Quando acordei, no meio da noite, vi que Justin estava ali, do meu lado dormindo também. Ele me abraçava gentilmente e sua cabeça repousava em meu ombro. Sorri pela sua presença e fiquei um pouco ali, apenas sentindo seu calor se misturar com o meu.
Hoje era sábado, o primeiro dia das férias de verão. Eu nem sabia o que faria nas férias, talvez ler mais livros ou fazer um estágio no hospital outra vez. Rever a Angelina e os irmãos seria perfeito. Ver Bryan e Thomas também entra no pacote. Estou com saudade deles.
Ou até procurar algum trabalho sem ser no hospital. Depois que a Sra. Stubin morreu, eu não procurei mais nenhum trabalho. Estava na hora de mudar isso.
E, lentamente, fui me lembrando de como os dias que passei com ela antes daqueles acontecimentos loucos. Quando ela me dava aula de piano e falava sobre o Charlie. Quando eu tomava a sopa dela e perguntava sobre os filhos dela, Karen e Drake.
Suspirei um pouco culpada e me soltei dele, vendo-o deitar de bruços na cama e agarrar o travesseiro. Ele queria conversar comigo, mas o que seria? Deixei esse pensamento de lado e olhei as horas em meu celular. Três e pouco da manhã. Fitei Justin outra vez e fui tomar uma ducha fria. Estava completamente sem sono.
Deixei a água cair sobre meu corpo, e estava tão gelada que meu corpo inteiro estava arrepiado, e eu gostava da sensação, para tentar tirar aquelas malditas cenas destrutivas da cabeça. De quando ela agia de forma a me atacar como se eu fosse uma ameaça, e de quando a vi toda queimada, desfalecendo, naquela casa em chamas, sem poder ajudá-la.
As lágrimas deixavam um rosto salgado em minha boca e respirei fundo, querendo que todo esse inferno interno acabasse. Às vezes ser sonhadora é uma droga. Uma coisa que eu realmente abrira mão. Minha vida seria tão melhor sem tudo isso.
Mode Gregory on*
Estava ajeitando o pozinho branco que estava sobre minha mesinha de centro em três fileiras, aspirando-as em seguida com um papel enrolado. Fechei os olhos, esperando a cocaína fazer efeito. Era meu último saco de droga e eu tinha que aproveitar cada segundo ao máximo, pois não sabia quando poderia arranjar dinheiro para comprar mais. Liam me garantiu que duraria pelo menos duas semanas, porém eu usei tudo em apenas cinco dias.
Agora teria que arranjar um emprego para conseguir a grana, já que meus pais estão desconfiando das quantias de dinheiro que eu peço por semana. Mas 50 dólares semanais nem é tanto dinheiro assim. E vai ser difícil passar por outra crise de abstinência sem ter sequelas mais graves.
Sentei no sofá e relaxei meu corpo, sentindo a sonolência tomar conta de mim. A dor de cabeça que eu sentia estava se dissipando junto com a vontade de matar o meu avô por ter me dado essa herança genética do demônio.
Quem iria gostar de ter poderes sobrenaturais se a cada dor de cabeça que você tem, pior vai ficando e você simplesmente acha que vai morrer? É completamente desumano. Eu morreria para não ter que sentir isso, entretanto eu sou jovem demais para morrer e tento escapar das dores e dos espasmos com outras alternativas.
A cocaína é uma delas, e o Liam me garantiu que iria dar certo se, toda vez que eu me sentisse mal, era para aspirar alguns gramas da droga. O problema é que eu ando mal constantemente, e estar com o orgulho ferido não ajuda em nada. E a culpa é toda daquela maldita garota, que o Liam também odeia.
Eu quero literalmente degolar aquele pescoço e cortar cada parte daquele rosto de boneca de porcelana.
Maldita seja Angela Collins.
Desde o dia do jogo, há dois meses, em que perdemos para os Wolves por apenas uma cesta, todos da escola começaram a me zoar por "ter perdido para uma garota". E o pior disso tudo é que ela realmente joga bem. Era completamente graciosa com seus movimentos. Era perdidamente apaixonante vê-la jogando, admirar seu corpo naquele uniforme curto e principalmente olhar naqueles olhos angelicais.
Olhos de sonhador.
E ela, além de tão perfeita no meu esporte predileto, é uma mestiça de Collins e Stubin, com poderes exuberantemente fortes e mortais, como também podem ser benéficos. Meu avô havia me dito que ela é a futura líder dos Collins, e vai literalmente mudar o mundo. Tirar a maldade dele com todo o seu amor, compaixão e inocência.
É um anjo para quem for o sortudo de recebê-la em seus sonhos, pois pode ter certeza que ela irá salvar sua vida algum dia, ou ajudá-lo em algum problema físico e espiritual. Como a garota cega que voltou a enxergar por ter sonhado com Angela a curando em seus sonhos de criança.
Sem falar na sua beleza física. Corpo escultural, seios médios, pernas torneadas e um traseiro de tirar o fôlego. Aquele rosto de boneca intocável, com os lábios naturalmente avermelhados, nariz arrebitado e os olhos cor de mel que te envolvem em um mundo totalmente divino. Cabelos castanhos com cachos nas pontas e a pele branca como neve para completar.
