eyes never closing

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Manu POV

Nunca mais deixo um homem encostar a mão na minha cozinha nem que seja para pegar um copo de água. Acho que minha cabeça vai explodir só de pensar que um cara que eu mal conheço queimou meu forno, encheu meu apartamento de fumaça, e me fez receber uma advertência do síndico sendo que não faz nem vinte e quatro horas que cheguei. Quando termino de gritar e reclamar da falta de responsabilidade entro no meu quarto e me jogo com tudo na cama. Parece que ninguém se importa com o meu sumiço e logo ouço Ísis discutir com eles, até que por fim o barulho vai embora. Puxo a colcha dos meus pés, tomo um remédio para dor de cabeça e acabo dormindo.

- Seu idiota – ouço alguém gritar e me acordar. Olho no relógio e são duas e meia da manhã. Não acredito que estou dormindo desde ás oito da noite. Me espreguiço e vou caminhando devagar até a sala no andar de cima.

Subo as escadas sem fazer barulho e percebo que tudo está escuro exceto pela luz da televisão. No sofá David está deitado embrulhado em todos os cobertores que eu tenho e assistindo a um filme bastante agressivo, digamos assim.

- Pelo menos agora você está completamente vestido – comendo e ele dá um pulo do sofá deixando todos os cobertores caírem. Mais uma vez sem camisa. Rio internamente.

Foram as poucas vezes na vida que vi um homem sem camisa, diria que ele é o segundo, já que com meu primeiro e último namorado quase chegamos lá. Não deu certo por que eu era, e ainda sou, muito insegura. Sinto as bochechas queimarem mas está tudo escuro e dessa vez ele não vai nem notar.

- Eu te odeio por isso e espero que você saiba – ele volta a se deitar e se enrolar nos cobertores

- Tem alguma coisa pra comer? Sem ser doces ou qualquer coisa do tipo – falo me sentando em uma distancia confortável dele

- Você vai ficar assim? – ele aponta para minhas pernas cruzadas e minhas mãos em meus joelhos – Que moça comportada – ele fala e me bate de leve com uma almofada

-Fazendo meu dever – digo sorrindo de lado

- E de madrugada ela está de bom humor – ele sorri e pausa o filme – Pedimos algumas pizzas e Frederich sente cada vez mais ódio de você – ele me entrega uma caixa que estava em seus pés. Abro a mesma vendo o estado deplorável da comida

- Não vai me dizer que nunca comeu pizza também? - ele pergunta irônica e se aproxima

- Eu não morava em uma caverna é só que... tem o que aqui? – pergunto e ele só pega um pedaço e começa a comer. Acho tudo muito estranho e uns dois minutos se passam quando ele começa a rir

- Eu ainda não morri então é confiável. Mesmo que eu nunca goste do que Bernard escolhe, acho que dessa vez ele acertou – ele comenta e eu rio fraco pegando um pedaço

- Que filme é esse e onde estão as outras pessoas? – pergunto com comida na boca

- A moça não é tão educada assim – ele arqueia as sobrancelhas mas não consigo identificar a feição do seu rosto por conta de estar escuro – Ísis dormiu no quarto de visitas, os outros tiveram que ir mais cedo –quando ele termina de falar continua o filme –O filme se chama Tróia – fala com voz de apresentador e rio um pouco alto de mais

Eu já esperava que fosse um filme de ação com pessoas morrendo e coisas explodindo mas não esperava que David interagisse tanto com as personagens.

- PARA ESSE FILME AGORA – grito desesperada quando é mostrada uma escultura de Poseidon

Ele da outro pulo e pausa o filme no mesmo segundo,está desesperado. Mesmo nesse breu consigo ver seu rosto preocupado e começo a gargalhar muito alto. Ele se levanta e pega uma almofada para jogar em mim. Fico em pé na sua frente e mesmo assim não dou metade de seu tamanho. Pego a maior almofada e começamos uma guerra de travesseiros.

- Aaah você não podia ter feito isso Senhorita Manuela – ele fala risonho e me joga no sofá.

David sobe em cima de mim e começa a me bater com a almofada. Começo a rir e quando o ar começa a faltar faço um "oinc". Aqueles barulhos de porco que te deixam com uma vergonha maior que a alma sabe? Ele ri tão alto que me assusto e começo a rir também. Empurro ele no chão com os pés e corro para a cozinha. Pego uma garrafinha de água na geladeira e quando fecho a porta ele está encostado na parede.

- Se eu morrer do coração a culpa é sua – falo quando minha garrafinha é roubada – Pode pegar a garrafa eu não me importo – comento irônica e ele me olha perverso. Lá vem.

- Não é só a garrafa que eu quero pegar – ele fala e consigo encontrar um triplo sentido nisso.

As bochechas queimam mais uma vez e fico com raiva de mim por ter esquecido de que a luz daqui está acesa.Abro a porta da geladeira e enfio a cara lá fingindo procurar comida. Acho um suco de laranja e quando vou colocar no copo ele está subindo as escadas.

- Quer suco de laranja? – grito sem me importar com Ísis estar praticamente do lado. Com as nossas risadas ela já deveria estar mais que acordada. Ouço um não de resposta e coloco só para mim.

Me deito no sofá com a barriga pra cima e, sem prestar atenção no filme, penso no dia de amanhã. Vou começar minha primeira tela e não faço idéia do que colocar, a mente vai mais longe e quando vejo já estou imaginando minha primeira galeria.Fecho os olhos e logo o sono vem.

Tudo está tão quentinho e macio que não quero nunca mais me levantar. Me agarro mais no que quer que seja e escuto um "ai". Pelo que eu saiba travesseiros não falam. Abro os olhos aos poucos e estou agarrada ao braço de David. Ele está deitado nos meus ombros com o braço completamente revirado para trás. Solto na mesma hora morta de vergonha. Esse menino só me faz ficar vermelha?

- Só queria te informar que pelo tanto que você baba vai ter que lavar meu cabelo – sua voz está rouca e seus olhos semi abertos.

Sorrio fraco e saio do meio das cobertas. Não viro meu rosto para ele por motivos óbvios de ter acabado de acordar. Vou para o quarto de hospedes e Ísis não está mais lá. Óbvio que deixou a cama bagunçada. Lavo o rosto e arrumo o cabelo.

- Bom dia – falo encontrando os dois sentados tomando café da manhã

- Por que vocês fazem tanto barulho? – Ísis pergunta quando me sento para tomar um copo de leite

- Quem começou foi ele – me justifico e começo a comer

- Você me deu motivos, não é todo dia que alguém leva dois sustos da mesma pessoa – ele fala e se levanta – Se me permitem. Vou tomar um banho...

- Você ta sabendo que vai ter que limpar sua bagunça na sala né? – digo séria e ele fica desconfiado

- Então você vai ter que lavar meu cabelo – sua voz sai risonha e viro os olhos

- Vou passar a tarde inteira fazendo isso, por que será? – digo e Ísis da uma risadinha baixa

- Te vejo ás três – seus passos são mais largos

- Você ta falando sério? – pergunto indo atrás dele

- Você pareceu bem séria quando falou comigo – quando entra no elevador aponta para os cabelos e a porta se fecha.


Upstairs.- David LuizOnde histórias criam vida. Descubra agora