Midnight • [Book One]

Capítulo 2

Uma hora depois, desci as escadas com a mochila nas costas e uma bolsa no ombro.

Mamãe me parou em frente a porta.

- Você está bem?

Como eu poderia estar bem? Franzi o senho com sua pergunta.

- Vou sair. - foi a única resposta que dei a ela. Mais do que eu tinha conseguido dizer sobre vovó. Na ocasião, eu notei o batom vermelho-brilhante que a funerária tinha aplicado nela. Eu quase podia ouvir ela resmungar.

Com esse estranho pensamento, virei-me e olhei mamãe. Ela notou a mochila nas minhas costas e uma ruga de preocupação apareceu entre seus olhos.

- Para onde está indo? - perguntou.

- Você disse que eu poderia passar a noite na casa de Eve. Ou estava ocupada demais queimando a cueca de papai para se lembrar disso?

Ela ignorou totalmente o comentário.

- E o que as duas irão fazer à noite?

- Jack Jamerson vai dar uma festa para para comemorar o fim das aulas. - não que eu tivesse a mínima intenção de me divertir. Graças ao fim do namoro com Luke e agora ao divórcio deles, meu verão tinha parado no vaso sanitário. E do jeito que as coisas estavam indo, sem dúvida alguém passaria por lá e daria a descarga. 

- Os pais dele vão estar em casa? - ela arqueou a sobrancelha.

Não queria mentir, mas ocultar algumas coisas seria preciso.

- Não é lá que sempre estão? - revirei os olhos.

Eu nunca tinha ido a alguma das festas de Jack Jamerson justamente por aquele motivo, era nisso que dava ser tão comportada. Agora eu precisava esfriar um pouco a cabeça. Além do mais, ela também não tinha mentido quando papai perguntou da cueca?

- E se você tiver outro daqueles sonhos? - ela perguntou, tocando meu ombro. Um toquezinho de leve. Era tudo o que ganhava dela nos últimos tempos. 

Respirando fundo, finquei as unhas na alça da bolça.

- Avisei Eve que talvez eu acorde gritando, com sede de sangue. Ela me garantiu que vai cravar um crucifixo de madeira no meu coração e me arrastar de volta pra cama.

- Acho melhor, então, você esconder as estacas antes de dormir. - ela tentava esboçar um sorriso.

- Farei isso. - por um estante, lamentei deixar ela sozinha justamente no dia em que papai foi embora. Bobagem. Ela ficaria bem. Nada abalava a Rainha do Gelo.

Antes de sair, olhei pela janela para me certificar que não seria perseguida pelo cara de farda. Visto que o terreno estava livre, cruzei a porta, esperando que a festa da noite me ajudasse a esquecer tudo de ruim que estava acontecendo na minha vida.

{...}

- Tome. Não precisa beber, é só segurar. - Eve Jetton colocou uma garrafa de cerveja na minha mão, e se afastou.

Dividindo o espaço com pelo menos trinta pessoas que se acotovelavam, todas falando ao mesmo tempo, na pequena sala de Jack Jamerson. Segurei firme a garrafa gelada. Eu conhecia muitas daquelas pessoas, todas da escola.

A campainha soou de novo. Sem dúvida, essa era a festa mais quente da noite. E eu podia apostar que todos os outros alunos pensavam o mesmo.

Jamerson, o veterano cujo os pais pareciam não se importar com nada que ele fizesse, dava algumas das melhores festas da cidade.

Dez minutos depois, ainda sem nenhum sinal de Eve, todo mundo começou a dançar. Pena que eu não estou nem um pouco animada.

Bufando, olhei com desagrado para a garrafa que eu segurava nas mãos.

Não precisei levantar a cabeça para logo sentir o esbarrarão em mim, fazendo com que a cerveja espirrasse no meu peito e descesse pelo decote em V da blusa branca.

- Merda!

- Me desculpe, não foi minha intenção. - apressou-se a dizer o tal desastrado, constrangido.

Encarei os olhos castanhos e calmos de Adam e tentei sorrir. Pensar que eu estava sendo educada com um cara legal, que andava perguntando sobre mim na escola, tornava mais fácil o sorriso. Mas o fato de Adam ser amigo de Luke diminuía muito meu entusiasmo.

- Não foi nada.

- Vou buscar outra pra você. - parecendo nervoso, ele se afastou.

- Não precisa! - gritei, mas em meio à musica e ao alvoroço, ele não ouviu.

De novo, a campainha. Alguns garotos se afastaram e pude ver a porta. Mais especificamente, Luke entrando pela porta. A seu lado - ou grudada nele - vinha a nova namorada, toda exibida.

- Maravilha. - olhei em volta, pensando em como seria bom me teletransportar para o Taiti ou, melhor ainda, para a casa, especialmente se papai estivesse lá. 

XXX

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