É literalmente um anjo, porém é a causadora do meu inferno.
E eu a farei pagar por tudo que estou passando. E o Liam prometeu me ajudar com isso.
Fechei os olhos, sorrindo. A vontade de tê-la em meus braços brigava com a de vingança, porém eu preferia fazê-la gemer embaixo de mim. Exatamente como eu estou imaginando agora.
Tão perfeita, tão... Inocente.
Mode Angel on*
Depois daquele banho, voltei a dormir com Justin, e quando acordei, ele não estava mais ali. Estranhei, porque ele queria conversar comigo, mas deixei quieto. Ajudei minha mãe a fazer cookies, almoçamos com o Chris e ele disse que viria mais tarde para conversarmos sobre essa coisa toda do Gregory com mais clareza.
Agora estava relatando o sonho no meu caderninho, deitada na cama e ouvindo rock. O CD Brand New Eyes, do Paramore, para ser mais específica. Simplesmente amo Paramore.
Enquanto escrevia, fiquei pensando em um porquê de alguém querer matar o Gregory. Ele me pareceu uma boa pessoa, apesar de estar tão agressivo no dia do jogo. Suspirei pensativa, cantarolando a letra de Brick By Boring Brick e tentando encontrar algum fator para analisar.
E, aquela lampadazinha de ideia surgiu na minha cabeça e acendeu, me fazendo rir desse pensamento típico de desenhos animados. Às vezes eu esqueço de que eu posso ler os pensamentos das pessoas de quem eu quiser, onde eu quiser. Sorri e fechei o caderno, deitando minha cabeça no colchão e relaxei meu corpo, respirando fundo. Olhei para o teto, tentando me concentrar na mente dele. E, de repente, não estava mais no meu quarto e muito menos deitada na minha cama.
Estava em uma sala toda bagunçada, fedida, e a mesinha de centro estava cheia de saquinhos de plástico e um rolinho de papel. O rapaz loiro estava deitado no sofá, dormindo de bruços. A porta do cômodo foi aberta e um rapaz entrou, andando até o sofá, analisando a situação do corpo inerte.
Aqueles olhos azuis que eu conheço tão bem olharam o amigo com escárnio, abrindo um sorriso sombrio. A áurea do lugar se tornou de desgraça, ódio, e uma pitada de vingança. Engoli seco e fechei os olhos, tendo nojo de tudo aquilo.
- Filha?
Ele remexeu nos sacos vazios e sentou, olhando outra vez para o loiro. Liam riu, apoiando as mãos na mesinha.
- Garoto estúpido, mal sabe o que planejo fazer com ele.
- Angela! Seus dedos!
Voltei para o meu quarto, abri os olhos e respirei sofregamente, enchendo os olhos de lágrimas. Minha cabeça latejava e meus dedos estavam retorcidos, duros como pedra, porém eu nem os sentia. Era demais para meus pensamentos.
- O que você estava fazendo? Enlouqueceu? – exclamou ela, andando até a cama e me abraçou, secando minhas lágrimas.
- Tentando resolver esse caso do Gregory, mãe. Eu só precisava entender o porquê de querem matá-lo.
Rachel pegou em minhas mãos e esticou meus dedos, os massageando levemente, e me olhava aflita, entendendo minha angústia. Eu não consigo admitir que o Liam está acabando com a vida de outra pessoa, ainda mais pela culpa ser toda minha.
- E o que você viu?
- Ele estava dormindo e o Liam apareceu lá, falando que planejava alguma coisa com o Greg. – respirei fundo, sentindo uma dor descomunal no meu peito – Eu estou com medo mãe, medo de que ele faça algo com o Gregory.
- Não fique assim, querida. – minha mãe me abraçou outra vez e me aconcheguei em seus braços, deitando minha cabeça em seu ombro – Logo você vai descobrir o porquê disso tudo e vai resolver, como você já fez antes.
- Mas eu não resolvi da última vez, mãe. A Lilian fugiu e ele sossegou desde o dia em que "mandei" ele parar de me perseguir, e depois apareceu no jogo, e agora isso. Eu não quero mais machucar ninguém, eu não quero que ele destrua a vida de outra pessoa.
Eu estava em êxtase, desesperada, sem nem saber o que pensar. Mas ele não pode fazer isso tudo outra vez, não vai tornar minha vida num inferno maior do que já é.
- Meu Deus, o que houve?
A voz de Chris ecoou no aposento e ele sentou na cama, me abraçando também. Eu não conseguia falar.
- Ela tentou ver o que o Gregory estava pensando e acabou vendo o que não devia. O Liam estava na casa dele.
- Sabia que tinha um dedo a mais desse rapaz. O Taylor estava certo. Tenho que comunicar o Thunder antes que seja tarde.
- Não! – disse, me soltando deles. – Não! Você não vai fazer isso, Christopher. Eu preciso encontrar as respostas certas para depois irmos atrás da família dele. Eu preciso investigar com meus próprios olhos, minhas próprias mãos.
