9. MORTE SÚBTA

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Depois de quase dez minutos dirigindo como uma foragida, a ficha de que tinha acabado de matar um monstro e minha casa devia ter sucumbido ao pó a essa altura do campeonato finalmente caiu, tanto eu quanto a Astra começamos a tremer, não de medo, de raiva mesmo. 

- MEU DINHEIRO, todos os centavos que investi naquele quadrado de concreto foram jogados pela janela, meus investimentos, meu bolso! - Ela berrava, choramingava, esperneava e batia com a testa contra o vidro.

- Ast.... Pelo menos estamos bem... - comentei, tentando não rir da expressão completamente transtornada dela, os cabelos estavam em pé e o olho direito piscava como se estivesse dando tilt.

- Isso é tudo culpa sua! - berrou, apontando com a espingarda (ao contrário) para meu rosto de forma acusadora, fiquei olhando pra ela tentando não me engasgar com a vontade quase incontrolável de rir - Você que atrai esses bichos estranhos, sempre, desde pirralhas, você não pode se meter em problemas sozinha, nãoooo tem que me enfiar no meio - completou, dramática, afundando os dedos nos cabelos negros - Afinal, o quê era aquilo? Um bicho de circo foragido? A última aberração criada pelo Dr Frankstein? Algum ex seu?

Fiz uma careta olhando para ela indignada, como ousa denegrir meu gosto refinado para machos reprodutores da minha espécie? Okay, essa frase soou melhor na minha cabeça.... Pensando bem, vamos fingir que não disse isso. Chacoalhei a cabeça lançando um olhar mortal de soslaio, claro, por que estou dirigindo, e depois de lutar pra salvar meu couro, não estou afim de morrer num acidente de carro.

- Que história é essa de "ex" meu? - perguntei, ela me encarou como se eu fosse o ser mais tapado do universo, abriu a janela e depois de quase morrer pra cuspir um mosquito que engoliu ao abrir a boca para falar, ela respondeu.

- Todos sabemos que você só gosta de caras estranhos, eu particularmente acho que esse é um feitiche pior que o sadismo, por que pelo menos os sádicos são bonitos e ricos. - alegou, virando um pote de mentos na boca, provavelmente o Asher deixou isso debaixo do banco... Ele e suas manias estranhas.

A saliva desceu como um nó pela minha garganta, pensar nele ou até mesmo dizer seu nome me deixava angustiada, minha cabeça doía só de imaginar o que ele tinha a ver com tudo aquilo.

- E de onde você tirou essa informação? - retomei a conversa depois de me tocar que estava com cara-de-paisagem olhando para um ponto fixo na estrada, Astra se contentou em rolar os olhos como se (de novo) aquela indagação tivesse uma resposta óbvia.

- De cinquenta tons de cinza é claro. 

Eu tive que rir.

- Você jura que está baseando seu argumento sobre o sadismo num livro fictício de romance erótico? as bochechas dela ficaram vermelhas, sorri maquiavélica - Então a senhorita gosta desse tipo de leitura? Que indecente senhorita Days... Decadente. - zombei, rindo, recebendo um olhar cínico como resposta.

- Você compra o livro e eu que sou  a indecente da história? Adele White, eu seria mais comedida se fosse você, se existe alguém que conhece todos os seus podres, este alguém sou eu amor. - concluiu, com aquele sorriso atravessado do gato Cheshire que me dá arrepios.

- Como chegamos nesse assunto tão rápido? - retruquei. Não estávamos desesperadas, cinco segundos atrás por ter perdido nossa casa?

- Somos mulheres, podemos fazer três coisas ao mesmo tempo, o quê nos impede falar de três assuntos paralelamente?

- Faz certo sentido. - assinto, estamos nos aproximando dos limites da cidade, ela sorri como uma criança que apronta e me limito a rolar os olhos, sabendo que começará a falar desembestada, por quê deixei os fones dentro da bolsa?

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