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Manu POV

Ísis segura e puxa minha cabeça com força ao passar sombra em meus olhos. Estou a quase duas horas sentada sem poder enxergar, minhas pálpebras estão sendo pintadas de marrom mas, com certeza estão vermelhas de dor. Ao invés de sentir a pele do meu rosto, tenho dois quilos de base no lugar. Ela não escuta minhas reclamações incansáveis e continua a me transformar em uma palhaça. Empurro suas mãos quando não estou aguentando mais, ela protesta e diz estar nos pontos finais. No espelho vejo qualquer pessoa, menos eu. Uma pele lisa, sem manchas ou marcas. Passo a mão com cuidado e minha amiga grita de empolgação.

- Tudo dói por um motivo – ela se manifesta orgulhosa – Também por uma razão – conclui encarando o próprio rosto, sinto que tem duplo sentido aí

- O que você quis dizer com isso Ísis Gonçalves? – exclamo preocupada

- Eu naão fiz nada – ela levanta as mãos na defensiva – Só quero que se dê bem essa noite – nos encaramos

- Ai meu Deus – dou um empurrãozinho de leve em seus ombros – Você me pintou para me fazer perder a virgindade? – exclamo decepcionada com nossa amizade

- Não é isso Manu – sua voz é maternal– Você promete que beija pelo menos um? Deixe de ser a boa moça por uma noite –ela me implora – Todas as festas que fomos, você nunca ficava com nenhum garoto, ou ao menos dizia estar interessada – agora está arrumando meu cabelo com cautela

- Relaxa, gosto de homem – digo rindo baixinho e penso no que ela me disse.

Só tive um namorado durante toda a minha vida e digamos que não foi uma relação agradável. Éramos jovens e ele terminou comigo por motivos óbvios, eu não querer transar com ele. Encaro meu reflexo mais uma vez e chego a conclusão de que devo começar a viver.

- Você sabe que não sou acostumada com festas, e principalmente em me jogar para cima dos outros – procuro uma desculpa

- É para isso que existe absinto colega –ela corre para cozinha e volta com a garrafa verde em mãos

- Eu não tomo isso nem morta – dou um passo para trás. Ela faz uma careta e já coloca em um copo com açúcar para me entregar – Ísis, eu já disse que não consigo – advirto

- Por bem ou por mal – ela diz se aproximando e viro os olhos. O que tem de ruim além do gosto?

Viro o copo de uma vez e meu corpo rejeita no mesmo instante. O líquido volta até a garganta e desce novamente. Fecho os olhos com força e começo com as caretas involuntárias. Não é o melhor sentimento do mundo. Ísis ri das minhas caras e bocas e mordo os lábios preocupada com o início dos efeitos colaterais. Começo a colocar meus acessórios da cabeça e pernas e não é uma tarefa fácil. Por que tantos fios , laços, nós, velcros, láminas e detalhes? É só uma fantasia. A porta se abre e nem preciso olhar para trás ao ouvir as vozes de homem.

- Wow – Bernard grita e é seguido pelos outros dois – É uma pena nenhuma de vocês ter dado bola pra mim – dou uma risada abafada e termino com os apetrechos

- Estou armada – digo ficando de frente para eles. Dou uma gargalhada alta ao ver suas fantasias – Bernard você é tão criativo que estou surpresa, nunca imaginei que fosse vestido assim – digo irônica ao vê-lo vestido de jogador de futebol

- Sempre, bela guerreira – ele para em minha frente e beija o dorso de minha mão. Dou um sorriso amarelo e noto que Ísis desapareceu, não deve estar pronta ainda.

David não diz nada desde que entrou e acho estranha toda sua calma. Ele está me olhando cuidadoso e, assim que percebo ele vira a cabeça. Prefiro não me perguntar e me deito no sofá ao ouvir Peanut e Oscar conversarem baixinho.

Upstairs.- David LuizOnde histórias criam vida. Descubra agora