- E você está sendo precipitada demais, Angela. Respeite seu próprio corpo, você ainda não está acostumada com tudo isso. Quase morreu ontem e fica se esforçando.
- E quem você acha que é para me dizer o que fazer? – explodi, levantando da cama e fechando os olhos com força, deixando mais lágrimas caírem – Eu passei por muitas coisas que qualquer adolescente passou, e eu preferia ter morrido a ter que aturar essa droga de vida.
Sentei no chão, me derramando em lágrimas.
Por que a vida é tão injusta comigo?
Mode Justin on*
Havia dormido na casa dela por querer ficar mais perto da minha Angel. Ela não parecia estar bem. Estava aérea ontem de tarde e esse sonho me deixou um pouco mal também. Não sei o que seria de mim sem o meu anjinho. Eu fiquei preocupado, e quando ela disse aquilo sobre o Liam a sua mãe e Christopher, fiquei mais ainda.
Eu queria arranjar algo para fazermos nas férias, mas não tenho ideia do que fazer. Ela provavelmente vai querer trabalhar em algum lugar, ajudar alguém ou ler, mas, onde eu entro nesse meio?
Não ser um intelectual nessas horas é um pouco broxante.
Eu preciso pensar em algo, e rápido.
- Filho?
Franzi o cenho e olhei para trás, vendo minha mãe na porta. Ela riu de leve e andou até mim, me abraçando.
- No que estava pensando?
- Ahm, como você sabe que...
- Justin, você estava lutando boxe, e depois ficou parado olhando para o saco de forma pensativa.
Ele riu sozinho e coçou a nuca com a luva de boxe. É, eu sou um tonto.
- Eu queria fazer algo com a Angel nessas férias, mas... Ela vai querer trabalhar.
- E por que você não trabalha?
- Bem, eu não sou bom com crianças, você sabe.
- Verdade – ela cruzou os braços, franzindo os lábios –, por que você não conversa com ela? Quem sabe vocês encontram alguma coisa.
- Eu tentei, mas ontem aconteceram uns imprevistos e nem consegui conversar com ela.
- Tenta de novo, meu filho. Vocês têm bastante tempo para pensar nisso.
Sorri em resposta e abracei minha mãe, deitando minha cabeça na sua, já que eu era bem mais alto que ela. Minha baixinha preferida.
- Obrigado mãe. Você sempre pensa em algo para resolver meus problemas.
- Coisas de mãe, querido. Agora, me deixe ir. Tem torta de maçã assando e ela já deve estar quase pronta.
- Me chama quando tirar ela do forno?
- Claro filho.
Libertei-a e minha mãe saiu da sala de treinamento, e voltei a me exercitar, pensando em o que poderia fazer com a Angela, outra vez. Ajudar as crianças seria até que divertido, mas elas precisam de cuidados mais delicados e mais atenção, e de delicado e atencioso eu não tenho nada.
Tem que ser algo fácil e que nós dois iremos adorar. Bem, ela gosta de literatura. Literatura não é comigo. Odeio livros. Ela gosta de ajudar as pessoas, qualquer um. Eu já sou do tipo que joga os nerds na lata de lixo ou conta para a escola inteira um segredo embaraçoso de alguma patricinha mal comida.
Ou seja: eu ainda não sei como consegui gostar da Angela.
E é por isso que eu amo tanto ela. Por ela ser tão pura ao ponto de tirar um mendigo da rua e colocá-lo para trabalhar e ter um lugar para morar, de ajudar uma velhinha por três vezes na semana só limpando a casa dela e a fazendo companhia, de ir a um hospital de crianças deficientes só para fazê-las sorrir.
Eu sou essa pessoa podre, egocêntrica e grossa. É, os opostos se atraem, literalmente. E a pessoa que criou essa frase deveria ganhar algum prêmio por descrever a minha vida em algumas palavras.
Suspirei, dando um último soco no saco e sentei, limpando a testa com uma toalha de rosto e tomei uns goles de água da minha garrafa. É difícil tentar agradar alguém que é o seu oposto e quando você não gosta de fazer quase nada do qual ela gosta. E isso me fez pensar em uma coisa. O que nós temos em comum?
Bem, nós adoramos basquete e torcemos pelos Lakers.
Ela adora tocar piano, eu também.
Nós dois adoramos os brownies da minha mãe e os cookies da Rachel.
Acho que só isso.
- Mas que droga, não consigo pensar em nada decente. – pensei alto e dei um tapa em minha testa.
Eu tenho que pensar em algo. Fechei os olhos, cansado, e sequei meu rosto outra vez, deixando a toalha em meu colo. Era uma toalha do Mickey, do Jason, de quando nós fomos a Orlando há uns quatro anos para passar umas semanas no Walt Disney World Resort, e ele comprou.
E um sorriso sapeca surgiu nos meus lábios. Acho que já sei o que fazer com ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Little Angel-2ª Temporada
Fanfic2 Temporada de Little Angel Gente, infelizmente a autora não terminou a fic :(