26 {centésimos}

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Um chute em meu braço me faz abrir os olhos em um susto. Não foco em nada. Eu fecho a boca, calando o que quer que eu sussurrava.

Cliff.

Eu.

Eu sussurrava o meu nome.

Não. Não.

Não era o meu nome.

Mas era eu.

O mesmo pé entra debaixo de mim e tenta puxar o pedaço de vidro preso em minhas mãos, inclinado a entrar em minha barriga. Eu o seguro firme, as bordas ameaçando cortar a curva dos dedos.

Ameaçando fincar-se em minhas juntas.

"Se você está tentando se matar, não vai funcionar." Ele fala. Ele. Com sua voz. Sua voz que era doce e grossa. Sua voz que não é sua e que não é mais doce e paciente. "Então trata de fazer essa merda toda mais fácil para nós dois."

Eu seguro o caco firme.

Mas a ponta não me pinica mais a barriga.

Ele não vai tirar o meu escape.

Luke está morto.

E eu irei me encontrar com ele.

Mas se ele está morto, por que eu o ouço ao meu lado?

Você está louco, Cliff.

Eu não sou louco.

Você está louco, Cliff. Não é ele.

Não.

Eu não sou louco.

Eu tenho certeza disso.

Eu tenho absoluta.

Total.

Completa.

Certeza de que não sou louco.

Mas não sei se estou ficando.

Estou fatiando você.

Eu me lembro. Eu me lembro disso.

Eu sonhei com isso?

Mas não foi Luke quem disse.

Não foi.

Luke.

Luke.

Eu não lembro de seu rosto.

Mas eu o vi há pouco tempo.

Eu o vi realmente aqui e aqui.

Aqui.

Dentro da minha memória.

Acalme-se, Cliff. Acalme-se, Cliff.

"Você sempre fica murmurando o seu apelido assim?" Ele fala novamente.

Trebor.

Robert.

Trebor.

"Vai ficar me ignorando, Clifford?"

Clifford.

Cliff.

Clifford.

Eu.

Clifford... O meu nome, talvez?

Não. Não.

Uma mão vai para o meu ombro, fazendo-me virar com força e ficar de barriga para cima. Fria.

pandemonium • muke [c]Onde histórias criam vida. Descubra agora