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Calum Hoodstock.

Calum Hoodstock.

Calum Hoodstock.

Algo me incomoda nesse nome.

Algo ainda me incomoda, dando uma pista de algo.

Algo escondido. Oculto. Entrelinhas.

Algo que eu deveria já saber.

Saber.

Nós, humanos tão perdidos em seus próprios pensamentos, questionando por coisas simples, às vezes nos esquecemos da essência animal que cada um guarda.

Às vezes à sete chaves.

Às vezes em um jarro.

Uma caixa.

Uma caixa da qual todos os demônios escaparam, restando apenas a esperança.

Mito idiota.

Mito idiota.

Mito idiota.

O instinto.

Em passos largos, me jogo dentro do pequeno escritório, ligando o IBM e sentando-me na cadeira frouxa. A mão direita no mouse, batucando e clicando no botão central.

Hoodstock.

Calum.

Hoodstock.

Hood.

Stock.

Algo está errado.

Errado.

Errado.

Errado.

Quando após sete minutos os estrondos da CPU cessam e apenas o chiado da máquina funcionando pode ser ouvido, a tela inicial aparece.

E eu pesquiso na internet 'Calum Hoodstock'.

E algo dentro do meu peito se contorce.

Porque não existe nenhum 'Calum Hoodstock' e sim apenas Hood.

Um jornalista local.

Popular.

Muito bem indicado.

E há um telefone.

Um telefone.

Um número de telefone em um dos links.

E eu o anoto em um papel, esmagando ele em minhas mãos quando levanto e chuto a cadeira que bate na parede oposta.

Não.

Não.

Volto para a cozinha, parando em frente ao telefone e discando os dígitos.

A minha imagem reflete no espelho no final do corredor.

Cabelos loiros.

Olhos verdes.

Não.

Olhos azuis.

Azuis.

Não!

Não!


Azuis.

Minha mão livre agarra-se aos fios curtos, puxando.

Respire.

Respire.

Um.

Dois.

Três.

Quatro.

Cinco toques.

E então ele atende.

Eu lhe pergunto se aquele é o seu nome e ele confirma.

Digo-lhe que quero entrevistá-lo para uma matéria sobre os melhores jornalistas da localidade, pois seus textos são incríveis.

Eu nunca os li, mas seres como ele, tão renomados e acostumados ao sucesso, possuem egos infláveis.

Inflando-os ainda mais com garotos loiros de olhos verdes.

Azuis.

Verdes.

E eu me olho novamente no espelho e engulo em seco, esquecendo-me de respondê-lo por um momento.

"Desculpe-me. Você pode me passar o seu endereço?"

"Claro, mas–" Sua respiração entrecorta. E o meu coração é cortado. "Mas temos que marcar um dia, certo?"

"Por que não hoje?"

A respiração partida novamente, como um ofego.

"Tenho algumas outras coisas agendadas. Tudo bem para você?"

"Claro." Minto. E ele me passa as coordenadas.

E, quando me dou conta, estou do lado de fora da porta.

Enquanto ando depressa até o velho Chevrolet, a vizinha chama por mim.

Não, ela chama por Luke.

Não, por mim.

Eu a ignoro e bato a porta do carro, ajeitando o espelho.

E os azuis refletem.

E, uau, eu provavelmente deveria ter ficado dentro da minha casa naquele dia.

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YOU'RE THE JUDGE, OH NO, SET ME FREEEEEEEEEEEEEEeeeE

Já falei de Cool aqui? Não lembro. PANDEMONIUM TÁ ACABANDO VO MORRE

| juba


pandemonium • muke [c]Onde histórias criam vida. Descubra agora