Capítulo 3

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Pela janela de trás, avistei Eve no quintal e corri para me juntar a ela. Eve ergueu a cabeça. Devia ter percebido o pânico no meu rosto, já que cheguei rápido demais.

- O que aconteceu?

- Luke e sua piranha estão aqui.

Eve franziu a testa.

- E daí? Vá paquerar alguém para deixá-lo com ciúmes.

Revirei os olhos.

- Não quero ficar vendo Luke e essa vadia se esfregando. - bufei.

- Eles estavam se esfregando? - ela perguntou.

- Ainda não. Mas, quando Luke bebe ele só quer saber de botar a mão nos peitos de uma garota. Sei disso porque fazia o mesmo comigo. - revirei os olhos.

- Não esquenta. - disse Eve, apontando para a mesa. - Ben trouxe vodka. Tome uma e vai se sentir melhor.

Mordi o lábio para não gritar que não ia me sentir melhor. Minha vida estava uns caos.

- Escuta. - continuou - Nós duas sabemos que só o que você tem a fazer para reconquistar Luke é agarrá-lo e ir pra cima com ele. Esse cara ainda te ama. Hoje mesmo perguntou de você quando saíamos da escola.

- Você sabia que ele viria? - a traição começava a abalar a pouca sanidade que ainda me restava.

- Claro que não. Mas relaxa.

Relaxar? Olhei para minha melhor amiga e percebi que as coisas entre nós tinham mudado muito nos últimos seis meses. Não porque Eve, ao contrario de mim, adorasse festas ou tivesse perdido a virgindade. Ok, talvez fosse as duas coisas; mas havia mais.

Eu suspeitava que ela queria me arrastar para festas regadas a muito álcool. Mas para quê, se eu achava que cerveja tinha gosto de xixi de cachorro? E não tinha nenhuma intenção de transar.

Tudo bem, não era bem assim, eu queria transar. Com Luke, eu fiquei tentada, realmente tentada, mas me lembrei a tempo da conversa que eu tivera com Eve, quando decidimos que a primeira vez tinha que ser especial.

Então lembrei que Eve tinha cedido ás "necessidades" de Bradley - Brad, o amor de sua vida - e, depois de duas semanas de pegação, esse grande amor tinha dado no pé. O que havia de tão especial nisso?

Desde então, Eve tinha se envolvido com outros quatro carinhas e transado com dois. Agora, não dizia mais que sexo era especial.

- Ei, sei que está triste por causa dos seus pais. Mas, por isso mesmo, precisa relaxar e se divertir um pouco. - arrumou os longos cabelos castanhos atrás das orelhas. - Vou buscar uma vodka pra você.

Ela foi até a mesa, onde um grupo estava reunido. Andei atrás de Eve, tentando acompanhá-la, mas dei de cara com o soldado Dude, que parecia mais assustador e esquisito que antes, junto ao bando de bebedores de vodka.

Dei meia-volta, me preparando para fugir, mas bati de frente com o peito de um garoto, e mais cerveja, derramada da garrafa, escorreu por entre meus seios.

- Que maravilha! Meus peitos vão ficar com cheiro de cerveja.

- O sonho de todo homem. - disse uma voz masculina. - Mas sinto muito.

Reconheci a voz de Luke antes de ver seus ombros largos e aspirar seu cheiro tipicamente masculino. Ignorando a dor de vê-lo tão perto, levantei os olhos.

- Não foi nada. Adam já fez isso antes.

Me esforcei para não reparar nos cabelos castanhos de Luke caídos sobre a testa, em seus olhos verdes que pareciam me hipnotizar, e em sua boca que me tentava a inclinar e pressionar os lábios contra os dele.

- Então é verdade. - suspirou.

- Como assim? - perguntei.

- Você e Adam estão juntos.

Pensei em mentir. A ideia de fazê-lo sofrer me agradava. Me agradava tanto que me fez lembrar do joguinho idiota que meus pais vinham disputando ultimamente. Ah, não, não irei imitar as criancices deles.

- Não estou com ninguém. - falei, e comecei a me afastar.

Ele me segurou. Aquele toque e o calor daquela mão em meu cotovelo enviaram ondas de agonia diretamente ao meu coração. Tão pertinho dele, seu cheiro bom e masculino me embriagava. Ah, meu Deus, como eu gostava daquele cheiro.

- Soube da sua avó. - ele continuou. - E Eve me contou que seus pais estão pensando em se divorciar. Lamento muito, Chloe.

Senti um nó em minha garganta. Eu estava a ponto de desabar sobre o peito aconchegante de Luke e implorar para que ele me abrasasse. Nada, no momento. Seria melhor que os braços dele em volta de mim; mas então eu vi a garota, o brinquedinho sexual dele, aproximando-se com duas garrafas de cerveja nas mãos. Em menos de cinco minutos, Luke estaria enfiando a mão na calcinha dela. E, observando a blusa curtíssima e a saia minúscula que a garota usava, ele não teria muito trabalho.

- Obrigada. - murmurei.

Caminhei de volta para Eve. Felizmente, o soldado Dude chegou a conclusão de que vodkas não fazem seu gênero e foi embora.

- Tome. - ela disse, tirando a cerveja das minhas mãos e substituindo-a por um copo de vodka.

O copo parecia mais frio do que o normal. Inclinei um pouco e sussurrei:

- Viu por aí, há um minuto, um sujeito esquisito? Fantasiado de militar?

Eve me fitou com um olhar de interrogação.

- Quanto dessa cerveja você já bebeu? - sua gargalhada encheu o ar.

Apertei o copo gelado com mais força. Talvez eu esteja mesmo ficando maluca. Misturar álcool com aquela situação absurda não devia ser uma boa ideia.

{...}

Uma hora mais tarde, quando três policiais de Houston entraram no quintal e puseram todos em fila diante do portão dos fundos, eu ainda tinha a mesma vodka intacta nas mãos.

- Vamos lá, garotada. - um dos policiais falou. - Quanto mais cedo chegarmos na delegacia, mais depressa seus pais aparecerão para levá-los embora.

E foi então que eu não tive mais dúvidas: minha vida havia se tornado de fato uma merda. E alguém tinha dado a descarga. 


XXX


Midnight • [Book One]Onde histórias criam vida. Descubra agora