Capítulo 4

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- Onde está meu pai? - perguntei para mamãe quando ela entrou na delegacia. - Eu chamei meu pai.

Os olhos verdes de mamãe se apertaram um pouco.

- Ele me pediu pra vir.

- Eu queria meu pai. - insisti. Eu precisava dele. Meus olhos arderam em segundos.

Eu precisava de um abraço, precisava de alguém que me entendesse.

- Nem sempre temos tudo o que queremos, principalmente quando... Meus Deus Chloe, como foi fazer isso?

Enxuguei as lágrimas do rosto. O choro saiu mais rápido do que imaginava.

- Eu não fiz nada. Não te contaram? Andei em linha reta pra provar que não estava bêbada. Fiz mais de um teste de equilíbrio e disse o abecedário de trás pra frente. Não fiz nada.

O que é tão difícil de entender nisso?

- Acharam drogas lá. - ela insinuou.

- Não usei drogas.

- E sabe o que não acharam lá, senhorita? - prosseguiu ela, com o dedo em riste. - Pais. Você mentiu pra mim.

Suspirei.

- Talvez eu tenha puxado a você. - falei, ainda remoendo o pensamento de que o papai não tinha ido me buscar. Ele devia saber o quanto eu estava aborrecida. Porque ele não venho?

- O que você quer dizer com isso, Chloe?

- Você disse ao papai que não sabia o que tinha acontecido com a cueca dele. Mas tinha acabado de queimar ela na grelha.

A culpa invadiu seus olhos, ela balançou a cabeça.

- A dra. Day está certa.

- O que minha analista tem a ver com o que aconteceu hoje à noite? - indaguei. - Não vá me dizer que a chamou. Deus do céu, mãe, se ela aparecer aqui, na frente dos meus amigos...

- Não, ela não vai aparecer. Mas não me refiro apenas a esta noite. - respirou fundo. - Não posso fazer isso sozinha.

- Fazer sozinha o quê? - perguntei, sentindo uma sensação ruim no estômago.

- Vou mandá-la para um acampamento de verão.

- Que acampamento? - perguntei apertando a bolça contra o peito. - Não. Não quero ir pra acampamento nenhum.

- O que você quer não interessa. - me empurrou na direção da porta de saída. - Interessa é aquilo que você precisa. É um acampamento pra jovens problemáticos.

Parei estática com o que ela tinha dito. Jovens Problemáticos? Jura?

- Problemáticos? Você pirou de vez? Eu não tenho problemas. - insisti. Bem, não do tipo que um acampamento pudesse resolver. Ir para um lugar desses não traria papai de volta, não faria o soldado Dude sumir e não faria Luke voltar comigo.

- Não tem problemas? Então porque estou aqui nessa delegacia, perto da meia-noite, tirando minha filha de 17 anos da cadeia? Sim, você você irá para o acampamento. Vou fazer sua inscrição amanhã mesmo. Sem discussão.

Não vou. Fiquei repetindo a frase para mim mesma enquanto saíamos da delegacia.

Mamãe podia estar maluca, mas não papai. Ele de maneira nenhuma deixaria que mamãe me enviasse para um acampamento cheio de delinquentes juvenis. Não deixaria.

Ou deixaria?

{...}

Três dias depois, eu estava de mala na mão, no estacionamento da ACM, onde vários ônibus do acampamento recolhiam os delinquentes juvenis. Não podia acreditar que estava ali.

Mamãe tinha conseguido.

E papai tinha deixado.

Eu, que só bebeia dois golinhos de cerveja, que nunca tinha realmente fumado um cigarro - e muito menos um baseado -, estava prestes a ser despachada para um acampamento para adolescentes problemáticos.

Acordei de meus pensamentos quando senti o toque de mamãe no meu braço.

- Acho que estão chamando você.

