6. Ele disse sim

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SEIS

If I could say what I want to see

I want to see you go down

On one knee

Marry me today

John

A folha com cifra de Juice estava largada sobre minha cama junto com mais uma dúzia de outras baladas enquanto eu a trabalhava no violão.

O aniversário de minha irmã estava se aproximando e naquele ano Sadie não queria um presente que custaria um rim, não... Ela queria se exibir para suas amigas com uma festa e agora cada membro da família estava se virando como podia. Nossa mãe havia se comprometido junto com suas três irmãs de fazerem as comidas enquanto seu pai, meu padrasto, havia descolado um espaço em Long Island com um de seus clientes. Para mim havia sobrado a música e meu irmão e sua esposa, pobres coitados, teriam que se virar com a decoração.

Não obstante em decorar minhas próprias músicas, agora eu tinha que satisfazer a playlist adolescente e ainda atacar de DJ. Realmente, não havia nada que eu não fizesse por minha irmã caçula.

Estava terminando a última música quando meu celular começou a vibrar sobre o travesseiro mostrando na tela a foto da minha mãe. Respirei fundo antes de colocar o violão na cama e começar uma conversa com Dona Irene.

— Alô? — gritou a voz do outro lado da linha.

— Oi, mamãe. — respondi já abaixando o volume do aparelho sabendo o quão alto minha mãe poderia falar.

— Johnny! Estava na Igreja e falei com Laura, aquela minha amiga que tem os dalmátas e adivinha? A filha mais velha dela, Daisy, aquela anjinha, está solteira e na cidade. — ela disse em um só fôlego sem me dar a chance de responder. — Você deveria vir esse final de semana tomar um cafézinho com sua mãe e eu aproveito e apresento vocês.

— Mamãe... — gemi arrastado, mas fui cortado.

— Vocês fariam um casal bonito. — retrucou displicente — Ia me deixar tão orgulhosa, Johnny.

Joguei a cabeça para trás em desistência. Minha mãe só tinha dois motivos para me ligar e eles eram bem simples: ou ela precisava reclamar do meu padrasto ou tentar me arranjar alguma filha, neta, sobrinha ou amiga de uma amiga da igreja dela. Sobre o meu padrasto eu ainda podia aguentar, mas o "você precisa de alguém" estava acabando comigo. Já havia perdido a conta de quantas interações desastrosas minha amada mãe já havia me proporcionado. A última havia sido no jantar de ação de graças com a sobrinha da sua melhor amiga, Juliette, e eu ainda tinha vergonha de lembrar o quão embaraçosas foram as tentativas de nos deixar sozinhos.

— Vou avisar que você vem, vou até pedir um cheesecake daquele lugar que você gosta... Você vai adorar a Daisy, ela é tão linda.

— Mamãe, não. — resmunguei contragosto — Não vai rolar, desculpa.

— Você não está ficando mais novo, sabia? Seu irmão está fazendo o quarto do filho dele já e você aí perdendo noite em barzinhos fingindo que trabalha.

E aí estava um terceiro motivo para ligação: criticar minha escolha de carreira. A pontada da crítica doeu mais do que eu queria admitir. Desde que eu havia entendido o movimento que a música fazia, não só em mim, mas a todos ao meu redor quando eu tocava, eu soube que era o que eu queria fazer da minha vida. Foi pra isso que eu havia saído de Long Island e mudado para Manhattan com a cara e a coragem.

Como (não) Trazer Seu Idiota de VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora