Eram 6h13 da manhã e eu ainda não tinha conseguido dormir. Minha cabeça girava, minhas mãos estavam formigando, meu corpo doía. Eu tive mais um sonho estranho, e dessa vez parecia tão real.
Eu estava num terreno abandonado, havia ali apenas uma casa caindo aos pedaços, era de madeira, os vidros das janelas estavam quebrados, a porta estava totalmente podre, com um buraco ao meio, dizendo que com certeza já tiveram muitos casos de estupros ali, pelos sinais do arrombo. O tempo estava ruim e algo me dizia que iria chover logo, e para não me molhar e ficar doente eu teria que entrar naquela casa abandonada, cheia de coisas desconhecidas, e quem sabe até mesmo um homem à espera do momento certo para me pegar.
O vento gelado havia me cercado, trazendo arrepios na nuca e nos braços. Droga! Eu deveria dormir com roupas mais quentes e não apenas com roupas íntimas. Senti uma gota de chuva tocar meu nariz, olhei para o céu e vi que começaria a chover. Com muita cuidado e silêncio tomei coragem e fui me direcionando àquela casa. Subi o primeiro degrau, tomei um pequeno susto com o ranger da madeira podre e instantaneamente parei. Olhei em direção à porta e com o buraco instalado nela pude ver que não havia nenhum sinal de luz lá dentro. Me aproximei da janela quebrada à procura de um canto seguro dentro da casa, não havia nada. Nenhum cômodo, nenhum vestígio de objetos quebrados. Nada. Apenas a escuridão. Senti meu coração acelerar. Eu estava com medo. E sozinha. Caminhei até a porta e tentei abri-la, estava trancada ou pelo modelo da fechadura ser tão antiga, estava provavelmente enferrujada. Foi quando me afastei da porta que vi o semblante de uma pessoa me olhando da janela, pelo lado de dentro da casa. Nesse momento eu poderia jurar que meu coração havia parado de bater. Tranquei a respiração. Tentei me movimentar para longe dali, mas minhas pernas não me obedeciam, seu olhar era fixo nos meus. A escuridão apagava seu rosto, não conseguia distinguir se era uma mulher ou um homem. Não se movia, só me fitava. Eu senti que precisava sair correndo dali, mas eu simplesmente havia congelado. Não sentia minhas pernas e eu já começava a transpirar. Estranho como o frio e ar úmido tinham ido embora. Com muita concentração pude arrastar minhas pernas em direção às escadas, se eu pudesse chegar ao menos no último degrau..
Como se soubesse do que eu estava prestes a fazer, ele (ou ela) chegou mais perto da janela. Congelei meus movimentos e em seguida pude escutar:~Eu não mandei você se mexer.
Era ele, era um homem. Ainda não conseguia ver seus traços, mas pelo grave da sua voz pude concluir.
~Isso é só um sonho! - pensei alto demais, merda! Ele agora estava com uma ruga entre suas sobrancelhas, um ar de dúvida pairava entre nós. Será mesmo que era apenas um sonho? Eu nunca havia tido um sonho tão real assim.
~Emma..você é tão ingênua. Se fosse mesmo um sonho, achas que eu estaria falando com você? - Meu Deus! Eu tô muito ferrada. Ele sabe o meu nome! Isso só pode ser um pesadelo. Onde eu realmente estou?. Eu começava a perder os sentidos, minhas pernas cederam, sentei-me nas escadas, o ar já era insuficiente para os meus pulmões. Droga! Logo agora decide dar um piti em mim, logo agora.. Na beira da minha morte. Eu sabia o que ele queria, ele me arrastaria para dentro da casa e me abusaria, de todas as formas, eu querendo ou não. E depois, sem dó alguma, me mataria.
Aconcheguei minha cabeça entre as pernas, isso não podia estar acontecendo de verdade.
~Isso é só um sonho! - repeti novamente. ~Eu quero acordar! - bufei baixinho. Não poderia dar prazer à ele em me ver com medo.
~Não! Não acord.. - ele estava destrancando a porta quando eu finalmente acordei.
Eu estava completamente suada. Decide levantar e ir tomar um banho, talvez depois eu conseguiria dormir de verdade.
Entrei no box, liguei o chuveiro, a água escorria por meu corpo, que sensação boa. Nunca me senti tão segura, mesmo sendo no box do meu banheiro. Sai do banho já eram 6h30, faltavam meia hora para os meus pais acordarem. Voltei para o quarto, terminei de me secar, vesti uma calça de moletom cinza e uma blusa branca. Coloquei meias grossas. Era inverno, e o frio tinha chegado com bastante gosto. Abri a janela e arrumei minha cama. Meu quarto era pequeno, apenas um roupeiro branco, escrivaninha de apoio para a TV, meu criado mudo e minha cama. Era tudo branco, apenas o grande e grosso tapete que ocupava quase todo o espaço de meu quarto era preto, e vários porta-retratos com fotos minhas e de meus pais espalhados. Desci as escadas e fui preparar o café da manhã. Tinha feito ovos mexidos e bacon para os meus pais. Tomei um café preto. Não estava com fome.
~Emma, acordada uma hora dessas! - meu pai falava enquanto descia as escadas.
~Acho que vamos comer ovos e bacon hoje amor! - minha mãe sorridente atrás de meu pai. ~Não precisava ter feito filha, nós nunca comemos muito no café da manhã. - falou.
~Eu percebo mãe! - falei rindo da mentira dela.
~Vai fazer o que hoje Emma? - meu pai era o estraga prazer de tudo, sempre que eu não tinha nada para fazer, ele achava algo para me deixar distraída.
Não posso negar, eles são ótimos pais para mim. Sempre agradeci por terem me adotado. Apesar de meus cabelos serem de um castanho escuro, meus olhos serem de um castanho quase negros, e eu ser mais baixa que o normal, eu ainda parecia com eles. Meu pai, chama-se Sam, ele tem um metro e oitenta centímetros, cabelos de um loiro escuro, tem olhos verdes, e um sorriso apaixonante. Não dá pra dizer que já está com 46 anos.
~Tenho dever da escola pai. Por quê? - pergunto me fingindo de desentendida.
~Não se faça de louca Emma! Única doida aqui, sou eu. - afirma mamãe.
~Nisso você tem razão Rachel! - meu pai gargalha.
Rachel é minha mãe, 43 anos, um e setenta e dois de altura, os cabelos são loiros claros. Ela tem olhos que parecem oceano. Ela é linda. E eu tenho muita sorte de tê-los como pais.
Batiam 7h15 no relógio de parede da cozinha, meus pais terminaram a louça que eu havia sujado e foram trabalhar.
Enfim, só. Meu pai que me perdoe, mas eu não tenho dever nenhum. Único problema que eu tenho agora, é: o homem da casa abandonada.
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Renegados
Teen Fiction"Ter medo das sombras é normal,mas se sentir atraída por elas, não." Emma sabe como é isso, e luta todos os dias para todo esse sentimento estranho desaparecer. Tudo isso começou quando ela passou a ter sonhos estranhos, estes que causam medo em qu...