Não poderia haver um jeito mais rápido dela de se livrar de mim. Evitei o toque, irritada e tão magoada que eu já nem sabia o que fazer. Tinha pedido, implorado, chorado e nada funcionou. Iria para o acampamento.

Um absurdo, mas eu não tinha outra escolha.

Sem dizer um palavra pra mamãe e prometendo a mim mesma que não choraria na frente de tantas pessoas, endireitei o corpo e caminhei para o ônibus atrás da mulher que empunhava uma placa onde se lia: ACAMPAMENTO SHADOW FALLS.

Droga. Para que tipo de buraco eu estava sendo levada?

Quando entrei no ônibus, os oito ou nove adolescentes que já estavam lá ergueram a cabeça e me olharam imediatamente. Senti uma coisa estranha no peito e os calafrios surgiram novamente.

Nunca quis tanto dar meia-volta e sair correndo. Fiz um esforço para me conter e encarei.

Meu Deus, o que era aquilo?

Uma garota com cabelos de três cores diferentes: rosa, preto e verde-limão. Outra só usava preto - batom preto, sombra preta, calça preta e sua camisa era de mangas compridas, preta. O estilo gótico não tinha saído de moda?

E havia o carinha sentado bem na frente do ônibus. Tinha piercings nas duas sobrancelhas. Olhei pra janela pra ver se mamãe ainda estava lá. Sem dúvida se ela lançasse um olhar para aquelas pessoas, ela saberia que eu estava no indo para o lugar errado.

- Sente-se. - disse alguém atrás de mim.

Virei e vi que até a motorista ali era esquisita. Seus cabelos grisalhos tingidos de violeta parecia um capacete de futebol americano. A mulher era baixinha. Nanica vamos dizer. Olhei para meus pés, quase esperando dar de cara com botas de duende. Olhei para frente do ônibus, como aquela mulherzinha conseguia dirigir?

- Vamos, vamos. - ela disse. - Tenho que deixar vocês lá na hora do almoço portanto vá andando.

Como todos os outros já estavam sentados, supus que a mulher estivesse falando comigo. Dei alguns passos pelo corredor do ônibus, sentindo que minha vida jamais seria a mesma.

- Pode se sentar aqui comigo. - disse uma voz.

O garoto tinha cabelos castanhos lisos, mas seus olhos eram tão escuros que pareciam pretos. E várias tatuagens em seus braços. Ele deu um tapinha no assento que se encontrava vazio ao seu lado. Tentei não olhar muito, mas aquela estranha combinação de castanho escuro era irresistível. Então ele arqueou as sobrancelhas como se o fato de eu me sentar ao seu lado significasse que poderíamos transar ou coisa parecida.

- Obrigada. - dei mai uns passos, arrastando a mala, que se prendeu na fileira de assentos onde estava o garoto. Me virei para puxa-la.

Meu olhar cruzou com o dele novamente, e contive a respiração. O garoto agora tinha olhos verdes. Olhos verdes brilhantes, muito brilhantes. Como aquilo era possível?

Engoli em seco e observei as mãos dele. Talvez estivesse segurando uma caixinha de lentes de contato, que acabara de trocar.

Nenhuma caixinha.

Ele arqueou de novo as sobrancelhas e, quando percebi que estava olhando para ele, procurei me apresar e desprender logo a mala.

Passando o calafrio, segui para o assento que eu tinha escolhido. Antes de me sentar, notei outro garoto atrás, sozinho. Esse tinha cabelos castanhos, e seus cachos eram bem notáveis, já que eles encostavam no topo de seu ombro. E seus olhos eram de um tom claro de verde.

Olhos verdes normais, mas a camiseta que ele usava os realçava. E suas tatuagens eram visíveis a qualquer um. 

Acenou com a cabeça para mim. Nada de muito esquisito, graças a Deus. Pelo menos havia uma pessoa normal dentro daquele ônibus.


XXX

Uhh... Quem será que são eles? Hm? :p


Midnight • [Book One]Onde histórias criam vida. Descubra agora