13. AJAX

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       Astra me lança seu melhor olhar de "Isso vai dar merda", e eu respondo com meu melhor olhar de: "Já deu.". Ele trava a pistola e faz um sinal para que Ace fique de olho em nós duas, enquanto retira um aparelho preto e fino, de cós da calça, tento ignorar o fato de que existe um Iphone 6 plus nessa dimensão e tento mais ainda não ficar encarando o lugar de onde ele saiu.

      Homens bonitos são sinônimos de dor de cabeça, é o minha mãe sempre diz. Provavelmente deduziu isso depois de algum trauma que sofreu na época que namorava meu pai, tenho que confessar, se tivesse conhecido o Sr. White na época da faculdade, teria babado tanto quanto estou babando meu guarda costas com pinta de sequestrador agora.

      Meu carro e a moto de C.N. brotaram do nada do meu lado, já estou até começando a me acostumar com esses brotamentos. Talvez, nem tenha sido isso, talvez tenham estado lá desde que chegamos aqui e eu não notei, não seria novidade se fosse isso, tenho sido a demência personificada nesses últimos dias.

      Desisti de ficar em pé assistindo o homem digitar um número grande demais pra tentar decorar, sentei no chão mesmo, na barra do vestido da Astra, ela não ficou lá muito satisfeita com isso, mas é a vida. C.N. fazia novamente ligações, na boa, alguém me explica como que ele consegue sinal aqui?

- Que celular poderoso é esse? Consegue até fazer ligação interdimensional. - Astra balbucia com os olhos arregalados, puxo as cordas do espartilho dela antes que a criatura tente roubar o aparelho preto, ela bufa e começa a bater os pés na terra, emitindo um ruído seco quando a sola da sua bota encontra as folhas no chão. - Pensa comigo Addie, se ligação interurbana é cara, imagina quanto deve sair essa que ele está fazendo? Eu tô te dizendo que esse povo caga dinheiro.

      É muita asneira saindo de um buraco só, mas, parando assim pra pensar no assunto, até que faz sentido a história da ligação interdimensional, solto as cordas que estava segurando até agora e ela se vira pra continuar a cochichar.

- Isso seria bom por que, unindo o útil e ao agradável, eu teria um cunhado rico e você satisfaria seu fetiche por homens estranhos, este particularmente bonito, tão bonito que chega a ser ridículo, provavelmente você nunca encontrará alguém que preencha esses dois pré-requisitos tão bem, devia agarrar a oportunidade.

- Você ficou louca? Nem conhecemos essa gente.

      Dou um tapa na cabeça dela apontando para C.N. que nos observa com uma das sobrancelhas arqueadas, ainda falando no telefone, Astra sorri e vira para mim para continuar a falar, não sem antes olhar para Ace. De repente, está séria.

- Ele não te lembra aquele gambá pré-histórico da era do gelo? Cristo, a semelhança me assusta.

      Sigo o olhar dela para encontrar o Ace encima de uma árvore, pendurado num galho e se balançando, rindo, enquanto os cabelos ruivos puxados para o rosê farfalham e prendem um bicho, que foi pego desprevenido pelo ninho de fios lisos e sedosos. Meu corpo se sacode em um arrepio, ela tem razão, assusta.

- Vai ver se inspiraram nele. - nós duas encaramos o gambá em escala humana mordendo o interior da bochecha para não rir, C.N. ainda está muito ocupado discutindo com alguém no telefone para notar quando nos levantamos e chegamos perto do menino de olhos cor-de-rosa.

      Ele para de se balançar e suspende o corpo com um impulso, sentando de forma normal, cruzando as pernas, Astra olha para ele incrédula.

- Vem cá, você não é o próximo protagonista de Karatê Kid não, né? - Days murmura apontando para o corpo dele, se detendo no cabelo, provavelmente fazendo uma nota mental de arrancar fio por fio para implantar na própria cabeça mais tarde. O semblante dele fica confuso.

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