Capítulo Quatro

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~Emmaaa, acorda!! - era minha mãe me tirando daquele sonho quente e molhado.
~Ahhh não mãe! Me acordou bem na hora..
~Sabe que horas são? Já é tarde, preciso que você vá no mercado pra mim.
~Que horas são?
~10 horas da manhã
~Droga, cheguei tão cansada ontem que esqueci de colocar o relógio pra despertar.
~E do que você não esquece Emma? - fala em tom de ironia.
~De comer? - respondo rindo
~Espertinha! Agora levanta, lava esse rosto e vai no mercado pra mim. - fala pidona

Levanto e vou direto pro banheiro, lavo meu rosto e me olho no espelho, estava com os olhos inchados e vermelhos. Que maravilha!
Me arrasto pro quarto e sento na cama.
Que estranho, parecia que tinha entrado no sonho a pouco tempo.
~Emmaaa!! - grita minha mãe impaciente lá da cozinha.
~Tô indo! - grito de volta.

Chego na cozinha e vejo minha mãe sentada tomando um chá entretida com uma revista.
~Não foi trabalhar por que? - era estranho ver minha mãe em casa pela manhã, ela sempre sai e volta perto do meio dia.
~Vou trabalhar só de tarde hoje. Aqui está a lista que quero que você compre no mercado. Não demore, o almoço tem que sair hoje ainda. - fala rabugenta.
~Tem alguém aqui que não dormiu bem.. - falo rindo
~Que engraçada! - fala irônica. Pega essa maçã e vá comendo na ida.
~Tá bom, beijo. - saio em direção ao mercado mais próximo.


Andando na rua me pego lembrando do sonho que tive na noite passada. Um arrepio gelado percorre meu pescoço.
~Preciso parar com essas bobagens.. - digo em voz abafada.
~Não, você precisa de mim. - congelo. Me viro para ver quem estava falando comigo, a rua estava silenciosa, não havia nada além da brisa gelada da manhã. Isso devia ser coisa da minha cabeça, esses sonhos estavam me fazendo mal. Precisava dormir e não sonhar com nada, apenas dormir.

Avistei o mercado Negro de longe, era pequeno, com uma pintura amarela meio envelhecida, as janelas com grades pareciam estar um pouco enferrujadas e em frente à porta dois cachorros brigavam por um pão estragado. Entrei e peguei a cesta para colocar às compras de minha mãe, o ambiente de dentro era totalmente o contrário do lado de fora, limpo e branco (o que era estranho pelo fato do nome do mercado ser Negro), tudo ali cheirava à produto de limpeza.

Satisfeita pela aparência interior fui em busca das compras. Já estava na metade da lista quando tenho novamente a sensação de estar sendo observada por alguém, olho em volta e não vejo ninguém, pego o bendito pote de cravo que estava procurando e vou para outra ala, dessa vez a de higiene, minha mãe tinha a mania de sempre comprar absorventes noturnos, por mais que fossem desconfortáveis eram os preferidos dela. Estava com o terceiro pacote de absorventes na mão, quando vi de soslaio uma sombra do meu lado. Continuei com a minha lista, concentrada para não esquecer de nada, a sombra poderia ser o atendente arrumando algo nas prateleiras. Quando vou para pegar o quinto e ultimo pacote de absorvente vejo no fundo da prateleira um rato morto, todo ensanguentado.

O nojo e pavor tomaram conta do meu rosto, eu odiava ratos, mesmo que mortos. Tentei disfarçar ao máximo minha reação, mas a sombra do meu lado já havia notado.

~Esses pacotes todos são para uma pessoa só? - riu envergonhado. Ele era alto, uns 20 centímetros mais alto que eu, seu cabelo era todo encaracolado, loiro, de um tom tão claro que eu me perguntava se ele não era albino, olhos azuis, mais azuis e mais limpos que as águas do mar do Caribe. Barba por fazer, loira também. E o sorriso, ah o sorriso.. Aquilo era uma visão do paraíso, dentes brancos bem retinhos, lábios carnudos, ansiando por mordidas..
~Desculpa, você está bem? Sua cara.. Não é das melhores. - riu novamente, e então as covinhas apareceram.
~Ããã.. tô bem sim, e você? - respondi confusa.
~ Eu tô ótimo.. - devolveu. ~Então..?
~Ah! Desculpa, me distrai, sim, são só para uma pessoa sim. Minha mãe tem um fluxo bem forte. - respondi desconfortável, droga, fluxo bem forte? É serio mesmo Emma?
~Sim, desculpa a pergunta, mas é que vi você pegar os pacotes, parecia estar distraída, achei que estava pegando de engano..
~Não, obrigada pela preocupação.. Seu nome..? - pergunta curiosa.
~Ângelus Anjo, prazer. - respondeu esticando sua mão para pegar a minha.
~Prazer, me chamo Emma. - estendo minha mão e pego a dele, macia feito pluma.
~Nome bonito, você é daqui, Emma? - pergunta educado.
~Eu moro aqui e você? - pergunto rapidamente, precisava voltar pra casa, minha mãe devida estar louca comigo.
~Sou novo por aqui, me mudei pra cá ontem. - sorri.
~Que bacana! Desculpa interromper a conversa, mas preciso ir pra casa.. - digo impaciente. Ele era lindo, mas infelizmente não tinha tempo.
~Tudo bem, a gente se esbarra por aí. - Fala sorridente.
Saio e vou em direção ao atendente, passo minhas compras e vou para a saída. Os cachorros continuavam lá, e o ar gelado também. Andei na direção da minha casa apressada, já eram 11h15min, estava atrasada demais.

Duas quadras para chegar em casa, ouço alguém me chamando, olho para trás e vejo um loiro alto correndo em minha direção.
~O que houve? - pergunto espantada com a cena.
~Você deixou isso cair da sua carteira. - me entrega uma foto minha e de meus pais.
~Nossa, obrigada! Essa foto é muito valiosa pra mim.- agradeço com um sorriso.
~A foto ou as pessoas que estão nelas? - pergunta sério.
~As duas coisas. - respondo sincera. ~ Tenho que ir, tô atrasada.
~Você mora aqui perto? - pergunta curioso.
~Sim, um pouco. - respondo já andando na direção de casa.
~Não vou te atrasar mais então, até qualquer dia. - sai dando tchau.
~Até, Ângelus! - digo sorrindo.
~Pode me chamar de Anjo, Emma. - diz mudando o tom de voz.
~Ok, Anjo.

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