Capítulo Três

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Depois de meia hora afagando a minha carência, resolvi despachar a Cissa para o seu encontro duplo e me enrolei nas cobertas da minha cama. No começo, ela discutiu comigo - falando que podia muito bem cancelar a sua saída, que eu não deveria ficar sozinha e todas estas coisas - mas logo percebeu que eu já havia tomado a minha decisão. Amava a minha irmã e o que ela estava fazendo... Mas odiava me sentir assim, tão fraca e sentimental. Eu lutava com todas as minhas forças contra esta terrível sensação de fragilidade que fica na gente após um término difícil, mas obviamente não era a coisa mais fácil do mundo. E, sendo sincera, não queria ser este tipo de irmã chata que fica empatando a vida social da outra em prol das suas vontades. Não suporto este tipo de pessoa, que acham que seus problemas devem obliterar o mundo de todos ao seu redor, e com certeza não me perdoaria se acabasse me tornando uma.

Logo depois que a Cecília saiu, liguei a televisão e fiquei assistindo a um filme idiota sobre duas amigas que descobrem que são irmãs, e fazem um drama enorme sobre isto. Antes mesmo dele terminar, eu já estava no meu sétimo sono, não sonhando com nada e babando muito nos meus travesseiros. O que, levando em conta todo o meu histórico de baladas e festas e programas noturnos em São Paulo, já poderia ser considerado o pior fim de noite de todos os tempos.

No Domingo de manhã, minha mãe me acordou bem cedo para perguntar se eu não gostaria de ir ao clube com a Cecília e os amigos dela. Só de me imaginar segurando vela de um bando de pirralho eu caí na gargalhada, então, da forma mais delicada e cortez que conhecia, eu me esquivei do convite e decidi ficar em casa com os meus pais - me entupindo de besteiras e vendo o maior número possível de episódios de Friends e Gilmore Gilrs.

Dona Luciana não curtiu nada o meu declínio, já que, para ela, eu estava tão pálida que nem parecia mais que minha pele era morena. Entretanto, eu não estava no clima. Quero dizer, de usar bíquine, ficar na beira de uma piscina, estas coisas. Eu nunca entendi este tesão platônico que os cariocas sentem pelo Sol, o calor e afins. Quando era mais nova, me sentia uma alien. Verão me deprimia. E me lembrava gente suada. E, se dependesse do meu humor no momento, o dia seria de chuva. Com ventos bem fortes e bastante trovoadas.

Mas como eu não era a Tempestade... O escuro do meu quarto era o suficiente para este meu retiro introspectivo auto imposto.

* * * * * * * * *

Na Segunda Feira, eu praticamente fui expulsa da minha cama.

- Levanta! - Cecília urrou, puxando as minhas cobertas e colocando as mãos nas cadeiras - Nós duas hoje vamos sair, e você vai me ajudar a comprar uma roupa para a Formatura.

- Me deixa em paz... - eu murmurei, bêbada de sono, enquanto tentava inútilmente voltar para o quentinho do meu colchão - Eu tô de férias, posso ficar na cama o dia inteiro.

- É claro que pode - Cissa retrucou, abrindo o meu armário e mexendo nas minhas coisas - Mas esta não é você. Ver você trancada neste quarto, não fazendo nada, é deprimente. Pode ficar tranquila que não vou perguntar de novo o que aconteceu em São Paulo... Mas você vai às compras, e não tem discussão.

Eu não queria fazer compra nenhuma. Só queria ficar deitada, comendo o restante do pacote de balas Juquinha de sabor maçã verde que eu havia encontrado no armário, e fingindo que não havia nada de errado. Mas como eu não respondi a sua afirmação, minha caçula tomou aquilo como uma espécie de aceitação. Então, ela se virou para mim e me jogou um jeans e uma camiseta branca - ao mesmo tempo em que abria a porta e me indicava o caminho do banheiro com a cabeça.

- A senhorita vai querer tomar banho da forma tradicional ou quer que eu traga uma versão expressa, com um balde grande de água gelada, aqui mesmo?

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