Capítulo 38 - Arrependimento

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Com certeza eu já errei muito nessa vida. Levei muitos tombos dos quais tive que me levantar sozinha. E aprendi com cada um deles. Sei que ainda tenho muito que errar e muito o aprender para me tornar uma pessoa melhor. Mas hoje, eu percebi que existem certas coisas que não te acrescentam absolutamente nada. Nem ao menos te fazem aprender por ter errado. Atitudes mesquinhas e egoístas que só fazem empobrecer seu espírito e diminuir sua moral. E foi exatamente isso que a minha vingança estúpida havia feito comigo.

Me sentia a pior pessoa do mundo. Ao me lembrar de como Rachel ficou arrasada ao ver as fotos de seu namorado com outra garota, eu sentia vontade de dar um soco na minha própria cara. Acho que era exatamente isso que eu merecia. Rachel, ao contrário, merecia ter ficado sabendo daquilo de uma forma mais amena. Qualquer outra forma a não ser a que eu havia usado, já estaria melhor. Fiquei ali sentada nas pedras enquanto as ninfas da floresta me encaravam com desprezo. Eu não as culpava por isso, afinal eu era digna daquilo naquele momento. Nada que ela pudesse ter feito a mim justificava o que eu tinha feito a ela.

Onde será que ela estaria agora? Para onde será que ela tinha corrido? Eu estava tão arrependida e envergonhada que nem ao menos consegui pensar na possibilidade de segui-la. Também não acho que eu seria de grande ajuda, até porque eu havia causado aquilo. Talvez ela tenha ido procurar consolo com algum amigo. Não pude evitar pensar que esse amigo pudesse ser Percy. Mas eu não estava em posição de ficar enciumada com isso agora. Até me confortaria saber que ela estava falando com ele. Se tinha alguém que era muito bom em matéria de dar apoio aos amigos, esse alguém era Percy.

Isso me lembrou que, cedo ou tarde, Percy ficaria sabendo do que eu tinha feito. Ele saberia que eu quis me vingar de Rachel com aquelas fotos. Ele com certeza ficaria muito decepcionado comigo. Além de tudo ele saberia que descobri sobre a mentira dele. Nem que eu usasse toda minha inteligência conseguiria imaginar como ele reagiria a tudo isso. Era informação demais de uma só vez. Nem eu conseguia definir exatamente como se sentia em relação a toda aquela trama que parecia mais o enredo de uma novela muito dramática.

Resolvi sair dali e andar um pouco pelo acampamento. Talvez colocando meu corpo em movimento eu faria o sangue fluir melhor para meu cérebro e conseguiria encontrar uma saída naquele emaranhado de pensamentos. Andei vários metros sem que minhas ideias se aclarassem um pouco sequer. Ainda enxergava tudo nublado. Mas pelo menos minha mente já não estava a mil por hora como há alguns minutos. A cada passo que eu dava ela ia desacelerando.

Quando me dei conta estava indo em direção a Casa Grande. Levantei o olhar para a varanda da propriedade e lá avistei uma das pessoas que eu mais gostava nesse mundo, Quíron. Ele estava em sua cadeira de rodas e manuseava seu arco, como se o estivesse concertando. Ele olhava para mim com uma expressão de preocupação. Possivelmente ele percebeu o quanto eu estava alterada. Pensei em tentar disfarçar e sair dali, mas Quíron com certeza daria um jeito de descobrir o que se passava comigo. Se não fosse agora, mais tarde. Talvez não fosse tão ruim assim ficar ali e fazer com que ele soubesse da história toda por mim mesma. Não poderia pensar em alguém melhor para me ouvir e me aconselhar nesse momento.

Sustentei seu olhar enquanto me aproximava e começava a subir as escadas que levavam a varanda da casa. Ele não disse nada, apenas esperou. Eu continuei indo até me sentar em uma cadeira próxima a ele. Fiquei de cabeça baixa enquanto olhava para minhas próprias mãos que ainda traziam o celular. Aquele aparelho que fora usado como instrumento no meu "plano maligno" que agora estava aterrorizando a mim também.

- Algum problema, Annabeth? - perguntou ele depois de um breve silêncio.

- Sim - respondi fazendo uma imensa força para não me deixar dominar pelo desespero e começar a chorar ali mesmo.

Lembranças De Um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora