Chegamos em casa cansados e meu tio ta fazendo o almoço
-Fala tio, que cheiro é esse?-perguntei com a mão na barriga.
-Eu que pergunto, jogaram na lama pô?
-O senhor tinha que ver o golaço do Julio! Deixou o Marcos com mais cara de otário.-disse Cris me dando um empurrão
O Cris sempre falava dos meus gols como se fossem extremamente profissionais, sendo que eu jogava por jogar. Este foi o único dia desde que me lembro que eu joguei com o objetivo de calar alguém, acho que deu certo, por que depois do jogo ele não disse uma palavra...
-Tio, o Cris pode almoçar aqui hoje?
-Se ele me pagar pela comida depois, ta tudo certo - disse meu tio com um tom de brincadeira.
Na hora do almoço...
-Moleques, vou ter que sair.
-Aaah tio, por que?- falei meio chateado
-Chora não garoto, volto já. Não deixem os tiras acharem as minhas revistas - Fala meu tio com o mesmo tom de brincadeira de sempre.
-Relaxa seu J, a gente cuida da casa.
-Tchau, garotos.
Meu tio é o único que me restou da família, fico meio que com medo toda vez que ele sai. O que iria acontecer comigo se eu perdesse ele?
-Cara, ta viajando? - Disse Cris parecendo estar preocupado com minha expressão
-Não, não. Só tava pensando - Tentei disfarçar.
Nesse momento olhando o meu caderno, vejo a primeira folha. O meu primeiro verso. Apesar de um pouco novo, eu tinha uma boa escrita, ou talvez não...
-Ei cara (ele fechou meu caderno), vamos fazer uma batalha de rimas - De alguma forma ele achou o jeito perfeito de me animar. O que eu poderia esperar? O moleque me conhece.
-Cris, cê tem ideia do que tá fazendo? - Falei provocando.
Cris:
Chamei pra batalhar
Não sinta desespero
Mas quando eu acabar
É daqui pro seu enterroVocê parece com medo
É melhor desistir
Antes que eu te humilhe
E cê caia fora daquiEle começou, e sabia que não iria conseguir me segurar. Eu adorava uma boa batalha de rimas.
Julio:
Tudo bem, estou aqui
Já que não tem mais ninguém
Sua rima pode ser boa
Mas as minhas vão alémEu não vou desistir
Seja qual for o round
Não venço por desistência
Eu venço por nocaute-Poxa cara, não sabe brincar não brinca - Cris ficou com uma cara de decepção e me empurrou.
-Valeu cara, você realmente me animou.
-Só fazendo meu trabalho - Cris começou a sorrir - Vamos amanhã descer o morro? É domingo e a gente poderia ir à praia, não fica tão longe.
-Pode ser, mais tarde peço ao meu tio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um último verso
RomanceNascido nas favelas do Rio, Julio perde os pais em um tiroteio e é criado pelo seu tio, ele encontra nos versos um refugio e uma forma de descarregar sua mente. No entanto, em um dia, ele encontra uma garota na praia e descobre uma nova razão para s...