TRÊS
And you can't hold me down 'cause I belong to the hurricane
Donna era minha melhor amiga desde que éramos adolescentes.
Quando a conheci ela era uma das poucas garotas negras na minha turma de francês. Fui direto a cadeira vaga ao lado da sua e aos poucos fomos nos aproximando para a princípio estudarmos juntas para as provas, logo nos habituando a almoçar juntas e criando uma rotina de toda quinta-feira depois da aula tomar um sorvete de baunilha. Um belo dia percebemos que éramos melhores amiga, que era difícil não contar nossos segredos uma para a outra.
Foi com Donna que provei meu primeiro drink, cigarro e baseado. Foi para ela que contei sobre minhas primeiras vezes e inseguranças.
Eu confiaria minha vida a Donna.
Contudo, por algum motivo, quando sentei em seu sofá e a observei separar suas coisas para fazer a manutenção das minhas tranças, as palavras simplesmente não encontraram seu caminho. Não consegui contar sobre a conversa que havia tido com John alguns dias antes e sobre como eu faria Noah sofrer. Algo me dizia que ela iria colocar algum senso em minha cabeça e eu não queria aquilo no momento.
Donna era sensata demais. Esperta demais. E enxerida demais. Ela era minha versão humana de um coquetel molotov. E eu não queria explodir nada ali.
— Você está estranha desde aquela festinha do Ziggy. — ela disse me observando como um cão farejador. Sem uma palavra ela apontou para a cadeira alta no canto de sua sala, na qual ela atualmente atendia seus clientes.
Até alguns meses atrás ela estava trabalhando em um salão especializado em cabelos afro, mas por conta de um corte de pessoal acabou sendo despedida. Como minha amiga não era de se dar por vencida começou a atender em casa mesmo, no pequeno espaço que dividia com mais duas pessoas, e estava dando a volta por cima uma trança raiz por vez.
Tomei meu lugar sem muitos rodeios. Por alguns minutos ficamos em silêncio, o som da playlist que havia escolhido tocava ao fundo. Então ela bufou, incapaz de ficar calada.
— Vai, me conta o que está acontecendo. — disse docemente, me fazendo sentir uma dorzinha por dentro.
— Não é nada. Eu só...
Não fui capaz de concluir meus pensamentos, a porta da frente foi escancarada e por ela entraram John e Ziggy carregados de compras nos braços.
— Oi amorzão, deusa da minha vida, dona do sol. — era Ziggy quem se aproximava de Donna, dando um beijinho cheio de chamego em seu pescoço. Eles eram assim, um casal grude, porém fofo e sempre exaltando um ao outro.
— Oi, meu dengo. O que vocês trouxeram pra gente?
— Pra gente? Quem está aí? — John gritou da cozinha fazendo o caminho de volta para sala e quando seus olhos pararam em mim um sorriso brotou em seu rosto. — Ah, é você.
Ele cortou o curto espaço entre nós e baixou os lábios contra minha testa, como se isso fosse um hábito nosso de longa data. Fiz meu melhor para não torcer o nariz e me forcei a sorrir para ele.
— Ei, eu baixei a nova temporada de Snapped. — informou animado — Fiquei viciado nessa bizarrice.
Me empertiguei na cadeira ao ouvir o nome de um dos meus programas de tv favoritos e logo me peguei sorrindo de verdade.
— Você baixou She made me do it ou Killer Couples? Não importa, assisto os dois.
John riu meneando a cabeça como se concordasse, os polegares enterrados nos bolsos da calça jeans. Por alguns segundo só ficou me olhando, um sorrisinho em seus lábios, quase hipnotizado. Logo sacudiu a cabeça e olhou para um ponto atrás de mim como se só então percebesse que havia mais gente no ambiente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como (não) Trazer Seu Idiota de Volta
Chick-LitTessa está convencida de que o único jeito de fazer Noah Young se tocar que gosta dela é fazendo com que ele enfarte de ciúmes. E segundo Tessa, John Kepner é a chave para o enfarte. Os dois nunca foram grandes amigos, mas para John, toda e qualquer...