5. A.S.H.E.R C.H.A.T - FALHAS

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Adele e Astra pararam de andar, observando os passos dos dois animais com faíscas no olhar, tudo que consegui assimilar quando as duas começaram a correr é que, quando eu encontrasse o responsável - e eu encontraria, até por que conhecia-o bem - ele me levaria uma surra.
Ou talvez eu levasse uma surra dele.

Adahy e Archie começaram a correr, seguindo os dois gatos, despertando-as do transe. Astra jogou a cesta nas minhas mãos e disparou atrás dos dois, o tempo que ela levou para entrar no beco escuro foi exatamente o tempo que eu percebi a merda que aconteceria, não demorou muito até que Adele corresse na mesma direção, indo justamente para o lugar que eu devia mantê-la longe, estava claro que essa era a primeira parte da longa vingança que ele provavelmente arquitetou quando fui embora.

Elas estavam prestes a pagar pelas minhas falhas.

Adele empurrou Astra antes que o espelho caísse sobre ela, e então, antes que percebesse, minhas pernas já haviam me levado até ela, e meu corpo se preparava para proteger a pálida Adele White, que olhava para o espelho que caia gradativamente sobre seu corpo com desespero.

Percebendo finalmente que não teria como evitar ou adiar aquele momento, puxou a menina contra si e fechou os olhos, esperando. O espelho caiu, e, no mesmo instante que um grito gutural escapou por entre os lábios de Astra, Adele se encolheu naquele abraço, esperando pela dor, e então, os dois atravessaram o vidro. E no seu lugar, restavam apenas os cacos de espelho estilhaçado.

Segundos depois de ter visto sua melhor amiga ser engolida pelo espelho, Astra estava jogada no chão tentando em vão unir os pedaços da porta que levara Adele e Asher embora, os gêmeos tentavam leva-la dali, uma vez que ela começou a soluçar, reprimindo os gritos que arranhavam sua garganta, definitivamente não estava pronta para o que acontecera, muito menos o que aconteceria, nem a própria Adele estava. E em seu íntimo, Asher torcia para que elas não o odiassem uma vez que soubessem a verdade.

Onde eles estavam?

♠ ♠ ♠

- Addie, Addie... Abra os olhos. – a garota ouvia a voz de Asher ecoar em sua cabeça. Que a propósito, latejava tanto que um mero menear lhe custavam boas dores. A voz ecoou mais alto. – Addie, beba isso, não precisa se mexer, sei que sua cabeça está doendo, apenas engula, ok?

- Asher? – sua voz saia arrastada, e por alguns instantes, ela se perguntou se estaria bêbada.

- Sim sou eu, Asher Chat, seu vizinho, agora beba.

Um líquido gelado invadiu sua boca, e, assim que desceu por sua garganta, ela levantou, cuspindo. Asher olhava para ela com nojo, enquanto tirava o líquido verde do rosto.

- Você poderia não ter cuspido em mim, sabia?

- O que foi que você me deu? – berrou, limpando a língua na manga da camisa. Manga? Ela estava de vestido, de onde tinha vindo aquela manga?

- Chá de chuchu. – Disse irônico, secando o rosto num lenço bordado extremamente suspeito, ele não andava com aquele tipo de coisa. Ele não tinha modos, como podia usar algo tão polido?

- Chá de quê? Esse troço cheira à grama.

Ele olhou para ela com um olhar que perguntava "Você já comeu grama para saber o gosto? ", ela o esganou mentalmente.

- Eu sei. – Ele respondeu rindo, enquanto passava a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. Asher não tinha fios brancos, por que seu cabelo estava branco agora?

- Você lavou o cabelo com água oxigenada?

Asher suspirou, balançando a cabeça, as roupas dele também estavam diferentes de um jeito gritante. Calça de couro bege, botas de cano longo marrom com fivelas acobreadas, camisa de mangas brancas bufantes e torçal no peito.... Ele agora fazia cosplay? Adele mordeu o interior da bochecha, tentando não rir, quando levou a mão até a boca para disfarçar um grunhido, percebeu que ele não fora o único agraciado com aquelas roupas.

