Capítulo 40 - Incógnitas

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Mesmo com a minha constante insistência, Percy não me contou quais eram as outras surpresas naquele dia. Ele havia dito que já tivéramos emoções suficientes para um fim de semana. Então aproveitamos o restante daquele dia para curtir um ao outro. Fomos dar um mergulho nas águas cristalinas da cachoeira sem que precisássemos nos preocupar em colocar roupa de banho alguma. Fiquei com certo receio de nadarmos ali completamente nus em pleno domingo. Havia chances remotas de que alguém pudesse aparecer. Mas felizmente isso não aconteceu. Pudemos ficar literalmente bem a vontade em nosso santuário.

Nem ao menos voltamos para o acampamento para jantar. Fizemos uma fogueira e comemos ali mesmo algumas salsichas assadas com pão. Percy ainda me fez voltar para a cachoeira mais uma vez antes de finalmente irmos dormir. Não que tenhamos dormido muito. Essa é uma coisa um pouco difícil de fazer quando se tem um namorado com energia inesgotável. Mas depois de algumas horas de amor e "luxúria" enfim caímos no sono.

Naquela noite esperava ter um sono tranquilo e sem sonhos, já que as últimas horas com Percy havia me desligado completamente do mundo real. Mas infelizmente eu estava errada. Tive um sonho bem incomum até mesmo para um semideus. Eu estava em um lugar completamente desconhecido e estranho. Parecia ser uma casa ou pelo menos o que restara dela. Havia apenas alguns restos de paredes e móveis que pareciam ter sido recentemente queimados. No chão havia uma fina camada de poeira e fuligem. Ainda restavam algumas pilastras que pareciam não terem sido muito afetadas pelo fogo, elas seguravam partes do teto que não havia cedido.

Uma voz aguda e afinada chegou aos meus ouvidos. Ela entoava um canto suave e melancólico. Comecei a caminhar na direção daquele som sem que eu tivesse dado nenhum comando para que meus pés fizessem isso. Olhei para minha mão e reconheci minha adaga que estava empunhada. Eu era eu mesma naquele sonho, mas tinha certeza que nunca estivera naquele lugar. Só poderia ser algum presságio do futuro. Ou então alguma coisa que estivesse acontecendo naquele exato momento em outra parte do país e que eu precisava saber. A voz continuou a cantar ficando mais alta conforme eu me aproximava.

Depois de mais alguns passos a frente eu adentrei outro cômodo que fora igualmente consumido em chamas. Neste havia dois enormes vãos no chão, como se fossem duas piscinas. Dentro de uma delas saia um espécie de espiral em formato de cone que saia do fundo. Era impossível ver o que havia abaixo, pois uma névoa branca e densa o encobria. Ao lado da outra piscina estava ela, a rainha do Olimpo, deusa do casamento, também conhecida como Hera. Ela continuava emitindo seu lamento em forma de canção. Eu a observei e não pude deixar de notar que ela estava bem diferente da última vez que a vira no olimpo. Sua aparência estava desgastada, como se também tivesse sido afetada pelo fogo que há pouco havia tomado aquele lugar. Seu semblante expressava cansaço e derrota, o que para um deus é algo extremamente inadequado.

Novamente meus pés me colocaram em movimento sem o meu consentimento. Caminhei na direção da Deusa até parar há poucos metros dela. Neste momento ela parou de cantar e ficou em silêncio fitando o chão de pedra. Quando ela levanta o olhar ele não vem em minha direção. Hera está mirando o lado oposto do cômodo. Eu tinha quase certeza de que há menos de um segundo atrás não havia ninguém ali. Mas assim que acompanhei o olhar da deusa percebi o que chamara a atenção dela. Percy Jackson, vestindo o traje costumeiro do acampamento meio sangue estava lá. Ele não havia me notado ali ainda, tentei chamar seu nome, mas quando abri a boca nenhum som saiu. Percebi que estava apenas de espectadora naquela cena, nenhum dos dois podia me ver. Será que eu estava usando meu boné de invisibilidade? Levei a mão à cabeça para verificar. Meus dedos só encontraram meus cabelos. Então a magia fazia parte do sonho.

Será que aquilo já havia acontecido ou então ainda iria acontecer com Percy? Minha vasta experiência me dizia que aquilo estava muito parecido a uma missão. Mas não estávamos sabendo de nenhum problema que pudesse requerer uma missão. Eu esperava que minhas suspeitas estivessem erradas. E pedi a todos os deuses que nada daquilo tivesse a ver a última profecia feita sobre mim. Percy estava concentrado na deusa paralisado. Talvez ele também estivesse sonhando com aquele momento sem saber que eu também estava ali. Não havia alternativa a mim se não ficar observando e escutando atentamente. Percy fez menção de que iria falar algo e Hera levantou a mão como se pedisse para ele esperar. Ela deu uma olhada geral pelo lugar, sem que nenhuma alteração em sua expressão fosse notada ao passar seu olhar por onde eu estava. Então ela voltou a olhar para o semideus a sua frente.

Lembranças De Um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora