Ou é uma menina chamada Paulista? Isso, uma garota confusa, agitada, que brilha nas retinas
dos paulistas, dos ecolá aos arigatô. Uma avenida tão dialética que, na hora do rush, as
pessoas que vão a pé andam mais rápido do que as que vão de rodas. Homens, mulheres e
minorias andam sobre seu ventre moreno, cospem em seus poros e excitam seu corpo exposto,
faça chuva, faça sol. Na cabeça, a mentalidade dela: a Sears. Uma menina muito consumista,
cheia de coisas, mas fraca de conteúdo. Nos pés, a decadência, o Ponto 4, mosquito e
mosqueteiro. No centro, bem no centro, ali ó, a região pélvica. O Trianon plumoso, suas babás
sensuais, velhos, bichas, meninos e meninas saindo do Dante, pipocas com cocotas, bobocas
como eu, moços bons para dar uma bola, árvores tão densas que não dá pra jogar bola, cheirar
cola, Coca-cola, Kibon. Tá bom.
É o centro nervoso do capital Brazil (com z). A cidade e sua função. As células são impressas
em Brasília, cheias de demagogia, pensando assim: ó, como somos importantes. Mas é aqui,
mais especificamente na Paulista, que elas são devoradas, selecionadas e guardadas nos
subarranha-céus bancários. Chegam cheias de panca, são trocadas por letras de câmbio,
ações, juros e correção monetária. São Paulo empapela o país. Santos é diferente: traz e
manda. Conhece Santos? Aquele mar marrom com manchas de petróleo brilhando, aquela
areia cinzenta com ossos de galinha e garrafas de cuba-libre vazias. No horizonte, uma
infinidade de navios cargueiros, lado a lado, esperando a oportunidade de desembarcar
contrabandos, marinheiros e suas gonorreias. Ia ser ridículo se o mar fosse azul-claro com
areias brancas, coqueiros e, no fundo, veleiros e jangadas em busca do sol.
Em cada cem habitantes paulistanos, 15 são viciados em fliperama. É a cidade da máquina, do
digital, da tomada. Meninos e meninas, velhos impotentes, a Pauliceia delira apertando
botõezinhos, fazendo a bolinha subir. E ela sobe, derruba um "extra" e sobe outra. Não deixa
ela cair, ô cara, cuidado com o "tilt". Mostre pra máquina que você é mais máquina do que
ela. Na avenida Paulista tem um fliperama gigantesco. É o Diversões Eletrônicas Curso
Objetivo. Só que não tem bolinha, não. É gente, isso, gente que sobe, derruba um "extra" e
desce. Esse "extra" é mais difícil. É a contradição do sistema, onde os felizardos serão os
futuros infelizes desta mal-educada nação, pobre problema que não depende da magia da
avenida. E é com má educação que o paulistano não respeita os black postes da menina.
Todos forrados de cartazes: vende-se, show, luta, eu quero ser alguém. Mas essa sujeira eu até
acho uma boa, e a menina também gosta. O mundo precisa de manifestos, de letras, de
apresentações. Pô, ele nos dá tanto de graça e de inspiração, por que nóis vai ficá parado,