Prólogo

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- Luana, volta aqui!

Enquanto Polo chamava por mim em um tom quase que desesperado, eu corria de forma desvairada pela multidão que lotava o Bar dos Estudantes. Sua voz estava próxima demais, dolorida demais, e simplesmente não podia deixar que ele me alcançasse. Eu tinha que correr. Precisava sair daquele lugar o mais rápido possível.

- Lua! - gritou Verônica, se colocando na minha frente - O que está acontecendo?

Não parando nem por um segundo, me desviei de minha amiga e continuei me esgueirando ao redor dos jovens barulhentos que esperavam eufóricos pela segunda parte do show. Depois eu tentaria contar para ela o que estava acontecendo. Agora, eu só precisava fugir. A cada segundo que passava dentro do lounge, as paredes do lugar pareciam deslizar contra mim - me sufocando e me prendendo em uma cena que gostaria de esquecer para sempre.

- Luana, me escuta... Por favor!

Eu estava prestes a chegar à porta de entrada do Bar quando a uma mão forte me agarrou e me fez parar abrupatamente. Temendo ser quem eu menos queria encontrar naquele momento, me virei para trás e dei de cara com Nico - o rosto do meu melhor amigo franzido em suspeita e confusão. Um rosto diferente, e ao mesmo tempo, dolorasamente igual ao do rapaz que gritava por mim.

- Hey, que bicho te mordeu, menina?

Piscando descontroladamente, eu inspirei o mais forte que podia e tentei controlar as lágrimas que queimavam os meus olhos e ameaçavam deslizar pelo meu rosto.

- Me tira daqui, Nico - supliquei, minha voz saindo em sussurro baixo e rouco - Por favor, me tira daqui!

Enquanto ele meneava a cabeça, uma sombra alta e esguia se aproximou de nós pela esquerda e se posicionou atrás de mim - suas mãos grandes, de dedos longos e hábeis, se prendendo de uma maneira protetora aos meus ombros e massageando a tensão que pulsava em cada músculo presente ali.

- Pode deixar comigo, mano - Polo disse, em uma voz tensa e séria, que eu nunca tinha ouvido ele usar - Nós dois precisamos conversar.

- Não! - exclamei, me livrando de seu toque e me virando de frente para ele. - Eu não tenho nada para falar com você...

- Luana, você presica se acalmar.

Eu não precisava me acalmar. O que eu precisava era dar um soco na cara dele. Um bem forte! Mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa, Verônica e Mila - a namorada do Nico - conseguiram atravessar a barreira humana que começava a se formar em volta de nós três e se posicionaram ao meu lado.

- Amiga... Por que você está fugindo? O show da banda ainda não terminou.

- Para mim, sim.

Quando disse aquilo, Polo recuou como se eu tivesse o empurrado. Meus três amigos se entreolharam demoradamente, até que Nico franziu suas sobrancelhas castanhas para o irmão e deu um passo à frente - espalmando a sua mão na base da minha coluna.

- Vamos, Lua. Eu chamo um táxi para você.

- Ela vai ficar e nós dois vamos conversar - Polo se adiantou, seu rosto duro e seus punhos cerrados com irritação pela intromição do caçula.

- Eu não tenho nada para conversar com você! - eu gritei, não conseguindo mais me segurar.

- Amor, se acalma, tá bom? - Polo murmurou, tentando se aproximar de mim como se eu fosse um animal arisco - Nós vamos conversar, e vamos resolver isto tudo.

- Não existe nada para resolver! - exclamei, me odiando profundamente por deixar as lágrimas quentes escaparem dos meus olhos e pela fraqueza transparente em minha voz. Eu não gostava de ser fraca. Esta não era eu. - O que você espera? Que eu esqueça o que acabou de acontecer? Que eu finja que não vi aquilo?

Diante das minhas perguntas, Polo se calou. Ele passava desesperadamente as mãos pelos seus cabelos castanhos e rebeldes, olhando para o irmão e para as minhas amigas como quem clama por ajuda. Mas não era esta a reação que eu esperava dele. No íntimo, eu queria que ele ao menos tentasse me convencer do contrário. Que rebatesse as acusações. Mas ele não o fez. Apenas ficou em silêncio. E foi isto, acima de tudo, que me fez falar a única coisa que eu poderia dizer naquele momento.

- Acabou, Polo. Não me procure mais.

Diante da dor que cruzou os olhos do rapaz a minha frente, me virei e voltei a correr - me esquivando das mãos acolhedoras dos meus amigos e dos olhares questionadores e curiosos das pessoas ao redor. Pois tudo o que eu precisava fazer era sumir e encontrar um lugar onde meu coração não seria machucado com lembranças de uma relação verdadeira que eu pensei que tinha, mas que na verdade era uma farsa. Tudo o que eu precisava no momento era um lugar para me esconder do Polo, dos meus amigos, e principalmente de mim mesma.

E, com um pouco de sorte, eu sabia exatamente para onde ir.


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