11. CONTE TUDO

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Quero entender
Conte tudo
Quero saber sobre os estranhos como eu.
Fale mais
Me mostre
Quero entender esses estranhos como eu

( Estranhos Como Eu - Tarzan)

Não havíamos nem saído do bairro quando tive vontade de sair correndo do carro e me jogar no primeiro bueiro que encontrasse.
O motivo?
Um ser infeliz e sua voz.

"A roda do ônibus roda, roda, roda, roda
A roda do ônibus roda, roda, pela cidade..."

Nenhuma frase coerente era formulada na minha cabeça.
Ace cantarolava essa música -se é que isso pode ser considerado uma música - triste desde o momento que tirei o carro da garagem.
Você, isso mesmo, você, antes de me julgar por estar a ponto de matá-lo por míseros cinco minutos de convivência, tente passar mais do que trinta segundos ouvindo a mesma frase -com direito a até coreografia- sendo repetida no seu pé do ouvido, duvido que faça isso e saia ileso.

A Ast já enfiou todos os confeitos que tinha no bolso na boca dele na esperança de fazê-lo engasgar ou pelo menos ficar quieto, no começo até parecia que tinha dado certo, eu, pobre iludida, tinha começado a agradecer a Deus pela dádiva do silêncio quando o garoto com modos selvagens (ou melhor dizendo, modo algum, por que a educação passou longe da porta desse ser humano) se mostrou uma verdadeira draga e simplesmente os mastigou e engoliu como se fossem tic tac.

"O passageiro sobe e desce sobe e desce..."

Acho, que ele não sabe que para tudo na vida tem um limite, inclusive o número de vezes que uma música cabulosa pode ser repetida, e adivinhem só uma coisa? O meu limite pra esse tipo de coisa é Z e r o. Compreendem? Z-e-r-o.

Quando ele tomou fôlego para cantar a próxima frase, explodi.

- CALE A BOCA. - Berrei, freando o carro.

Astra bateu com a cabeça atrás do meu banco, Ace se engasgou com um dos pedaços partidos do confeito e C.N. gargalhou como se tudo aquilo fosse perfeitamente normal.

Fiquei me perguntando por que tinha deixado que aqueles dois entrassem no meu carro e por que tinha feito as malas e me preparado para fugir da cidade confiando num cara que nunca vi na vida que apareceu para mim numa visão.
Ainda com o carro parado, desbloqueei meu celular e comecei a pesquisar no Google o sanatório mais próximo. Sim, por que com certeza ainda hoje eu me internaria.

"Gatos" - meu subconsciente cantarolou, tomando sua xícara de chocolate quente com a maior paciência do mundo, enquanto limpava as lentes dos óculos redondos.

Dou um tapa na minha cara pra ver se recupero a sanidade, mas o impacto é leve demais, bater com a cabeça no volante fará mais efeito. Com certeza.
Bato com a testa na buzina até que a logomarca em auto relevo do fabricante marque minha pele. Todos os outros três no carro estão em silêncio.

- Preciso de respostas. O que diabos está acontecendo? Por que tive esse sonho bizarro, por que fui assaltada por dois gatos, o que eram aquelas coisas que me perseguiam, por que estou aqui com você e como posso não estar louca?

- Qual das perguntas você quer que respondamos primeiro?

- Responda tudo de uma vez. - balbuciei, apertando o volante entre os dedos.

- Tudo bem. 

Ele abre a porta do carro e anda tranquilamente até a minha, abrindo e me puxando para fora.

- Abra bem os olhos.

- Por que faria uma coisa dessas? - pergunto estreitando-os, Astra e seu coleguinha saem do carro e se sentam no capô. C.N. Rola os olhos.

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