Tinham-na transformado numa versão humana de um desenho japonês.

- Mas o que é isso? – Perguntou, horrorizada, olhando para seu reflexo numa poça de água. Seus cabelos estavam maiores, e brancos. Brancos. Levantou cambaleante, tropeçando nos saltos do sapato vitoriano que usava, olhando para os lados desesperada, ao redor dela estavam espalhados cacos de espelhos, opacos, que não refletiam seu rosto, mas estampavam um vislumbre tremido de sua melhor amiga. Olhou para os lados.

Aquele não era o beco onde estava.

- Aonde estamos? – Perguntou, puxando Ash pelo colarinho, sacudindo-o, ele se assustou com a força da menina. – Aonde estamos? – Perguntou mais alto. O rosto dele não esboçava reação quando respondeu.

- Em Over. A quinta província de Mirror.

Ele estava bêbado.

- O quê? – Sussurrou, olhando ao redor, tudo parecia artificial, polido. Pessoas com trajes vitorianos e vestidos bufantes transitavam pelas ruas de forma calma, contida, lançando sugestivos olhares de estupefato para os dois. – Asher Chat.... O que você fez?

- O que nós fizemos. – Rebateu, olhando para os pedaços de espelho e depois para ela. Não, ele não estava insinuando isso.

- O quê você está me dizendo? – Perguntou, estreitando os olhos.

- Estou dizendo que atravessamos o espelho antes dele partir, é isso que estou dizendo. – Respondeu com naturalidade, apertando a fivela do cinto – que ela acabara de notar pendendo na cintura dele, carregado de armas –, arregalou os olhos.

- Nós fizemos o quê? – Berrou, o sangue sendo drenado de seu rosto junto de seu entendimento.

Asher suspirou alto, tentando encontrar paciência, os olhos contidos na expressão confusa da garota não perceberam a aproximação da mulher trêmula atrás dos dois.

- Wonders... – sussurrou a mulher, com as mãos trêmulas, o medo dominando cada uma de suas células.

- O quê...? – Adele virou na direção da voz, inclinando a cabeça. A mulher recuou, se preparando para gritar, Asher puxou Adele pela mão, correndo para longe.

- WONDERS! – O berro arrepiou todos os pelos da nuca de Adele.

A garota corria aos tropeços, se atrapalhando com as saias do vestido, perguntando mentalmente o porquê de estarem fazendo aquilo, do que estavam fugindo? De quem? Asher disparava, e ela sentia dificuldades em acompanhar seu ritmo, quando ele percebeu, puxou-a para si e envolveu os braços da garota em seu pescoço, suspendendo-a e voltando a correr.

- O quê está acontecendo? De quem estamos fugindo? O que é um Wonder? – Ela o bombardeava de perguntas, a mente dele não assimilava nada além de que maneira poderiam escapar. Aquele lugar não era seguro, não para eles.

- Sem perguntas, procure qualquer coisa que mostre seu reflexo. – Ele mandou, frio, ela arqueou as sobrancelhas.

- Por quê?

- Sem perguntas. – Cortou, ziguezagueando pelas pessoas, ela olhou para a expressão resignada dele, a mandíbula cerrada, os olhos faiscando, quase podia sentir a eletricidade que fluía em seus movimentos.

- Mas Asher...

- Adele! – Gritou, sério, ela se encolheu e começou a varrer as ruas com o olhar, e, quando encontrou sua imagem assustada na vitrine de uma loja, apontou, um sorriso malicioso atravessou o rosto de Ash.

- Isso será divertido.

Ele segurou a cintura dela com força antes de tomar impulso e pular contra o vidro, sussurrando com brilho nos olhos.

- Icognite.

Nos olhos de Adele, uma série de códigos, números e palavras desconhecidas apareceram, como uma espécie de DNA, que lentamente revelava seus segredos a ela. Quando o último número desapareceu de sua visão, os dois atravessaram o vidro antes que ele se estilhaçasse.

Ela se negava a acreditar que tudo aquilo que vira passara em seu cérebro como filme em meros segundos.



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