4. A.D.E.L.E W.H.I.T.E - RETROCESSO

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-They say we are what we are

Uma voz distante.

- But we don't have to be

Se aproximando...

Perto...

Perto demais.

-ASTRA! Desliga o despertador!

Berrou Adele, escondendo o rosto nas cobertas, ainda estava com as roupas do dia interior e seus óculos jaziam em algum lugar escuro debaixo de sua cama. Astra se revirou na cama, lançando uma almofada na direção da amiga.

- O celular é seu, te vira.

- Preciso mesmo arranjar outra melhor amiga.

Resmungando, a garota se arrastou até a cabeceira, tateando às cegas, procurando o fio do carregador de seu celular.

– Por que a droga do despertador está ligada num dia de sábado?!

- Você não vai até aquele mercado à céu aberto dia de hoje? – Astra resmungou, levantando com a rapidez de um quelônio, esfregando os olhos com as costas das mãos.

- Sim, mas eu vou de 15 em 15 dias. – Replicou, também sentando, evitando a todo custo olhar para o espelho "não quero me assustar", pensava ela, "Ainda".

- Parece que se passaram 15 dias, levanta logo senão não vai sobrar nem uma folha de coentro por lá.

- Assim é muito bom né? "Adele faça isso, Adele faça aquilo".

Bufou, procurando as pantufas debaixo da cama, tentando passar a mão no cabelo, e desistindo no instante que percebe que seus dedos não passam pela série de nós.

- A culpa não é minha se você cismou que a gente tem que comer salada e comida integral, você cozinha as gororobas orgânicas, você compra as gororobas orgânicas. É a lei

- E você segundo a lei, faz o quê mesmo?

Pergunto ironicamente, piscando os olhos de maneira teatral, Astra empina o nariz, tentando – em vão – assumir uma postura elegante.

- Eu como e coloco os pratos na lavadora automática é claro. – Solto um grito frustrado e sou atingida por outro morango de pelúcia voador - Agora para de enrolar e vai logo, pois caso você não se lembre, o carro ficou na biblioteca.

Nós duas acabamos levantando ao mesmo tempo, disputamos a pia na hora de escovar os dentes, a escova para tentar desfazer o ninho que se formou em nossas cabeças, nos ameaçamos nas entrelinhas dos olhares, eu rio descontroladamente quando ela se engasga com o creme dental, é, é divertido morar com a Ast.

Depois da guerra chamada higiene matinal, ela me empurrou para o chuveiro e fechou a porta do banheiro, indo até a cozinha aos pulos enquanto cantava a abertura da moranguinho. E ainda dizem que a maluca entre nós duas sou eu.

Tomei um banho rápido e saí enxugando meu cabelo na toalha, quase fui soterrada pelas roupas recém-lavadas empilhadas nas prateleiras do closet, por que não deixei essas coisas na lavanderia até estarem passadas mesmo? Olhei para as roupas, para a janela, a chuva, e então peguei um vestido, minhas botas de cano longo e o sobretudo, ótimo, será maravilhoso fazer feira ensopada.

- ASTRA, você viu minha sombrinha? – Berrei, amarrando os cadarços do sapato no caminho, quando cheguei na cozinha, ela estava dançando com a frigideira enquanto cantava a abertura dos padrinhos mágicos. – O que você está fazendo?

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