Capítulo #18

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Fiquei bem assustada com todo aquele jeito da minha mãe, é claro que nem passava pela mente dela, que eu fosse lésbica, até porque há alguns dias atrás, nem eu sabia disso. Fiquei deitada, ainda pensando na minha família quando descobrisse, e claro pensei na Ni, impossível não pensar nela e o mais difícil, imaginar ela com Ágata. Já estava praticamente cochilando, quando recebi uma mensagem, meu coração acelerou, passou milhões de coisas na minha cabeça, do que poderia ser, mds a Ni, quer me ver ou conversar, senti uma leve alegria, quando enfim tive coragem de abri a mensagem, um ar de decepção me veio nos olhos:
Oi Manu, sei que me quer bem longe, mas estou precisando conversar, até mesmo pra me desculpar.. Se puder vir até a esquina, to te esperando, não demora, beijos.. Jú.

Eu não podia imaginar, será que não foi suficiente o que ela fez? Pensei em responder, a xingando de todos os nomes, mas nem paciência pra isso eu tinha, joguei o celular pro lado e continuei deitada. Não demorou 3 minutos, mais uma mensagem:

Por favor, será que vc pode descer? Ou prefere que eu vá até seu quarto?

Novamente não respondi, eu estava de saco cheio da Jú, e não iria lhe dá nem o desprezo da minha resposta. Mais dois minutos e mais uma mensagem:

To aqui embaixo, ou desce ou toco a campainha..

Olhei do meu quarto e realmente ela estava lá, preferi descer e jogar toda minha raiva nela, aliás era o motivo de tudo isso. Já estava tarde e fazia frio, coloquei meu casaco, vesti o chinelo e desci devagar, meus pais já estavam no quarto e não queria que percebessem que estava abrindo a porta, pois já estava um tanto tarde. Abri a porta, e lá estava ela, fumando. Cheguei mais perto e sentei um pouco afastada, não lhe dei chance de começar a falar, eu mesma iniciei a conversa:

- Já deu né, Jú? Tudo que tinha que rolar ou acontecer entre nós duas, aconteceu e de forma totalmente errada, então que fique claro que não quero de você, nem amizade. - falei com ar de mandona. Ela não me olhava nos olhos, e continuava em silêncio. Então continuei: - Acho que já fui bem clara, amanhã tem aula e preciso dormir, faz o mesmo, tchau. - me levantei e ela segurou em minha mão, ela estava diferente, não parecia ela, ela levantou o rosto e pude ver que ela estava chorando, não sabia se deveria sentir pena, me sentei novamente e perguntei se ela estava bem, ela então começou a falar:
- Eu to legal Manu, só de ta aqui, já me sinto melhor.
- Não força a barra, antes que eu te dê um tapa na cara. - falei sendo grossa. Ela jogou o cigarro fora e continuou:
- Eu sei que parece que vim aqui, tentar falar da gente, quer dizer, nunca existiu isso da 'gente', mas eu só queria desabafar um pouco.. Antes que vc diga que não quer me escutar, eu vou falar, porque não tenho amigos, aliás não tenho ninguém, mas sinto que com você, eu fico mais leve, eu não sou daquele jeito que todos imaginam, que parece não ter problemas, eu tenho e muitos.. - eu não a interrompi, apenas a olhava falar de cabeça baixa.
- Eu acabei de sair de casa, queria que fosse pra sempre, mas eu não posso, ainda. Meu pai não para de culpar a minha mãe por eu ser assim, sempre que ele me olha, acha que nasci assim por culpa da minha mãe, ele é um idiota, eu não sou diferente sabe? Mas ele acha que não vou ser ninguém na vida, que não vou terminar os estudos ou arrumar um emprego, ele grita e chegou até a quebrar umas coisas, por minha culpa.. - fiquei espantada com todo aquele desabafo, mas não falei nada, ela parou, respirou um pouco e continuou: - Como eu já era dessa forma pro meu pai, decidi ser realmente assim, por isso cortei meu cabelo, comecei a fumar e usar drogas, beber, fiz tatuagens, tudo isso pra afrontar meu pai, pra ele realmente ter motivos pra falar de mim. Eu o odeio, eu queria que ele morresse ou que fosse embora da minha vida. - ela levantou e deu um chute num vaso, pude perceber o quanto ela tinha raiva dentro dela, eu tive vontade de falar algo, mas eu também estava com raiva e era justamente dela, fiquei a observando e ela percebeu que eu não falaria nada, até  que falei:
- Eu preciso entrar, está tarde e amanhã tem aula.. Você deveria fazer o mesmo.. - a noite estava fria, o tempo estava fechando e antes que eu pudesse falar, começou uma chuva forte, eu não podia deixá-la ir com a noite daquele jeito, por mais que fosse minha vontade, já que minha raiva era imensa, mas minha consciência não me deixou agir assim, então pedi pra que ela dormisse na minha casa.

Minha lésbica vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora