8. A.S.T.R.A D.A.Y.S - FRAGMENTOS

39 4 4
                                    

A última coisa que ouvi antes de apagar foi um retinir metálico, será possível que aquela tapada me acertou com a panela?

Tanta gente estranha portando armas no mesmo recinto e ela escolhe justamente a mim para acertar? A única pessoa que conhece?!

Isso é absurdo, um patético absurdo. Mais absurdo que isso, apenas as imagens que ficaram passando como um data show na minha mente, Os rostos das pessoas que conheci, sabe aquele efeito estranho de ampliar que todo mundo já brincou no movie maker? Pois é, parece que meu subconsciente gosta de programas de edição para leigos, por que ficou repassando a cara das pessoas estranhas por um tempo indeterminado.

Primeiro foi a prostituta armada, depois o cara bipolar com os poderes do matrix e seus olhos cor de cobre, o boy das facas, com um zoom na faca que quase acertou minha testa. - fiquei pensando se ele tinha visto um alvo na minha cabeça que nem acontece nos desenhos animados - e por último, a feminista que tinha a mesma cara da prostituta e olhos vermelhos, apesar de terem a mesma cara, ela foi de longe a melhor pessoa que conheci lá embaixo.


O que é que estou dizendo? Nem conheço aquela gente.

- ADELE! – Astra está berrando e me chacoalha pelos ombros, seguro nos braços dela e a empurro antes que meu cérebro vire geleia, Asher está atrás dela, com os gêmeos no colo.

Quando foi que eles chegaram aqui?

- Dá pra parar de gritar? – me sento e passo as mãos no rosto tentando voltar a mim, a pele que foi tocada fica úmida e o cheiro de ferro é forte.

Olho para minhas mãos e percebo que há sangue nelas, sangue escuro, já seco, e sangue carmesim, brotando a cada instante. Os cacos de espelho estão ao meu redor e todo meu corpo tem cortes. Estreito meus olhos para olhar nos olhos de Asher, mas ele se detém entretido em avaliar os próprios machucados, embora sua jaqueta tenha impedido que o vidro cortasse suas costas, seu supercílio está cortado assim como suas mãos.

- Estamos no beco.... De novo? – perguntei, olhando ao redor e percebendo que tinha voltado para a rua escura, sim, voltado, por que eu me recuso a acreditar que tudo foi apenas um sonho ou qualquer outra coisa parecida. E Asher deve saber disso, por que está desviando o olhar do meu desde que acordei.

- Sim, estamos... E que história é essa de voltamos? – Astra parecia estar desorientada, e procurava se manter perto de mim. – Nós voltaremos pra casa, podem ir para o parque. – ela disse séria, estendendo a cesta para o Asher. – Vamos, se segure nos meus ombros.

- Consigo andar sozinha mamãe. – zombei, me apoiando nela para ficar de pé, batendo a poeira das minhas roupas e tirando os cacos de vidro de cima dos meus sapatos.

- Quer calar a boca e fazer o que estou mandando?

Gargalhei e obedeci, começamos a sair do beco, repletas de medo e confusão, sem trocar uma palavra com os três homens que nos olhavam em silêncio.

.:. ♠ . ♠ . ♠ .:.

- Por quanto tempo fiquei desacordada? – perguntei assim que tranquei a porta, Astra se jogou numa das banquetas da cozinha, tirou a água da geladeira e tomou quase toda a garrafa antes de soltar um grunhido estranho.

- O que raios aconteceu ali nem eu sei, eu meti a cabeça na parede, o vidro caiu encima de você e.... Você só ficou, sei lá, meio grog durante um minuto e depois voltou a si me mandando calar a boca. Foi muito estranho por que quando eu estava olhando pra sua cara tive a impressão que fui sugada. – ela dizia rindo como uma psicopata e prendendo o cabelo com um palito de churrasco – Numa hora eu estava de toalha olhando para sua cara e no instante seguinte estava aqui? Aquilo foi real demais para que me digam que foi um delírio por culpa de alguma pancada, minha bunda ainda está dolorida pra provar que aquela queda aconteceu! – ela berrou, fazendo uma careta e massageando os fundos com as mãos.

WondersOnde histórias criam vida. Descubra agora