Pude ouvir Donna suspirar por cima do som e falar algo irritada para Ziggy, seu namorado, que respondeu um abafado "E que culpa eu tenho nisso, anjo?".

Queria voltar e isentar Ziggy da ira da minha melhor amiga, mas eu já estava batendo a porta atrás de mim e um soluço carregado de novas lágrimas me deixou saber que voltar para a festa não seria uma opção boa para o momento.

O banheiro do apartamento não era tão grande, a pia ficava ao lado do vaso sanitário e em frente a banheira com longas cortinas. Embaixo da pia um pequeno gaveteiro com todos os aparatos de cabelo, barba e corpo dos donos estava estrategicamente posicionado.

Olhei-me no espelho por breves segundos deixando a pena me consumir. Pelo espelho eu encarei a cortina da banheira e ela me encarou de volta muito calorosa oferecendo abrigo, um lugar seguro onde eu poderia chorar humilhada e então fingir que renasci das cinzas.

Me joguei para dentro, sentindo o fundo do meu shorts jeans umedecer ao contato com o fundo do porcelanato. Segurei os joelhos juntos e encaixei a cabeça entre eles e chorei pelo que pareceram horas. Chorei tanto, sentindo aquela típica dor gelada correndo por meu peito, falando em um tom fantasmagórico que eu jamais seria amada por ninguém, que em algum ponto o choro e a bebida simplesmente me apagaram.

* * * * * *

— Mas que caralho de cinto. — era a voz de um homem claramente embriagado brigando com uma peça de roupa. Um homem que havia me despertado em meu próprio esconderijo.

Meu pescoço rijo reclamou quando me ajeitei reta novamente, informando o quão relapsa eu havia sido com ele, fazendo um resmungo de dor escapar antes que pudesse contê-lo.

Resmungo esse que chamou a atenção da figura que brigava com o próprio cinto. Foram cinco segundo de puro silêncio seguido pelo movimento meticuloso de abrir a cortina com cuidado para então ser puxada com tudo para longe de mim.

Como (não) Trazer Seu Idiota de VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora